STF não sabe o que fazer com redes sociais, mas Moraes finge que sabe

Preocupante ativismo do STF - INFORMA PARAÍBA

Charge do Zappa (Arquivo Google)

Carlos Newton

Toda essa confusão com as big techs, que já envolve o presidente americano Donald Trump e os megaempresários Elon Musk, Mark Zuckerberg e Bill Gates, que almoçou com Trump essa semana, é derivada de um fato singular – o Supremo Tribunal Federal iniciou no final do ano passado o julgamento do Marco Civil da Internet, que discute a responsabilização das redes sociais por conteúdos indevidos publicados pelos usuários.

Há três votos para ampliar as hipóteses de punição das plataformas, mas o julgamento parou. Os outros oito ministros não sabem o que fazer, porque o problema ocorre no mundo inteiro e até agora nenhum país deu solução.

ENORME CONFUSÃO – Ninguém sabe o que fazer. Mas o ministro Alexandre de Moraes finge que sabe, criou essa enorme confusão internacional, não aprendeu o que significa voltar atrás quando se está errado.

Assim, continua propondo (e determinando, sem haver lei) a responsabilização criminal das redes sociais, que vem sendo defendida entusiasticamente por integrantes do governo e pelo próprio Lula, que também não entendem o que isso significa.

Ao dar pitaco no assunto, o amante Lula elogiou o ministro ao discursar no Planalto nesta quarta-feira e causou uma ovação que Moraes decididamente não merece, muito pelo contrário.

MENTIRA DA GLOBO – Embora a Organização Globo insista nisso, não é verdade que a União Europeia e o Reino Unido já responsabilizem as redes sociais e pelos conteúdos que publicam.

A regra usada é “notice and take down” — “notificar e remover”. Funciona assim: os usuários denunciam qualquer tipo de conteúdo ilegal publicado nas redes – pornografia infantil, mensagens racistas, discurso de ódio, fake news e violações de difamação, injúria e calúnia.

 Uma vez notificada, a plataforma é obrigada a avaliar cada caso e decidir se exclui ou não o conteúdo denunciado. E o usuário pode apelar da decisão da plataforma e não há responsabilização criminal dela.

MORAES EXTRAPOLA – O tribunal secreto a que Zuckerberg se refere chama-se Moraes, e o problema só existe porque o ministro extrapola. É ele que manda remover o conteúdo, não dá direito de defesa e pune a plataforma, multando e até retirando do ar, algo que não existe em nenhum país democrático e só acontece na China, na Rússia, em Cuba, na Nicarágua, no Vietnã, no Irã,no Afeganistão etc.

Lula, que se diz “amante da democracia” sem saber o que isso significa, está transformando Moraes num herói nacional sem merecimento.

Quem pode resolver o imbróglio é o Supremo, que deveria reanalisar o Marco Civil da Internet, tirar o Brasil da lixeira da censura e recolocá-lo entre as maiores democracias do mundo. Mas quem se interessa?

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P.S.
A imprensa está fazendo um papel sujo nesse episódio institucional. Ao invés de aplaudir falsas patriotadas infantis, a mídia deveria explicar o que realmente está acontecendo com a censura e o tal tribunal secreto. Mas nada pode fazer, porque se arriscaria a perder as verbas publicitárias. (C.N.)  

MP pede ao TCU investigações sobre supersalários do Poder Judiciário

Procurador pede ao TCU suspensão de benefícios aprovados para juízes

Lucas Furtado luta sempre em favor do interesse público

Weslley Galzo
Estadão

O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, apresentou nesta quinta-feira, dia 9, uma representação na qual pede que seja investigada a concessão de benefícios e vantagens remuneratórios – os chamados penduricalhos – a juízes, ministros e desembargadores em valores acima do teto salarial do funcionalismo público.

O documento expõe uma série de manobras recentes de tribunais para ampliar os vencimentos dos magistrados por meio da aprovação da conversão de verbas remuneratórias, que devem respeitar o teto constitucional, em valores indenizatórios que fogem dessa regra.

FARRA DO BOI – O Estadão mostrou, no início deste mês, que benefícios como o quinquênio (adicional por tempo de serviço), as licenças compensatórias, a gratificação por acúmulo de função e a licença-prêmio, pagos de uma só vez, podem gerar um adicional equivalente a R$ 220 mil ao salário de um juiz que ganha R$ 39 mil.

Esse cenário mostrado pelo Estadão, que leva um magistrado a ganhar cinco vezes mais do que o limite imposto pelo teto constitucional, foi mencionado na representação do MP do TCU.

Em outro caso semelhante denunciado pelo MPTCU, os ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Tribunal Superior do Trabalho (TST) aprovaram a volta do quinquênio por via administrativa.

IMORALIDADES – “Verifico que novas formas de concessão de aumentos remuneratórios e juízes, desembargadores e ministros de Tribunais Superiores seguem sendo aprovadas, não apenas comprometendo significativamente as finanças públicas, mas também atingindo diretamente os princípios basilares da moralidade e da legalidade”, afirmou o subprocurador.

Na avaliação do MP do TCU, os “órgãos do Poder Judiciário podem estar se valendo de manobras para que, ao final, membros sejam beneficiados com vantagens e benefícios acima do teto remuneratório”.

A representação foi encaminhada ao presidente do TCU, Vital do Rêgo, que deve deliberar em conjunto com os demais ministros se as denúncias serão investigadas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É preciso chamar atenção para o comportamento exemplar do procurador Lucas Furtado, sempre atento ao interesse público. Sua atuação no TCU, embora encontre resistência entre os ministros, é uma demonstração de que no Brasil as leis existem e são corretas, mas a cúpula dos tribunais está corrompida e trabalha no sentido de interpretar as leis de acordo com suas conveniências. Como dizia Vinicius de Moraes, se todos fossem como Lucas Furtado, que maravilha viver! E este país já seria uma grande potência. (C.N.)

Três dias depois de Lula exaltar a democracia, o PT festeja Maduro…

Membros do PT e MST participam da posse de Maduro

A posse de Maduro foi prestigiada pelo PT e pelo MST

Dora Kramer
Folha

É difícil compreender o que quis dizer o presidente da República em sua nova estratégia de comunicação ao patrocinar um ato estreito na praça dos Três Poderes para marcar a passagem dos idos de 8 de janeiro de 2023.

Bandeiras vermelhas, convocação dos movimentos da base social do governo, um abraço na democracia escrita em flores, com as ausências significativas dos que não foram à cerimônia de pouco antes no palácio e outros que lá estavam, mas não desceram a rampa porque o ritual tinha um lado marcado.

FESTA DA ESQUERDA – Era uma festa da esquerda, assim foi dito e assim foi feito numa apropriação indevida do que ali deveria se assinalar: a celebração da resistência democrático/institucional, valor pertencente a todos os brasileiros.

Quase a totalidade (86%) havia acabado de registrar em pesquisa do instituto Quaest seu repúdio ao motim, guiados não por preferências ideológicas e/ou eleitorais, mas pela consciência de ser esse o regime garantidor da legalidade.

Dos eleitores de Jair Bolsonaro em 2022, 85% condenaram, o que já os inclui entre os que não querem ver repetidos episódios de sedição.

SÃO DE DIREITA – Essas pessoas se identificam como de direita. Residentes, portanto, dentro do campo ideológico compartilhado com gente de centro, de esquerda e demais matizes existentes na seara das liberdades políticas.

Quando são excluídas, jogadas na vala do fascismo sem que lhes seja permitida a nuance de opinião a separá-las dos selvagens instrumentalizados por um déspota pouco esclarecido, é de se perguntar do que falamos quando nos postamos na defesa inamovível do Estado de Direito.

SEM DEMOCRACIA – A que democracia se refere o PT, partido no poder, que regeu o ato desta terça-feira e três dias depois se fez representar por quatro correligionários na fraudulenta posse do ditador venezuelano Nicolás Maduro? Acata um conceito absoluto ou se rende a uma noção relativista adaptada ao sabor das simpatias?

