Pedro do Coutto
O discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no plenário da ONU revela que a ofensiva contra o Hezbollah nas terras do Líbano vai se aprofundar ainda mais, causando mortes e destruição. Netanyahu discursou nesta sexta-feira e disse que seu país “está vencendo”.
Quando subiu ao palco no plenário das Nações Unidas, um grande número de delegações pôde ser visto saindo do salão. Vaias também podiam ser ouvidas quando Netanyahu se aproximou do púlpito. “Decidi vir aqui e esclarecer as coisas”, disse Netanyahu em seu discurso de abertura, dizendo que queria se defender das “mentiras e calúnias” que ouviu. Netanyahu discursou enquanto Israel continuava a atacar alvos do Hezbollah no sul do Líbano, em meio a temores de que os ataques pudessem se transformar em uma guerra regional total.
AMEAÇA – Em seu discurso, ele também tentou jogar a culpa pelo conflito no arqui-inimigo de Israel, o Irã. Ele disse que Israel estava se defendendo contra Teerã em sete frentes. “Não há lugar no Irã que o longo braço de Israel não possa alcançar. E isso é verdade para todo o Oriente Médio. Longe de serem cordeiros levados ao matadouro, os soldados israelenses lutaram com uma coragem incrível”, disse Netanyahu.
Por determinação do Itamaraty, a Missão do Brasil na ONU não acompanhou o discurso do primeiro-ministro de Israel durante a Assembleia Geral. A comitiva brasileira se retirou antes de que Netanyahu fosse chamado, como uma forma de protesto. Israel trava uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza há quase um ano e, desde a semana passada, começou a bombardear o Líbano em conflitos contra o Hezbollah. Mais de 700 pessoas já morreram nos ataques.
SAÍDA – O ato da diplomacia brasileira foi anterior à retirada em massa de outras delegações, em maioria de países árabes, quando Netanyahu foi chamado pelo presidente da sessão. A intenção era fazer uma saída discreta, o que, na diplomacia, é um ato de protesto leve a algum país; neste caso, a Israel. O Itamaraty disse que quis fazer o protesto por conta da morte de dois brasileiros nos ataques do Líbano e da crise humanitária na Faixa de Gaza.
O governo brasileiro disse que o motivo da ausência foi “a resposta desproporcional de Israel” aos ataques terroristas do Hamas em outubro de 2023, em que o grupo terrorista palestino matou cerca de 1.200 pessoas no sul do território israelense e sequestrou cerca de 250 pessoas. Desde então, Israel lançou uma ofensiva militar em Gaza que já deixou mais de 40 mil mortos – entre eles muitas crianças e mulheres.
A relação entre os governos brasileiro e israelense já não estava boa. Em fevereiro, Israel declarou Lula como “persona non grata” após o presidente comparar a morte de palestinos na Faixa de Gaza com o Holocausto. A escalada, portanto, aumentou e Netanyahu disse que “não tem opção”, a não ser destruir as bases do Hezbollah. Os ataques são vistos com grande preocupação internacional. É incrível como a guerra atrai determinados líderes políticos, mesmo afetando diretamente a vida de milhares de pessoas, inclusive daqueles que nada têm a ver com os confrontos. .