Até que ponto o excesso de bravatas de Trump significaria insanidade?

Opiniao 1901 - (crédito: Caio Gomez)

Charge do Caio Gomez (Correio Braziliense)

Marcus André Melo
Folha

Em “The Art of the Deal” (“A Arte da Negociação”), Donald Trump afirma que: “a chave final para a maneira como eu consigo as coisas é a bravata. Eu jogo com as fantasias das pessoas. Elas nem sempre pensam grande, mas ainda podem se entusiasmar muito com aqueles que pensam. É por isso que um pouco de hipérbole nunca faz mal. As pessoas querem acreditar que algo é o maior, o melhor e o mais espetacular. Eu chamo isso de hipérbole verdadeira. É uma forma inocente de exagero — e uma forma muito eficaz de se conseguir o que quer”.

Escrito há duas décadas, o livro nos dá a chave para propostas desvairadas como a aquisição da Groenlândia e retomada do canal do Panamá. São bravatas. Que elas tenham funcionado é o que merece nossa atenção. A eficácia do discurso populista funda-se em larga medida na política da autenticidade. Bravatas antissistema e “exageros inocentes” não são dissimulados; caracterizariam os autênticos.

FORTES RESTRIÇÕES – Obviamente Trump não atua em um vazio institucional; pelo contrário, opera em um ambiente institucional com fortes restrições. Mas, por uma combinação de circunstâncias, tais restrições nunca foram tão débeis:

Trump conta com maiorias nas duas casas do Congresso (embora por pequena margem no Senado). E também na Suprema Corte.

O Poder Executivo nos EUA é, em termos comparativos, inusitadamente fraco — algo que escapa ao público leigo que assiste ao strongman assinando ordens executivas. O presidente não pode apresentar projetos de leis (sim, não existem PLs do Poder Executivo), nem detém iniciativa exclusiva de matéria orçamentária, tributária ou administrativa.

OUTRAS IMPOSIÇÕES – O Orçamento é globalmente impositivo e o presidente não pode contingenciar despesas sem autorização expressa do Poder Legislativo (ou seja, não pode deixar de executar gastos).

O Poder Legislativo pode aumentar o gasto global da lei orçamentária; e se o Orçamento não for votado, há paralisação (shutdown) do governo (não prevalece a proposta do Executivo nem a execução mês a mês do Orçamento do ano anterior como na maioria dos países); etc.

Muitas das restrições acima dizem respeito a limitações impostas pelo Poder Legislativo. Entretanto, o sistema conta com outras defesas. Em dois anos haverá eleições legislativas onde poderão ocorrer reviravoltas e essas maiorias desaparecerem.

MAIS CONTINGÊNCIAS – As agências reguladoras são muito ativas e independentes. Mais importante: o federalismo robusto dos EUA representa uma separação vertical de poderes. Muitas das propostas de Trump já foram contestadas pelos estados e muito provavelmente serão derrubadas.

Mas as derrubadas não importam para o autor de “hipérboles verdadeiras” em série: ele ganha mesmo perdendo. As iniciativas vetadas, sobretudo as mais estapafúrdias, sinalizam sua autenticidade e a “reação nefasta do sistema”.

FRUSTRAÇÃO – O presidente Donald Trump reclama que existam tantas restrições à sua autonomia administrativa.

Diz ele: “Você sabe, a coisa mais triste é que, por ser o presidente dos EUA, eu não devo me envolver com o Departamento de Justiça. Eu não devo me envolver com o F.B.I. Eu não devo fazer o tipo de coisa que adoraria estar fazendo. E isso me deixa muito frustrado.”

Trump tem consciência dos limites, mas as bravatas e suas ações unilaterais são seu modus operandi e causam grande estresse na democracia americana. O tiro pode sair pela culatra.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente artigo, que mostra as limitações do pseudo todo-poderoso Donald Trump. Mais para a frente, vamos saber exatamente o que é bravata e o que passa a ser insanidade. Até porque todo excesso de bravata representa uma insanidade. (C.N.)

12 thoughts on “Até que ponto o excesso de bravatas de Trump significaria insanidade?

  1. Bom , caro editor. A título de sugestão, apenas, recomendo não embarcar nessa canoa dos pseudos jornalistas/ analistas dessa midia amestrada. Trump não está a ” passear no parque”, se é que me entendes. Abraços.

  2. Biden governava placidamente, salvo alguns esperneios dos americanofóbicos, de praxe (Estados Unidos está quebrando, vai falir, etc) e lá ia o enterro capengando mas ia.
    Bastou um conservador assumir o poder que abriram as comportas do inferno e soltaram a Besta do Apocalipse.
    O volume de opiniões nefastas sobre ele é tanta que dá para desconfiar que quase tudo é mutreta, é mera opinião baseada em ideologia com prazo de validade vencida.
    Venceu com a queda do muro de Berlim.