A questão é um dos itens que requer resposta em nome da saúde da pretendida melhoria do diálogo do governo com a sociedade. Sejam seus cidadãos de que partido forem.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Logo após tomar posse, o tirano Nicolás Maduro decidiu fechar a fronteira do país sul-americano com o Brasil, junto à cidade de Pacaraima, em Roraima. Militares da guarda venezuelana restringiram o tráfego de veículos na rodovia e se posicionaram ostensivamente no limite com o Brasil, para evitar que mais venezuelanos atravessem para o Brasil. (C.N.)

Forças que nos desesperam são as mesmas que animam a cognição

WG Sebald: Reveries of a solitary walker | WG Sebald | The Guardian

W. G. Sebald debruçou-se sobre a infelicidade racional

Luiz Felipe Pondé
Folha

Pergunto-me como alguém pode acreditar na possibilidade de construirmos uma gigantesca inteligência artificial, que através da assimilação e uso ordenado de todo o conhecimento já produzido no mundo, realizaria o bem para o mundo? Como ainda não aprendemos que toda forma de totalitarismo foi erguida em nome de um bem político e social?

A contínua associação do mal às formas de totalitarismo revela nossa inapetência para a análise histórica do espaço político e social. O poder emana da loucura intrínseca do Sapiens. Mas, como todo louco, nós não podemos existir fora do delírio. O poder político não é um fato objetivo, ele é fruto da arbitrariedade que o homem introduz em meio à natureza, que é, em si, infeliz.

CONCEITO DE DEUS – Quem diz isso é o escritor alemão W.G. Sebald, radicado nos últimos anos de vida na Inglaterra, comentando a obra de Elias Canetti, judeu europeu. Canetti não pode ser reduzido a uma “nacionalidade”. Se assim o fizermos, melhor dizê-lo, cidadão do perdido Império Austro-Húngaro.

A busca da onisciência, seja para que fim for, ao final, é sempre para o controle perverso do mundo. Por isso o conceito de Deus está sempre por um triz: é possível você ser onisciente, onipresente e onipotente e não degenerar em monstro?

Os espaços de ignorância, de limitação espacial e de impotência são garantias contra o fim do mundo.

BEM ABSOLUTO – A estupidez humana se manifesta de forma mais clara na crença no progresso tecnológico como modo de bem absoluto. “O progresso é uma operação deficitária”, afirma Sebald na esteira de Kafka e Bernhard, ambos do século 20. Por isso, toda vez que ouvimos alguém do mundo corporativo entrar em êxtase quando fala em “inovação disruptiva na tecnologia” sentimos o odor do idiota invadindo a sala.

Sebald é um colosso. Autor de ficção ensaística e de crítica literária, parte da sua obra está traduzida em português pela Companhia das Letras.

Mas um dos seus maiores títulos está esgotado em português, até onde sei. “Die Beschreibung des Unglücks” de 1985 —”A Descrição da Infelicidade”— se trata de uma coletânea de ensaios sobre autores austríacos e austro-húngaros, e existem traduções em outras línguas. A lista de autores da coletânea é vasta.

CLIMA DE FREUD – Sua tese de fundo é de que esses autores estavam mergulhados na mesma atmosfera de Freud e seu grupo e, por isso mesmo, enxergaram como ninguém o mundo da perda da saúde mental na virada do século 19 para o 20. Eles fariam a descrição da infelicidade.

Podemos descrever a obra de Sebald como um esforço contínuo do olhar negativo sobre as coisas, movido, entre outros elementos, por um repertório vasto de referências. Ao começar a ler uma das suas peças literárias, você nunca sabe, ao certo, aonde irá chegar.

Um dos temas caros a Sebald é a natureza em si e sua relação com os humanos. Nesse universo, “Depois da Natureza”, de 1988, um poema, atravessa questões típicas de Sebald: exílio da natureza e da sociedade, memória e perdas que constituem a experiência humana e, especialmente, sua radicalização no “projeto deficitário” que é a modernidade.

PROFISSÃO DO FUTURO – Voltando a Canetti, esse grande cético para com a modernização “científica” e suas gavetas e carimbos. A formação acadêmica de Canetti era em química, profissão que sua família considerava a “profissão do futuro” e, por isso mesmo, ele fez o curso para se livrar da pressão familiar.

Hoje, talvez, seus familiares o tivessem pressionado para ser “designer de IA”. Incrível como toda vez que alguém enuncia frases como “profissão do futuro”, esse alguém soa muito brega, tomando-se como alguém com acurada percepção histórica.

Quem conhece a obra de Canetti sabe o horror que ele nutria pelos “processos naturais”. Para ele, enquanto existisse a morte não se poderia falar em esperança.

DISCURSO CIENTÍFICO – Radical em seu pensamento, Canetti desconfiava profundamente de toda forma de poder político, principalmente quando associado ao que hoje chamaríamos de “discurso científico”.

Sua utopia era, um dia, nenhuma forma de vida necessitar se alimentar. A cadeia alimentar seria prova de que, como diz Sebald, haveria num fato como este o halo sombrio da visão gnóstica de mundo —heresia cristã dos primeiros séculos da era comum— em que o criador seria um louco, um perverso ou, simplesmente, um demiurgo incompetente.

Já no prefácio da obra citada aqui, Sebald se indaga, afinal, qual a razão do olhar vidrado, de grande parte da literatura, fixado na infelicidade e perda da saúde mental. Sua resposta é que “as forças que animam o desespero são as mesmas energias que animam a cognição”.

Vozes pró-Palestina estão sob censura no Brasil e nos EUA

Só falta os americanos proibirem os protestos de rua

Glenn Greenwald
Folha

A primeira razão para defender a liberdade de expressão é por princípio: todos devem ter o direito de expressar suas opiniões sem o risco de punição criminal. Mas essa não é a única razão. A segunda é mais egoísta: é do interesse de cada um se levantar contra a censura porque invariavelmente a próxima opinião censurada pode ser uma com a qual você concorda.

No Brasil, assim como nos EUA e em todo o Ocidente, os opositores à guerra de Israel em Gaza estão sendo silenciados. Após os ataques de 7 de outubro, as leis mais extremas e autoritárias foram aprovadas com o objetivo de defender Israel de críticas, acusando ativistas pró-Palestina de incitar ódio contra judeus.

ANTISSEMITISMO – No início do mês, vimos o exemplo mais flagrante disso: a Câmara dos EUA adotou uma definição radicalmente expandida de antissemitismo, a ser incorporada ao arcabouço das leis federais antidiscriminação.

Essa nova definição inclui diversos exemplos de opiniões sobre Israel e indivíduos judeus que, ainda que errôneas, são claramente válidas e devem ser permitidas.

Entre as opiniões proibidas: comparar os crimes de Israel aos crimes nazistas, criticar Israel aplicando uma “dualidade de critérios” frente a críticas feitas a outros países, expressar a ideia de que os judeus foram responsáveis pela morte de Jesus, alegar que um indivíduo judeu tem maior lealdade a Israel que a seu próprio país. É totalmente razoável achar algumas dessas opiniões erradas ou até ofensivas, mas é extremamente repressivo e perigoso que elas sejam criminalizadas.

PESOS E MEDIDAS – É importante notar que é admissível criticar qualquer outro país —até o Brasil ou os EUA— usando dois pesos e duas medidas; só é proibido fazê-lo sobre Israel. Também é perfeitamente aceitável acusar os evangélicos, por exemplo, de ter uma lealdade suprema a Israel —só estamos proibidos de dizer isso sobre judeus.

Em um desenvolvimento alarmante, o estado do Rio de Janeiro, sob a liderança do governador Cláudio Castro (PL), copiou os EUA e adotou essa definição expandida, que já fora adotada oficialmente por São Paulo sob Tarcísio de Freitas (Republicanos).

As ameaças não são apenas hipotéticas: o jornalista judeu Breno Altman, reiteradamente perseguido e censurado por suas críticas a Israel, é um exemplo eloquente. O mesmo vale para as ameaças levantadas contra o PCO por “discurso de ódio” que se seguiram às duras críticas feitas pelo partido a Israel.

