Marcelo Coelho
Poder360
Uma esquerda que aplaude e chora ao mesmo tempo; sacrifica-se o ideal de democracia, direitos humanos e de luta social. O mundo todo viu na TV as multidões que comemoravam, na Síria, a queda do ditador Bashar al-Assad. De particular interesse para os brasileiros, apareceram as imagens dos incontáveis familiares de mortos e desaparecidos, procurando notícias das vítimas de tortura no que restou das prisões do regime.
Pilhas de documentos eram remexidas no chão; demoliram-se paredes em busca de calabouços secretos, onde alguns sobreviventes poderiam estar ainda.
CRIMES HORRENDOS – Surgem, a cada dia, novas notícias da dimensão monstruosa a que chegaram os crimes de al-Assad. Num subúrbio de Damasco, leio no Financial Times, as crianças estão acostumadas a encontrar mandíbulas humanas nos terrenos baldios em que brincam.
Sim, houve uma guerra civil também – e o Exército Islâmico era ainda mais criminoso do que os seguidores de al-Assad.
Mas, no subúrbio de Tadamon, as jornalistas Raya Jalabi e Sarah Dadduch encontraram, ainda presas no teto de edifícios, as cordas usadas em enforcamentos; sentiram o odor dos cadáveres e viram pilhas de roupas ensanguentadas pelo chão.
E O FUTURO? – O Exército islâmico foi derrotado em 2017. Cadáveres de oposicionistas e rebeldes continuaram a ser despejados em Tadamon até que al-Assad finalmente fugisse do país.
Claro que ninguém pode saber que tipo de sistema irá substituir a ditadura de al-Assad. Algum compromisso entre as diversas etnias e facções? A predominância de fundamentalistas islâmicos? Mais guerra civil?
É impossível avançar qualquer prognóstico. O espantoso, entretanto, é que alguns setores de esquerda já estejam julgando os acontecimentos – e de forma negativa.
DERROTA ÁRABE – Um intelectual muito respeitado nos países de língua inglesa, e já traduzido no Brasil, suspira com tristeza. A queda de al-Assad, escreve Tariq Ali, “é uma grande derrota para o mundo árabe”.
O renomado colaborador da New Left Review compara o fim do regime sírio a um “mini-1967”, aludindo à fulminante vitória israelense contra o Egito e israelense contra o Egito e seus aliados na chamada Guerra dos 6 Dias. Não se trata, portanto, de boa notícia para Tariq Ali.
Como se sabe, a ditadura síria funcionava como um canal de ligação entre os xiitas do Irã e os combatentes do Hezbollah no Líbano; tratava-se, então, de uma força em prol da resistência palestina; e assim, “logicamente”, a queda de al-Assad – prejudicando Hamas, Hezbollah e Irã – é séria derrota para o “mundo árabe”.
VÍCIO INTELECTUAL -Claro que Tariq Ali faz a ressalva: não derrama lágrimas pelo ditador. Sim, é verdade que ele condena as brutalidades do regime.
O problema, na minha opinião, é que com isso se repete uma espécie de vício intelectual que vem se tornando comuníssimo em setores da esquerda. Trata-se de um pensamento duplo. O sujeito diz:
“Não sou a favor de ditaduras, mas a queda dessa ditadura é uma péssima notícia”. Tariq Ali não derrama lágrimas por al-Assad. Mas na prática está derramando, sim. É muito diferente de dizer: “Não sou a favor da ditadura X, mas o que veio em seguida foi muito pior”. Aí, estamos comparando dois males, sem apoiar ninguém.
“UMA TRAGÉDIA” – E é muito mais grave dizer que “a queda da ditadura X é uma tragédia”, sem nem mesmo saber o que virá em seguida.
Essa é a atitude de Tariq Ali, e de tantos esquerdistas simpatizantes de ditaduras sanguinárias. Pois a certeza deles não é que a derrota de um ditador “simpático” pode trazer alguma esperança democrática.
A certeza deles é que a derrota do ditador “simpático” significa vitória para os Estados Unidos e, no caso, Israel.
“Não sou a favor de Putin, mas… torço para que as democracias europeias que apoiam a Ucrânia terminem quebrando a cara.”
OUTRO EXEMPLO – “Concordo que existe uma ditadura na Nicarágua, mas se ela acabar isso será uma vitória americana, e isso sim é que seria uma tragédia.”
Com isso, sacrifica-se a meu ver todo ideal de democracia, de direitos humanos, de luta em prol dos torturados e desaparecidos. Aceita-se tudo, desde que os Estados Unidos percam, e que o Irã, a Coreia do Norte, a Rússia e a China, continuem fortalecidos.
Não consigo entender como, ao mesmo tempo, esse tipo de esquerdista ainda se considera democrático. De resto, nessa simpatia por Putin, ao menos, os que detestam o imperialismo norte-americano logo vão encontrar um valioso aliado: seu nome é Donald Trump. Não demorará muito para que parte da esquerda comece a elogiá-lo também.
É a democracia deles, democracia relativa. Democracia para eles é roubar e não ser preso, bandidos, são vítimas da sociedade
Tudo conforme o conhecido e esperado.
Nada novo sob o sol.
Quenianos vencem a São Silvestre.
Brasileiro fica em terceiro…
Só não concordo com a última frase.
Ocasionalmente o editor acerta um direto no fígado da esquerda.
Fico pasmo quando nossos esquerdistas se dizem abismados, sequelados pelo regime militar no Brasil, fazem até filme choramingas sobre as tremendas atrocidades, quanto as atrocidades na Síria, nada de sequela ou sofrimento, o ditador era boa gente.
A esquerda sabe sofrer pelas boas ditaduras delas que se acabam.
Fico imaginado o sofrimento dos nossos jornalistas d esquerda fundeados no Globo, Folha e Estadão, eu tinha uma lista com o nome deles, perdi e não vou procurar mais, não vou gastar vela boa com defunto ruim.
Quando Trump foi eleito uma delas fez cara de choro, e um outro teve que ser socorrido pelo colega que viu o Guga quase soluçar.
Fico imaginando que tipo de espírito anima uma figura dessas, uns sentem o prazer mórbido e ver algum infortúnio de Israel.
No dizer de Limongi, “quando arremetem as quatro patas” no Estado de Israel
Narrativa comum a qualquer ideologia, é 2025, vamos acordar!