  3. Interessante como por aqui, “progressistas”, defensores de ditaduras nedievais e reacionárias, estejam perdendo os cabelos pela ascenção do “nazi-facismo” nos EUA (kkkk), como expresso pelo Rei da Democracia Relativa, Lules.

    Em nossos tristes trópicos a defesa da Democracia a coloca, efetivamente, em risco. Passam por cima das leis, censuram, prendem e arrembetam “in nomine dei”.

    Vade retro satanas patrimonialistas!

  4. O “Zé” lá da Colômbia, já abriu as pernas. Vai até mandar seus aviões para buscar a sua galera que o Tio Sam esta mandando embora.
    Não adianta, contra a força não há resistência.
    A esquerda inconformada, deveria era sugerir ao Trump que despeje os indesejáveis nos paraísos socialista, que existem vários pelo mundo.
    Mas o diabo é que a “galera” só quer ir para o “inferno capitalista”, assim até o diabo passa a chiar.

  5. BRASIL, SÉCULO XXI, O POVO CONTINUA CHEGANDO ACORRENTADO! JESUS CRISTO, ‘’VOCÊ AINDA ESTÁ AQUI’’? Nos dilúvios Brasil afora muitos continuam morrendo como nos tempos de Gilgamesh e Noé! Uma mulher estava sendo tragada numa avenida pelas águas da chuva ‘’direto pra galeria’’, mas foi salva por várias pessoas que a puxaram para a calçada; ela garante que foi ‘’Deus’’ que enviou aqueles anjos humanos! Infelizmente, Jesus Cristo e o Espírito Santo não puderam salvar várias pessoas levadas pelas águas de um batizado; João Batista exagerou na dose! Essa é a trilionésima vez que as mídias modernas e atuais provam que os deuses jamais existiram, mas o povinho analfabeto, supersticioso, conservador, teocrático, terraplanista, geocentrista, insiste. As castas escravistas brasileiras e a grande mídia conservadora e não conservadora, oportunista, adoram que filhos de escravos continuem lavando as escadarias dos templos cristãos! Há 500 anos o povo escravizado pelos cristão comunistas e cristãos nazistas supremacistas brancos está chegando acorrentado no Brasil. Agora melhorou um pouquinho graças à tecnociência aeronáutica; todavia, o calor desses espaços escravistas continua o mesmo! A propósito, daqui há 50 anos as aeronaves de hoje vão ser consideradas como da Idade dos trogloditas ou neandertales! Não entendo como alguém coloca toda a família dentro dessas geringonças ainda muito primitivas! Jeová, Jesus Cristo, Espírito Santo, deem um pulinho aqui na Terra, pelo menos uma visitinha rápida de cortesia aos 2 bilhões de fieis seguidores e adoradores! Os cientistas, os ateus, os céticos, os ‘’seculares’’, etc., têm umas perguntinhas a lhe fazer! Perguntar não ofende, né? Podemos até dar uma ‘’oiada’’ na Shopee! Óia na Shopeeee! LUÍS CARLOS BALREIRA. PRESIDENTE MUNDIAL DA LEGIÃO CIENTÍFICA BRASILEIRA.

  6. “Abrolhos!”
    “Matar o bicho

    Este é um processo usado pelos beberrões há mais de quatro séculos para tomar de vez em quando o seu gole de bebida forte.

    Inicialmente, e até bem pouco tempo, o pretexto medicinal rezava que um gole de bebida alcoólica de alto teor, ingerida pela manhã em jejum, surpreende o bicho que deve existir dentro do beberrão, combatendo-o.

    A história de Madame La Vernade, filha de um general francês, que morreu em 1519 e que tinha um verme atravessado no coração, resistindo a todos os tóxicos, parece ter dado início a esta crença, que mais parece uma desculpa.

    Conta-se que Madame La Vernade, falecendo subitamente, foi autopsiada, tendo-se encontrado tal verme atravessado em seu coração. Não morrendo com aplicação de todos os tóxicos disponíveis, os médicos embeberam um pedaço de pão em vinho forte, colocando sobre o pão umedecido o resistente verme. Foi o suficiente para que ele morresse imediatamente.

    A partir de então, os médicos passaram a aconselhar que se quebrasse o jejum com pão e vinho.

    Os beberrões, no entanto, não se contentaram com o pão e o vinho. Começaram a tomar bebida mais forte e, depois, aboliram o pão. Atualmente, mata-se o bicho a qualquer hora, e o vinho foi substituído pela cachaça, de preferência a 51, propulsora de mais de mil bravateiras promessas e mentirasl

    • Dois meses que não tomo bebida alcoólica, descanso do fígado.
      Minha frase lá do X era, só não tomo acetona para não tirar o esmalte do dente.
      Hehehe.

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