NA MATRIZ USA – Nos EUA, as ameaças são ainda mais extremas. O governador republicano da Flórida, Ron DeSantis, baniu das universidades todos os grupos de uma organização pró-Palestina. O governador do Texas, Greg Abbott, aprovou uma lei para “proibir o antissemitismo” e criar um “ambiente seguro nas universidades”, em uma tentativa de criminalizar protestos estudantis tão chocante que até setores da direita dos EUA se opuseram.

Isso sem contar as inúmeras pessoas que perderam seus empregos em veículos de mídia e em faculdades por criticar Israel.

Nas últimas décadas, aqueles que defendem os palestinos sempre estiveram entre os alvos mais frequentes da censura nos EUA.

PERSEGUIÇÕES – Alguns dos exemplos mais marcantes são o acadêmico judeu Norman Finkelstein, filho de sobreviventes do Holocausto, que teve sua carreira destruída pelo lobby pró-Israel; o professor Steven Salaita, que, apesar de qualificado e recomendado pelas instâncias relevantes, teve sua contratação pela Universidade de Illinois cancelada devido a críticas aos bombardeios israelenses em Gaza em 2014; e o grupo Estudantes por Justiça na Palestina, que teve seu reconhecimento negado pela Universidade de Fordham por sua posição política.

Todos esses exemplos são derivados da mesma mentalidade por trás da campanha de censura contra a direita populista: é preciso coibir “discurso de ódio”, não se pode “incitar ódio” contra israelenses e judeus, não se pode defender genocídio (esse argumento, mais versátil, é igualmente brandido contra manifestantes pró-Israel e pró-Palestina) e algumas opiniões políticas ultrapassam a linha do razoável.

ARMA DOS PODEROSOS – É importante lembrar que a censura é a arma dos poderosos, nunca dos marginalizados. Aqueles que seguram a espada da censura não se importam se as opiniões são de esquerda ou de direita.

As opiniões censuradas são aquelas que ameaçam o establishment, independentemente de onde se originam. É por isso que todos aqueles que se opõe aos Poderes constituídos, sejam eles de esquerda ou de direita, têm um interesse em comum: defender a liberdade de expressão.

Fica cada vez mais claro que Lula deixou de ser um “comunicador imbatível”

Checagem de fatos nas redes sociais: Lula defende soberania dos países | Radioagência Nacional

Discursos de Lula são cada vez mais contraproducentes

Dora Kramer
Folha

A troca de comando na comunicação oficial já nos primeiros dias do ano dá a medida da urgência que o assunto tem para o Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio da Silva (PT) deu-se conta finalmente, com dois anos de atraso, de que seus atributos de palanque não conseguem segurar a onda de um governo de repetições. Retalhos dispersos sem marca específica.

Quem diria que justamente o quesito no qual é considerado imbatível seja apontado como o responsável por um terceiro mandato com popularidade relativa, muito aquém do habitual. E até do esperado, a julgar pela avaliação que o governo faz de si.

80% DE APROVAÇÃO – Lula saiu tão bem do segundo mandato —mais de 80% de aprovação, em patamar inédito— que na campanha de 2022 não se preocupou em “vender” novidade. Ao contrário. Disse que faria “mais”, mas daquele mesmo de antes. Assim fez e não deu certo.

Com todos os defeitos e inadequações para o cargo de ministro da Comunicação que Paulo Pimenta (PT) possa ter, é injusto sair como culpado-mor pelo problema.

Foi uma escolha do presidente que tampouco deu atenção devida à área quando permitiu a pulverização de comandos e de influências. Pelo jeito, Lula confiou que suas qualidades de comunicador de escol dariam conta do recado.

LULA É O CULPADO – A melhor maneira, talvez a única, de resolver um problema é reconhecer com franqueza a razão do enrosco. E este em boa parte dos primeiros dois anos esteve nas maneiras e nas palavras do comandante do show.

Foi o presidente quem optou por passar o primeiro ano de governo atacando Jair Bolsonaro a fim de se sobressair na comparação. Só aí a promessa de união e pacificação já teria ficado pelo caminho.

Também foi escolha dele deixar o Congresso entregue aos ditames do centrão para sair pelo mundo apresentando-se para mediar conflitos da Europa ao Oriente Médio.

ATRITOS DIPLOMÁTICOS – Não resolveu nenhum, produziu atritos diplomáticos e criou constrangimentos ao bater continência para ditaduras amigas que, aliás, deram-lhe as costas. Ainda bem.

O diagnóstico de que as coisas caminharão bem uma vez azeitada a comunicação é compartilhado pela equipe presidencial. Embora não seja uma avaliação totalmente aceita internamente (muito menos entre políticos mais experientes), a orientação é abraçar a tese. Ninguém, no entanto, ousa dizer em voz alta o nome do maior responsável.

De modo enviesado, o ministro da Fazenda chegou perto disso nesta semana numa entrevista à Globonews. Reconheceu como erro “grave” de comunicação a divulgação do pacote fiscal junto com o anúncio do fim do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000. E de quem foi a ideia de colocá-lo naquela fria? Pois é.

MARQUETEIRO – Profissional do ramo da publicidade, Sidônio Palmeira assume o posto de Pimenta com o desafio de não acabar pagando uma conta que não é dele. O novo ministro pediu autonomia e deu as duas linhas mestras de atuação: unidade interna e redução dos conflitos externos. Pareceu também uma referência à briga com o mercado financeiro criada sabemos por quem.

Palmeira em sua primeira manifestação fugiu do figurino de mero ministro da propaganda. Disse que é preciso aliar os seguintes fatores: expectativa (o que a população espera do governo), gestão (o que o governo faz) e percepção (como as ações chegam na população).

Na fala, um bom começo, com noção de conjunto e cabeça na realidade de que só se ganha o debate com um projeto bem definido que convença o público. E, sobretudo, enquadre o presidente aos preceitos de uma comunicação atualizada. Se Lula não colaborar, não há perigo de dar certo.

Alice Ruiz faz uma bela paródia de “José”, de Carlos Drummond

Salvador: Alice Ruiz ministra oficina do Projeto Escritas em Trânsito -  Jornal Grande Bahia (JGB)

Alice Ruiz é a poesia em pessoa

Paulo Peres
Poemas & Canções

A publicitária, tradutora, compositora e poeta curitibana Alice Ruiz Scherone, no poema “Drumundana” faz uma paródia feminina de “José”, um dos poemas mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade. 

DRUMUNDANA
Alice Ruiz

e agora Maria?
o amor acabou
a filha casou
o filho mudou
teu homem foi pra vida
que tudo cria
a fantasia
que você sonhou
apagou
à luz do dia

e agora Maria?
vai com as outras
vai viver
com a hipocondria

Alinhamento de Zuckerberg com Trump preocupa o governo e o TSE

Trump e Zuckerberg: entenda a aliança entre presidente dos EUA e CEO da Meta – Noticias R7

Trump se entende com os novos empresários americanos

Rafael Moraes Moura
O Globo

O alinhamento da Meta (dona do Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp) com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, provoca temores no Palácio do Planalto e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de retrocesso no enfrentamento da disseminação das fake news.

Na última terça-feira, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou o fim do programa de checagem de fatos, em vigor há oito anos para combater a desinformação. A medida inicialmente valerá para os Estados Unidos, mas já provoca preocupação de ser replicada por aqui.

GARRAS DE FORA –  “O Trump nem assumiu a Casa Branca e já botou as garras de fora”, disse ao blog um integrante do governo que acompanha de perto os desdobramentos da discussão. “O Facebook e o Instagram correm o risco de se tornarem um novo X.”

Por ora, o governo Lula tem reforçado o posicionamento público de defender a regulamentação das big techs, que enfrenta resistência no Congresso. Nos bastidores, integrantes da administração petista já fazem projeções sobre os efeitos práticos da medida anunciada por Zuckerberg.

