Um simples muro caiado, mas que parece ter vida, na visão do poeta 

Um jovem com a cabeça em chamas: Pedro Militão Kilkerry - EVIDENCIE-SE

Kilkerry era um inovador da poesia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta baiano Pedro Militão Kilkerry (1885-1917), através do soneto “O Muro”, descreve uma visão da realidade, embora não no sentido visual, mas o que seria invisível aos olhos ou diferentes formas de olhar sobre o mesmo mundo, de forma a mostrar aquilo que não se vê.

O MURO
Pedro Kilkerry

Movendo os pés doirados, lentamente,
Horas brancas lá vão, de amor e rosas
As impalpáveis formas, no ar, cheirosas…
Sombras, sombras que são da alma doente!

E eu, magro, espio… e um muro, magro, em frente
Abrindo à tarde as órbitas musgosas
— Vazias? Menos do que misteriosas —
Pestaneja, estremece… O muro sente!

E que cheiro que sai dos nervos dele,
Embora o caio roído, cor de brasa,
E lhe doa talvez aquela pele!

Mas um prazer ao sofrimento causa…
Pois o ramo em que o vento à dor lhe impele
É onde a volúpia está de uma asa e outra asa… 

2 thoughts on “Um simples muro caiado, mas que parece ter vida, na visão do poeta 

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