Por que não ocorreu uma convergência política para o centro nos Estados Unidos?

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Marcus André Melo
Folha

A polarização política nos EUA vem desafiando o conhecimento acumulado na ciência política. No pós-guerra, a tendência nas democracias foi de formação de partidos cada vez mais fluidos programaticamente e com uma base social mais ampla (catch-all parties).

Isto resultou em uma convergência ideológica em direção ao centro (a rigor, a mediana da distribuição de preferências). Neste contexto, a disputa política tende a se concentrar nos eleitores voláteis que exibem baixa lealdade política e menor identificação partidária (swing voters).

VOTO DISTRITAL – Essa tendência é mais forte nos países onde se adota o voto distrital, que leva ao bipartidarismo; por efeito mecânico (os partidos menores não adquirem representação), e estratégico (o eleitor desses partidos acaba não votando na sua primeira preferência), optando por um dos dois polos (voto útil).

Por isso, a representação proporcional que estimula o voto sincero, na primeira preferência, foi associada à ascensão do nazismo e do fascismo.

Nos últimos 30 anos o cenário mudou. O eleitor volátil desapareceu. Há evidências empíricas que nos EUA os dois partidos se afastaram da mediana (desvio maior no Partido Republicano); e que os parlamentares são cada vez mais extremistas que os eleitores.

TRÊS EXPLICAÇÕES – Por que não há convergência? Há pelo menos três explicações rivais na ciência política. A primeira é que houve uma crescente sobreposição entre identidades sociais e escolha partidária.

Crescentemente os partidos tornaram-se homogêneos em características sociodemográficas (religião, etnia etc.). A superidentidade resultante enseja crescente polarização afetiva, tribal, sem correspondência clara com divergência em termos de opções de política pública.

A segunda opção é que nos EUA a política tornou-se mais competitiva a partir dos anos 1980. Até então, o Congresso era dominado pelos democratas. A margem de vitória nas eleições presidenciais se reduziu. As maiorias têm sido crescentemente instáveis, como demonstrou Francis Lee em “Insecure majorities”, criando incentivos para “campanhas perpétuas”. Denúncias e ataques vitriólicos podem garantir a vitória em eleições apertadas.

BASE INFLUENTE – A terceira explicação centra-se na estrutura interna dos partidos. Até a década de 1970, o processo decisório nos partidos americanos era controlado por elites partidárias.

Com a generalização das primárias nas últimas décadas, as bases partidárias e doadores passaram a ter influência crescente na seleção de candidatos. Suas preferências são desviantes em relação à mediana dos eleitores.

Como resultado, o processo de seleção exibe um viés extremista em relação ao eleitorado de cada sigla.

5 thoughts on “Por que não ocorreu uma convergência política para o centro nos Estados Unidos?

  1. Peguei uma palavra que há muito tempo não tinha visto, se aplica às caçadas aos bolsonaristas.
    “Denúncias e ataques vitriólicos podem garantir a vitória em eleições apertadas”.
    Bibas e piriguetes gostam de jogar vitríolo na cara dos desafetos. Esse vitríolo é tal que ácido sulfúrico, corrosivo, cabe aos enxofrados.
    Facada, tiro na orelha, e por aí vai
    Berzoine já deu vários coices d porco na estória…

  2. O jornalismo morreu faz tempo

    O que nasceu no lugar foi isso que está ai..

    Suspeito..??

    “…Suspeito de atirar contra Trump pediu folga no trabalho no dia do atentado…”

  3. Bora, Tio Bidê, vamos prá praça jogar dominó….

    Chega….pega o boné e diga as palavras mágicas….

    “…Adam Schiff, um dos democratas mais influentes, pede que Biden desista da candidatura…”

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