Uma das consequências é que, com a mudança na postura da Meta, o governo Lula deve acionar mais a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia, braço da Advocacia-Geral da União voltado ao combate à disseminação de fake news contra políticas públicas ou que prejudiquem a atuação de servidores públicos – como a difusão de desinformação sobre campanhas de vacinação.

JUDICIALIZAÇÃO – Criada no início do atual governo Lula, sob críticas da oposição, que a chama de “Ministério da Verdade”, a PNDD não tem o poder de remover unilateralmente fake news, mas pode intimar as redes sociais para que elas retirem o conteúdo do ar – e até acionar a Justiça para garantir a exclusão de postagens e a responsabilização civil das plataformas.

Diante de uma postura mais permissiva da Meta, nos bastidores a avaliação é a de que o órgão vinculado à AGU precisará atuar mais – e, por tabela, aumentará a judicialização de casos para barrar a disseminação de notícias falsas nas redes de Zuckerberg, o que também levanta preocupação no TSE.

“Essa decisão não auxilia a democracia, o respeito à dignidade humana, às diversidades. É um retrocesso para a humanidade”, diz um ministro do TSE ouvido reservadamente pela equipe da coluna.

ACORDO DE 2024 – Nas eleições municipais de 2024, Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp assinaram um memorando de entendimento com o TSE prevendo a adoção de uma série de medidas para combater a disseminação de notícias falsas, como a criação de uma ferramenta para divulgar informações sobre as eleições.

Mas a nova política de Zuckerberg lança dúvidas sobre a disposição da empresa de seguir colaborando com o Judiciário brasileiro, conforme informou o colunista Lauro Jardim. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o executivo bilionário afirmou que “os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que as empresas retirem as coisas (das redes sociais) silenciosamente”, em uma indireta ao Brasil.

Para uma fonte do Judiciário que acompanha de perto as discussões, “estamos entrando numa realidade distópica”. “Os tribunais seguem aplicando a lei. Mas é um retrocesso, sem dúvida, a postura da Meta por substituir uma ação colaborativa por confronto. Vão deixar tudo a depender de ordem judicial.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Trump se apoia com os empresários mais revolucionários, como Musk,  Zuckerberg e Gates. Quando aos faniquitos aqui no Brasil, nada impede que a Meta celebre novo acordo com o TSE em 2026. É só Moraes baixar a bola e deixar de se comportar como dono do mundo. (C.N,)

Quaquá defende os irmãos Brazão e compra briga com Gleisi e Anielle

Quaquá e familiares dos Brazão

Quaquá recebeu diversos membros da família Brazão

Fernanda Alves e Caio Sartori
O Globo

Vice-presidente nacional do PT, o prefeito de Maricá (RJ), Washington Quaquá, rebateu Anielle Franco após a ministra reagir a uma postagem do petista ao lado de familiares de Domingos e Chiquinho Brazão, presos no ano passado sob acusação de mandar matar a vereadora Marielle Franco, do PSol. Ao Globo, Quaquá disse que “não conhece direito” a ministra e que seus “princípios socialistas” o fazem não culpar alguém sem ter lido o processo.

“O que eu postei hoje é que quero (o que ela presumivelmente deva querer) que os brutais assassinos da Marielle não tenham regalias e nem penas diminuídas. Tem muita gente que só ganhou notoriedade na vida e construiu carreira a partir da morte de Marielle, que surfa nesse infeliz e brutal acontecimento. Eu não sou e nunca fui um desses” – disse Quaquá.

LEU O PROCESSO – “Tem gente na esquerda que nunca leu o processo e acusa as pessoas de culpadas. Tem um peso e duas medidas. Eu não ajo assim. É contra minha ética e meus princípios socialistas”, acrescentou o prefeito.

A ministra da Igualdade Racial havia pedido para Quaquá “tirar o nome da minha irmã da boca” e disse que vai acionar a Comissão de Ética do partido. Anielle classificou como “inacreditável” ver pessoas “se aproveitarem e usarem o nome de minha irmã sem qualquer responsabilidade”.

“Vou protocolar nas instâncias do partido um pedido na comissão de ética pro dirigente que se utiliza desse caso de maneira repugnante e que é contra a postura do próprio governo e do partido”, publicou.

SOLIDARIEDADE – Na publicação original, Quaquá disse que recebeu “com muita dor no coração, mas muita consideração e solidariedade, a esposa e os filhos de Domingos Brazão”, antes de evocar a suposta inocência do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e do deputado federal.

“Eu quero afirmar o que já afirmei diversas vezes, porque não só conheço Domingos e Chiquinho Brazão, mas, além disso, li todo o processo e NÃO HÁ SEQUER UMA prova contra eles!”, escreveu o prefeito.

“Não sou um rato que se esconde no esgoto para fugir da luz. Eu tenho honra e não vou trocar a verdade por medo de prejuízos de imagem! Deus, o cristianismo e o marxismo me ensinaram que só a verdade liberta, só a verdade e a realidade são critérios de validade!”

BOLSONARO E FILHO – Segundo o petista, “usaram a família Brazão de bucha de canhão para ocultar, inclusive, o fato de que o assassino brutal (Ronnie Lessa) esteve um dia depois no condomínio onde moram Bolsonaro e seu filho. Isso foi deixado de lado pela investigação!”

E mais: “Eu não vou assistir à dor desta família que vê dois entes queridos apodrecerem numa cadeia desumana, enquanto os assassinos confessos armam uma delação para reduzir a pena e viver numa boa, numa cadeia boutique. A verdade tem que ser defendida, até mesmo em honra à memória da Marielle!”.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, chamou o posicionamento de Quaquá de exclusivamente pessoal. “Os irmãos Brazão respondem a ação penal no STF pela denúncia da Procuradoria Geral da República de serem os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson. Encontram-se presos, conforme a lei, aguardando julgamento, instruído por investigações criteriosas da Polícia Federal que embasaram a denúncia e a abertura da ação penal por unanimidade dos ministros”, escreveu Gleisi.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É impressionante a coragem do vice-presidente do PT. A única prova que há contra os irmãos Brazão é a delação do pistoleiro Ronnie Lessa. A lei determina que a delação somente seja válida se houver provas materiais que comprovem a veracidade. Mesmo assim, os irmãos Brazão serão condenados. (C.N.)

Governo deve reforçar a divulgação de suas ações através da Secom

Sidônio terá a missão de alinhar indicadores à percepção popular

Pedro do Coutto

Agora, depois da nomeação de Sidônio Palmeira para a Comunicação, o governo será cobrado por relações que ele faz e que não anuncia, pois isso resultava na falta de conexão do ex-ministro Paulo Pimenta com a realidade jornalística. O problema não será resolvido com a simples troca de comando do Secom, mas através de uma visão mais profunda sobre os fatos cotidianos, sendo muitos deles não transformados em matérias importantes por falta de articulação.

O presidente Lula da Silva decidiu reformular o sistema de comunicação de seu governo diante do fato de não ter obtido os resultados esperados , deixando passar em branco programadas da mais alta importância e cuja divulgação acrescentaria pontos importantes para a sua administração e para a campanha de 2026.

ESQUECIMENTO – A atuação do deputado Paulo Pimenta à frente da Comunicação deixou a desejar porque não conseguiu reunir as ações mais importantes do governo, levando, e a partir daí, ao esquecimento de fatores de mobilização da sociedade. Bastaria realizar um acompanhamento das atividades para que a população brasileira sentisse a importância das ações do Executivo. A presença do governo nas redes sociais constitui uma lacuna que precisa ser preenchida, pois com o passar do tempo perde-se oportunidades de fazer chegar à opinião pública o que está sendo realizado e de que forma os projetos têm sido concretizados.

Há ministérios que não estão funcionando adequadamente e os seus titulares não se motivam, fazendo com que as divulgações necessárias não sejam feitas de forma correta e efetiva. A taxa de investimentos públicos subiu acentuadamente, mas a propagação das ações não acompanhou essa evolução com o que seria paralelamente o avanço dos investimentos públicos.

DIVULGAÇÃO – O presidente Lula tem todas as condições para divulgar o seu governo, e realizações nele contidas. Não faltam resultados concretos, basta que a sua comunicação seja também efetiva. É preciso ter uma sensibilidade voltada para o jornalismo para que se perceba a importância da comunicação que só pode alargar os horizontes na medida em que as ações são divulgadas. Isso é importante.

O governo tem os seus projetos, e a sociedade precisa estar a par das articulações, fase a fase, inclusive com a participação do presidente Lula nos noticiários da televisão, dos jornais e das redes sociais. A população envolvida sente-se representada. É fundamental esse sentimento de pertencimento e de informação. Todos os projetos precisam estar expostos de forma transparente, inclusive os que estão parados no Congresso.

Governo Lula deve procurar a Meta para entender mudanças nas redes

Donald Trump once threatened to jail Mark Zuckerberg, but last night they  ate Thanksgiving eve dinner together | Fortune

Zuckerberg disse exatamente o que Trump queria ouvir

Gustavo Zucchi
Metrópoles

O governo Lula deverá, em breve, procurar executivos da Meta no Brasil para entender o impacto das mudanças que a matriz da empresa fará nas políticas de moderação em suas redes sociais.

O principal objetivo será compreender até que ponto o discurso do CEO da companhia, Mark Zuckerberg, é “político”, no sentido de alinhar a empresa ao governo Trump, e quais serão as mudanças efetivas no Brasil.

A preocupação é manter o bom relacionamento que a Meta tem com o governo brasileiro. A empresa é mencionada em conversas de bastidores como uma organização que colabora tanto com o governo quanto com outras autoridades do país.

NOTAS DA COMUNIDADE – Além do governo, o Ministério Público Federal também oficializará a empresa sobre as mudanças anunciadas por Zuckerberg, que incluem o uso das “notas da comunidade” para verificar possíveis notícias falsas.

Como foi revelado pela coluna, integrantes do governo Lula que trabalham com redes sociais afirmam que as alterações da Meta já eram esperadas, especialmente em função da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

Nos bastidores, técnicos do Planalto indicam que, desde o meio do ano passado, membros da empresa no Brasil sinalizavam que poderia ocorrer uma mudança de postura da matriz da Meta, em decorrência da mudança na Casa Branca.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Procurar a Meta para negociações e entendimentos deveria ser a primeira preocupação do governo. Mas o ministro Alexandre de Moraes é vaidoso demais para esse tipo de grandeza. Vai logo fazendo ameaças e não quer nem saber. Quando for proibido de entrar nas EUA, talvez ele acorde para a realidade. (C.N.)

Dúvida cruel! Se receber o passaporte, Bolsonaro pretende fugir para os EUA?

Tribuna da Internet | Bolsonaro volta a pedir ao Supremo seu passaporte  para a viagem a Israel

Charge do Céllus (Arquivo Google)

Carlos Newton

É a grande dúvida do momento, proveniente do fato de Jair Bolsonaro ter pedido ao Supremo Tribunal Federal (leia-se: ministro Alexandre de Moraes) a devolução de seu passaporte, para que possa viajar aos Estados Unidos a tempo de comparecer à posse de Donald Trump em seu segundo mandato, no próximo dia 20.

É uma dúvida tão irremovível quanto o monte Everest, porque ninguém tem condições de prever se Bolsonaro voltará ao Brasil para ser julgado ou se pedirá asilo ao amigo Trump, que o receberia de braços abertos, autorizando imediatamente a impressão do “greencard”, para garantir o visto permanente.

UM HOMEM RICO – Como já explicamos aqui na Tribuna da Internet, Bolsonaro é um homem rico, possuidor de uma fortuna avaliada em R$ 140 milhões. Quando disse que não tinha dinheiro para pagar advogado, no início de 2023, seus admiradores logo depositaram cerca de R$ 72 milhões em PIX, que estão aplicados e já renderam uns R$ 20 milhões, em juros sobre juros.

Além disso, tem outros investimentos e o patrimônio imobiliário, que ele declara ao Imposto de Renda em R$ 16 milhões, mas de acordo com os preços da época da aquisição, não no valor de agora.

Na realidade, o velho Bolso deve estar cheio com no mínimo 140 milhões. Nada mal, para quem nunca trabalhou desde que saiu do Exército.

LIVRE PARA VOAR – Com essa grana, acrescida das aposentadorias do Exército e da Câmara (cerca de R$ 50 mil mensais), Bolsonaro pode viver onde quiser. Porém, se permanecer no Brasil, será julgado por acusações que podem render 28 anos de cadeia, nos cálculos do magnânimo ministro Alexandre de Moraes.

Bolsonaro é um homem rico e doente. A tela implantada no seu abdômen o ajuda a viver, mas de forma limitada. Para evitar que o organismo rejeite o corpo estranho da tela, ele é obrigado a tomar medicamentos imunossupressores, que diminuem suas defesas contra as outras doenças.

O mais novo advogado de sua equipe é o criminalista Celso Vilardi, que diz ter lido milhares de páginas da investigação: “Estou convencido de que ele não praticou crime algum, porque o trabalho da Polícia Federal foi enviesado”.

OPINIÃO DE MORAES – Para o relator Alexandre de Moraes, porém, não importa o viés. O relatório da força-tarefa do Supremo, comandando pelo delegado federal Fábio Shor, que há anos está a serviço de Moraes, indicia Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito e organização criminosa, totalizando uma pena que pode chegar a 28 anos de prisão.

Vilardi, que se junta a Paulo Bueno na defesa de Bolsonaro, pode anunciar à vontade a inocência de seu cliente, mas o “conjunto da obra” – circunstância que nem existe no Direito – vai agravar a situação do ex-presidente.

Como diz a velha piada, se Bolsonaro receber o passaporte para aplaudir Trump, poderemos esperar sentados pela volta dele. Será muito otário, caso se atire nos braços do ministro brasileiro que se transformou em superstar internacional e vai ficar cada vez mais tristemente famoso este ano.

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P.S.
Quando o criminalista Celso Vilardi diz que Bolsonaro é inocente, baseia-se no dogma do Direito de que são puníveis apenas o crime ou a tentativa, quando o agente inicia a execução do crime, mas não consegue concluí-lo por circunstâncias alheias a sua vontade. Quanto a apenas planejar o golpe, que é a maior acusação contra Bolsonaro, não é punível, porque representa apenas um sonho. Nas leis em vigor no mundo inteiro, sonhar ainda não é proibido, porém Moraes resolveu mudar isso. (C.N.)

Credor cobra R$ 27 milhões de produtor de “Ainda Estou Aqui”

Rodrigo Teixeira - Diretor de "Ainda estou aqui"

Teixeira é um grande produtor que tem grandes dívidas

Mario Sabino
Metrópoles

Aos 48 anos, o carioca Rodrigo Teixeira, um dos produtores de “Ainda Estou Aqui”, tem uma história de sucesso internacional. Além do filme que deu a Fernanda Torres o Globo de Ouro de melhor atriz de drama, ele tem no currículo o longa “Me Chame pelo Seu Nome”, do diretor italiano Luca Guadagnino, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado, em 2017.

São os exemplos mais ofuscantes de uma trajetória brilhante, que inclui também uma sociedade com o diretor americano Martin Scorsese.

DÍVIDA ENORME – Na Justiça, porém, a vida de Rodrigo Teixeira não tem charme. O industrial paulista Paulo Souss cobra dele uma dívida que já alcança mais de R$ 27 milhões — exatos R$ 27.058.000,23, incluídos aí juros, honorários de sucumbência, multas e custas processuais. O montante do valor principal está em R$ 15,5 milhões. Para reaver essa fortuna, o credor quer penhorar parte do faturamento de “Ainda Estou Aqui”.

A ação de execução corre em segredo de Justiça na 27ª Vara Cível do Foro Central de São Paulo, mas o Metrópoles apurou os pontos principais do processo.

Entre 2017 e 2020, Paulo Souss fez uma série de empréstimos a Rodrigo Teixeira para financiar as produções dos filmes “Prison Break”, “Lighthouse”, “Wasp Network” e “Blood on the Tracks”.

PARTICIPAÇÃO – O empresário foi convencido pelo produtor — ele é conhecido no meio cinematográfico por ser simpaticão e persuasivo — de que teria um retorno bastante lucrativo se a dívida fosse convertida em participação nos filmes.

Quando a dívida já estava estratosférica, sem que nenhuma produção parecesse ir adiante, Paulo Souss decidiu cobrar amigavelmente o dinheiro que emprestou. Em 11 de fevereiro de 2021, Rodrigo Teixeira assinou um documento de confissão de dívida, no qual reconheceu dever mais de R$ 12 milhões.

Poucos meses depois, em agosto, sem ver a cor do dinheiro, Paulo Souss entrou com a ação de execução na Justiça estadual de São Paulo. Ela caiu com a juíza Melissa Bertolucci.

ACORDO DE PAGAMENTO – Intimado a se pronunciar, o produtor fez, então, um acordo de pagamento, reconhecendo os acréscimos legais à dívida a ser quitada em parcelas.

A primeira parcela não foi paga e, pelo acordo, multas passaram a incidir sobre o principal da dívida. Em 2022, no entanto, Rodrigo Teixeira entrou com uma ação na Justiça, pedindo a anulação da confissão da dívida, sob a alegação de que os juros que constam do documento são abusivos e de que ele foi coagido a assiná-lo.

O pedido de anulação da confissão da dívida foi remetido à mesma juíza Melissa Bertolucci, como reza o instituto da prevenção do juízo. A ação movida pelo produtor está correndo, mas a magistrada não suspendeu a ação de execução impetrada por Paulo Souss.

DIREITOS AUTORAIS – Como Rodrigo Teixeira não tem nenhum bem registrado no seu nome, o industrial partiu para a penhora dos direitos autorais da produtora dele, a RT Filmes, e do faturamento de outras empresas do produtor, a Camisa 13 e a US One. Até agora, porém, nada de dinheiro.

Depois que o nome da RT Filmes apareceu nos créditos de “Ainda Estou Aqui”, a advogada de Paulo Souss oficiou, com o aval da juíza responsável pelo caso, os parceiros na empreitada. O pedido é para que depositem em juízo, para penhora, os recebíveis da produtora. Ou seja, o dinheiro auferido com um dos maiores sucessos nacionais de bilheteria.

Uma das várias empresas oficiadas é a produtora VideoFilmes, do diretor Walter Moreira Salles. Outra delas é a GloboPlay, que é coprodutora de “Ainda Estou Aqui”.

RESPOSTA CURIOSA – Os oficiados ainda não responderam, à exceção da GloboPlay, que deu uma resposta curiosa. Afirmou que a RT Filmes não consta do contrato assinado para a coprodução do filme, apesar de o nome da produtora constar dos créditos de “Ainda Estou Aqui”.

De acordo com a GloboPlay, o contrato foi assinado com a RTRG, outra produtora de Rodrigo Teixeira, aberta em sociedade com Rodrigo Gutierrez, herdeiro da empreiteira Andrade Gutierrez.

A advogada de Paulo Souss pediu, então, autorização à juíza Melissa Bertolucci para obter os contratos de parceria da RTGR para a produção de “Ainda Estou Aqui”, com o objetivo de verificar se ocorreu alguma manobra para evitar que os direitos autorais da RT Filmes fossem penhorados. A magistrada não deferiu o pedido, porque a RTRG não é parte do processo, e o caso subiu para a segunda instância.

Conseguir documentos contábeis das empresas de Rodrigo Teixeira tem se provado uma tarefa árdua. Depois de idas e vindas, a magistrada nomeou, em abril do ano passado, um perito para administrar a penhora e conseguir os documentos.

DE MUDANÇA – O perito foi até o endereço comum das empresas do produtor, na rua Girassol, no bairro da Vila Madalena, mas lá foi informado de que elas haviam mudado para um coworking na Avenida Paulista. Na Junta Comercial de São Paulo, porém, o endereço das empresas permanece a Rua Girassol.

Recentemente, em dezembro, a revista Veja noticiou outro imbróglio, envolvendo agora a RTRG. A US Music, produtora de Ruben Feffer, herdeiro do Grupo Suzano, reclamou na Justiça o pagamento do que seria um investimento feito em 2019 para a produção do filme “Born”, que nunca chegou aos cinemas. O valor atualizado seria de R$ 747 mil.

Por meio da sua assessoria, Rodrigo Teixeira respondeu à reportagem publicada pela revista. Disse que não deve nada a Rubens Pfeffer, que a US Music não investiu coisa nenhuma, mas que fez um empréstimo de R$ 480 mil, “com a possibilidade de conversão em participação no filme, o que não ocorreu”, e que parte do dinheiro emprestado foi devidamente paga em 2022.

DIZ RODRIGO – Na resposta, a assessoria de Rodrigo Teixeira cita a RTRG como produtora de “Ainda Estou Aqui”:

“Além disso, a RTRG, uma das produtoras do Ainda Estou Aqui, não é devedora dessa dívida e não tem nenhuma responsabilidade ou vinculação com a US Music e com o Feffer. A defesa foi apresentada e o juiz está analisando. No passado, esse mesmo pedido da US Music foi rejeitado, não sendo a produtora do “Ainda Estou Aqui” responsável por qualquer dívida com Feffer ou suas empresas. As demais empresas do Rodrigo também apresentaram defesa e aguardam análise do juiz.”

No final da resposta, a assessoria do produtor fala sobre o pagamento que a Globo viu-se obrigada a fazer por determinação judicial, como parceira da RTRG: “A Globo realizou um depósito nos autos de R$ 276.655,00 devidos à RTRG por determinação judicial de forma a garantir a dívida e não porque foi reconhecida a responsabilidade da RTRG pelo pagamento. Ou seja, a dívida está praticamente paga. Por fim, o Feffer, por meio de uma de suas empresas (ele é sócio da empresa Elo Company), tem uma dívida com Rodrigo e não faz os repasses de valores devidos a Rodrigo. Mas nem por isso Rodrigo fica usando a imprensa para fazer essa cobrança.”

Silveira faz sexto pedido de liberdade com base em indulto natalino

Daniel Silveira descumpriu medidas cautelares 227 vezes durante processo,  diz Moraes

Daniel Silveira mantém bom comportamento na prisão

Elijonas Maia e Luísa Martins
da CNN Brasília

A defesa do ex-deputado federal Daniel Silveira fez um novo pedido ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira (9), para que seja concedida liberdade com base no indulto natalino assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Esse é o sexto pedido do advogado Paulo de Faria. Na petição, o defensor “requer que seja concedido imediatamente o indulto decretado pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, no último dia 23 de dezembro de 2024, e publicado no Diário Oficial, na mesma data”. E reitera “pedido de prioridade legal”.

PARECER DO MPF – A defesa também pede ao ministro do STF que determine a manifestação do Ministério Público Federal (MPF) em 5 dias.

O indulto é o perdão da pena para algumas detenções. A defesa de Silveira, em petição apresentada no último dia 3, afirma que o ex-deputado teria acesso ao benefício porque no dia da publicação do ato, em 23 de dezembro, ele estava em “livramento condicional” e a menos de seis anos para o cumprimento total da pena.

As duas situações são previstas no decreto de Lula como passíveis de soltura e de perdão da pena. No entanto, Lula excluiu do decreto os crimes considerados ataques à democracia e ao abuso de autoridade. Silveira está preso por causa de declarações contra ministros do STF.

DESDE 2021 – Silveira foi preso originalmente em fevereiro de 2021. Entre idas e vindas, chegou a receber liberdade condicional, no dia 20 de dezembro do ano passado, mediante uma série de medidas cautelares, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e proibição de usar as redes sociais.

O ex-deputado também estava proibido de sair de casa entre 22h e 6h e aos fins de semana. O benefício foi concedido pelo STF porque Silveira já havia cumprido um terço da pena.

Porém, ele foi preso novamente no dia 24, após violar os termos da liberdade condicional. A defesa de Silveira alegou a Moraes que as regras não haviam sido claras, e o ministro rebateu afirmando que havia “má-fé” ou “lamentável desconhecimento da legislação” por parte dos advogados.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Ainda de acordo com Moraes, o ex-deputado descumpriu medidas cautelares 227 vezes no curso do processo que terminou em sua condenação. A declaração do ministro é exagerada, porque isso aconteceu quando Silveira estava exercendo o mandato de deputado e a Câmara ainda não havia decidido se a prisão dele deveria ser autorizada. Silveira aprendeu a lição, tem bom comportamento na prisão, está doente, com problemas renais, e merece ser solto. (C.N.)

Zuckerberg está certo sobre as ordens secretas de censura de Moraes

Crusoé: Contra censura, Mark Zuckerberg manda indireta para o STF

Zuckerberg identifica corretamente a censura de Moraes

Glenn Greenwald
Folha

Há muitas razões para encarar com ceticismo —e como oportunismo político— o anúncio de Mark Zuckerberg, CEO da Meta, nesta terça-feira (7). O próprio Zuckerberg frequentemente defendeu e até impôs o tipo exato de censura política online que condenou.

A primeira vez que relatei a censura das big techs foi ao documentar em 2016 a estreita relação do Facebook com o governo israelense. A plataforma aprovava mais de 95% dos pedidos de censura contra jornalistas e ativistas palestinos. Pouco antes da eleição de 2020 nos EUA, o Facebook suprimiu reportagens que desfavoreciam Joe Biden.

TRUMP BANIDO – Em 2021, o Facebook baniu o então presidente Donald Trump de sua plataforma por dois anos. Durante a pandemia, a empresa removeu uma ampla gama de opiniões divergentes das ortodoxias sobre a Covid-19, a pedido do governo Biden —incluindo visões que o próprio Zuckerberg mais tarde admitiu serem “debatíveis” ou “até verdadeiras”.

Independentemente das motivações, há um ponto em que Zuckerberg está inegavelmente correto. Em uma declaração amplamente entendida como direcionada ao Brasil e ao STF, o fundador do Facebook afirmou que “países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar que empresas removam conteúdos de maneira silenciosa”.

MÍDIA E GOVERNO – O motivo pelo qual esse comentário foi associado ao Brasil é simples: isso acontece no Brasil. Ironicamente, os mesmos grandes veículos de mídia e autoridades governamentais que protestaram contra a nova política da Meta, alertando sobre os perigos da “desinformação” —e insistindo que só eles podem definir a verdade— espalharam desinformação em resposta.

Eles acusaram Zuckerberg de fazer tal afirmação sobre o Brasil “sem evidências”. A verdade é exatamente o oposto: as evidências são claras e abundantes.

Em abril passado, este jornal publicou um editorial com o título: “Censura promovida por Moraes tem de acabar”. O texto alertava sobre exatamente o que Zuckerberg apontou ontem:

DIZIA A FOLHA – “Ordens secretas de Alexandre de Moraes proíbem cidadãos de se expressarem em redes sociais”. E acrescentava: “O secretismo dessas decisões impede a sociedade de escrutinar a leitura muito particular do texto constitucional que as embasa”.

Em janeiro de 2023, obtive e publiquei uma dessas muitas ordens secretas de censura emitidas por Moraes. Para entender a veracidade das alegações de Zuckerberg sobre o Brasil, basta ler a ordem de Moraes.

Datada de 11 de janeiro de 2023, foi endereçada a seis plataformas de mídia social, incluindo Facebook e Instagram, da Meta. O ministro do STF ordenava que as plataformas banissem imediatamente as contas de uma longa lista de políticos, jornalistas e comentaristas, incluindo deputados e senadores eleitos.

TUDO EM SIGILO – Como parte da ordem, Moraes exigiu que as plataformas mantivessem a censura em sigilo: “Diante do caráter sigiloso destes autos, deverão ser adotadas as providências necessárias para a sua manutenção”, escreveu ele.

Antes de publicar essas ordens, entrevistei várias pessoas cujas contas foram banidas por determinação de Moraes. Nenhuma delas foi informada da existência das ordens ou recebeu explicações sobre o banimento, muito menos teve a oportunidade de contestar sua validade.

Isso é, por definição, uma ordem secreta de censura. Desde então, outras ordens similares de Moraes foram reveladas, incluindo por jornalistas que trabalharam nos chamados Twitter Files.

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P.S.
Encerrando: pode-se, se quiser, justificar o esquema de censura secreta de Moraes, como muitos já fizeram, junto com tudo o mais que ele realiza. Mas não se pode negar —pelo menos não de forma honesta— a existência desse processo judicial secreto de censura. (G.G.)

Fachin surpreende ao defender limites na atuação do Supremo no 8/1

Jamais desistiremos da democracia', diz Fachin | Política | Valor Econômico

Fachin “inocentou” Lula e agora tira uma onda de imparcial

Lavínia Kaucz
(Broadcast)

O ministro Edson Fachin, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), disse em evento que lembra os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 que “precisamos sempre lembrar do que aconteceu para que não se repita”. Ele representou a Corte na solenidade nesta quarta-feira, 8.

Fachin disse que o Brasil mostrou ter “uma democracia robusta”, mas que não há espaço na Constituição para atentar contra o Estado democrático de direito. “A democracia é o regime da tolerância, da diferença, do pluralismo, do dissenso, mas não é direito assegurado pela Constituição atentar contra as condições de existência da própria democracia”, afirmou.

AUTOCONTENÇÃO – O ministro afirmou que o STF teve e tem “papel decisivo” na defesa da democracia, mas ressaltou que o papel do Supremo não é de protagonismo e defendeu a autocontenção da Corte. “Cabe sempre observar o limite da Constituição. Ao Direito o que é do Direito, e à política o que é da política”, disse Fachin.

O vice-presidente da Corte tem adotado postura de evitar conflitos com demais poderes em meio às críticas do Congresso sobre judicialização da política e de invasão das competências do Legislativo pelo STF.

Um dos principais alvos das reclamações de deputados tem sido o ministro Alexandre de Moraes, atacado principalmente pelos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

SEM TOMAR PARTIDO – Na solenidade, Fachin não fez referência ao colega de toga, mas reforçou que o papel do juiz é condenar criminosos, sem tomar partido de um lado ou outro da ação judicial.

“A Constituição estabeleceu que o jogo é o da democracia e, numa democracia, não cabe ao árbitro construir o resultado. O juiz não pode deixar de responsabilizar quem violou as regras do jogo, mas não lhe cabe dizer quem vai ganhar”, complementou.

Ausente no evento, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, redigiu uma carta que foi lida por Fachin no evento organizado pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na carta, Barroso disse que é “falsa” a narrativa que busca associar o combate ao extremismo a medidas autoritárias.

SEM AUTORITARISMO – “E não devemos ter ilusões: no Brasil e no mundo está sendo insuflada a narrativa falsa de que enfrentar o extremismo e o golpismo, dentro do Estado de direito, constituiria autoritarismo”, disse Barroso, em carta lida pelo vice-presidente do STF, Edson Fachin, em evento no Planalto sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

“É o disfarce dos que não desistiram das aventuras antidemocráticas, com violação das regras do jogo e supressão de direitos humanos. A mentira continua a ser utilizada como instrumento político naturalizado”, complementou Barroso na carta.

A declaração foi feita um dia após o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, publicar vídeo acusando a América Latina de ter “tribunais secretos de censura”, sem citar o Supremo brasileiro. O contexto da fala do empresário foi o anúncio do fim da parceria com checadores de informações no Facebook, Instagram e Threads nos EUA.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O petista Fachin pode tirar essa onda de isento, mas é preciso lembrar que foi ele quem inventou a “incompetência territorial absoluta” no Direito Penal (possibilidade inexistente em todos os demais países), para anular as condenações de Lula e possibilitar que a ficha sujíssima do petista fosse limpa por milagre. Fachin trouxe Lula de volta, causou toda essa encrenca e agora tenta posar de “imparcial”. (C.N.)

Cientistas fazem germinar em segredo uma semente de mil anos

Pesquisadores plantam sementes de 2 mil anos: eis o resultado | History  Channel Brasil

Os cientistas replantaram sementes do tempo de Jesus

Franz Lidz
(The New York Times)

Camelos carregados de especiarias, ouro e pedras preciosas acompanharam a Rainha de Sabá em sua jornada bíblica a Jerusalém no século X a.C. Mil anos depois, o historiador judeu-romano Flávio Josefo escreveu que o carregamento incluía o Bálsamo de Gileade, uma resina fragrante e altamente valorizada também conhecida como bálsamo da Judeia, usada como base para perfumes, incensos e remédios medicinais. ]

Dizia-se que o bálsamo era extraído de uma planta cultivada em oásis ao redor da bacia do Mar Morto; a planta desapareceu da região no século IX, dando início a um longo debate sobre sua identidade científica.

DIZEM OS ANTIGOS – “Nos relatos antigos, as descrições variam”, disse Sarah Sallon, diretora de pesquisa em medicina natural no Hospital Hadassah, em Jerusalém. “Antes da Era Comum, a planta era descrita como do tamanho de uma árvore. Mas, no primeiro século, o historiador romano Plínio, o Velho, a descreveu como um arbusto semelhante a uma videira.”

Em 2010, Sallon obteve uma semente misteriosa dos arquivos arqueológicos da Universidade Hebraica, na esperança de que pudesse germinar. A semente havia sido descoberta em uma caverna durante uma escavação nos anos 1980 em Wadi el-Makkuk, um canal de água sazonal no norte do deserto da Judeia, e estava esquecida em armazenamento.

Após determinar que a semente ainda era viável, a equipe de pesquisa de Sallon a plantou, fez germinar e cuidou dela com cuidado. Quando a casca foi datada por carbono entre 993 e 1202 d.C., Sallon teve uma ideia: “Pensei se o que germinou poderia ser a origem do Bálsamo de Gileade”, disse ela. Com essa suspeita, deu à amostra o nome de Sheba.

Semente de mil anos faz nascer árvore misteriosa que não dá flores e frutos

A muda é cultivada numa estufa em Israel

VIROU ÁRVORE – Desde então, a muda de 1.000 anos de idade cresceu e se tornou uma árvore robusta de 3,6 metros, sem equivalente moderno. A meticulosa recuperação de Sheba — mantida em segredo do público por 14 anos — é detalhada em um estudo publicado em setembro na revista *Communications Biology*.

“Por que o intervalo de tempo entre a germinação da semente e a publicação da pesquisa?” disse Sallon. “A razão é que eu queria ter certeza de que Sheba não era o bálsamo da Judeia, algo que eu só saberia definitivamente pelo cheiro.”

Acontece que Sheba não apenas carece de um aroma distinto, mas provavelmente é a fonte de outro bálsamo mencionado nas escrituras.

RESSURREIÇÕES – Sheba é a mais recente em uma série de ressurreições botânicas conduzidas por Sallon, que nasceu no Reino Unido e se mudou para Israel em 1983. Em 1995, ela fundou um centro para estudar terapias naturais, como medicina tibetana e chinesa ou plantas medicinais nativas do Oriente Médio.

Sua pesquisa, que utiliza a Bíblia Hebraica e outros textos antigos como guias botânicos, testa espécies locais quanto a suas propriedades terapêuticas e seu potencial como culturas alimentares alternativas.

PLANTAS EXTINTAS – “Também trabalhamos para conservar essas plantas e, por meio da germinação de sementes antigas, tentamos reintroduzir aquelas que se tornaram localmente extintas em Israel”, disse ela.

Em 2005, Sallon recebeu seis sementes de tamareira que foram descobertas nos anos 1960 durante uma escavação nas ruínas de Masada, a fortaleza do deserto perto do Mar Morto onde, segundo Flávio Josefo, 967 judeus escolheram tirar suas próprias vidas em uma resistência desesperada para evitar captura e escravidão pelos romanos no ano 73 d.C.

Naquela época, Plínio, o Velho, registrou vastas florestas de tamareiras entre o Mar da Galileia e o Mar Morto e elogiou o fruto por seu “sabor doce, como o de vinho e mel”.

ERAM REMÉDIOS – Em outros textos históricos, as tâmaras da Judeia eram citadas como laxantes e como remédios para infecções antes de desaparecerem por volta do século XV.

As tâmaras Medjool e Deglet Nour atualmente cultivadas em Israel são variedades iraquianas e marroquinas, introduzidas no início do século passado.

Para tirar as sementes de sua dormência, Sallon recrutou Elaine Solowey, uma especialista em plantas do deserto no Instituto Arava de Estudos Ambientais, no kibutz Ketura, no sul do Negev.

TRATAMENTO – Utilizando um processo que depois repetiria com Sheba, Solowey mergulhou as sementes em água morna para amaciar suas cascas, tratou-as com um ácido rico em hormônios que estimula a germinação e o enraizamento e um fertilizante feito de algas e outros nutrientes.

Ela plantou três das sementes em vasos esterilizados e isolados. Outras duas foram enviadas à Universidade de Zurique para datação por carbono, que revelou que eram do primeiro século. Quando as sementes foram sequenciadas geneticamente, seu DNA não correspondia às tamareiras atuais.

Cinco semanas depois de Solowey plantar as sementes de 2.000 anos, a terra em um dos vasos se abriu e um pequeno broto emergiu. Sallon o chamou de Matusalém, em homenagem à pessoa mais longeva (969 anos) mencionada na Bíblia.

POLÉN ESPANTOSO – Hoje, Matusalém, que se revelou macho, atingiu 3,3 metros de altura. Em 2020, Solowey coletou pólen da árvore e o transferiu para as flores de uma tamareira fêmea chamada Hannah, cujas sementes haviam sido incubadas por mais de dois milênios em uma caverna próxima a Jericó, na Cisjordânia.

“Hannah produziu frutos 30% maiores do que os das tâmaras contemporâneas”, disse Sallon.

Quanto a Sheba, pertence ao gênero Commiphora, da família do incenso e da mirra, com propriedades medicinais como triterpenos e esqualeno, substâncias conhecidas por seus benefícios antioxidantes e de cura da pele. “Se Sheba não é o bálsamo da Judeia, é um parente próximo e um tesouro de compostos medicinais”, concluiu Sallon.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente matéria, republicada pela Folha. Mostra que a ciência avança para salvar a terra que os políticos se empenham em destruir. (C.N.)

Somos uma bússola sem norte, na poesia de Alphonsus de Guimaraens

Veredas da Língua: ALPHONSUS DE GUIMARAENS – O SOLITÁRIO DE MARIANAPaulo Peres
Poemas & Canções

O juiz e poeta mineiro Afonso Henriques da Costa Guimaraens (1870-1921), que adotou o nome de Alphonsus de Guimaraens, afirma no soneto “Cantem Outros a Clara Cor Virente” que cada um de nós é uma bússola sem norte.

CANTEM OUTROS A CLARA COR VIRENTE
Alphonsus de Guimaraens

Cantem outros a clara cor virente
Do bosque em flor e a luz do dia eterno…
Envoltos nos clarões fulvos do oriente,
Cantem a primavera: eu canto o inverno.

Para muitos o imoto céu clemente
É um manto de carinho suave e terno:
Cantam a vida, e nenhum deles sente
Que decantando vai o próprio inferno.

Cantem esta mansão, onde entre prantos
Cada um espera o sepulcral punhado
De úmido pó que há de abafar-lhe os cantos…

Cada um de nós é a bússola sem norte.
Sempre o presente pior do que o passado
Cantem outros a vida: eu canto a morte

Anúncio de Mark Zuckerberg é vitória de primeira grandeza contra as tiranias

A Gazeta | Como funciona checagem de fake news no Facebook e Instagram — e  o que vai mudar

Apoio de Zuckerberg fortalece a posição de Trump

J.R. Guzzo
Estadão

Que tal, só para variar um pouco, deixar de lado a presente obsessão por discursos de altíssima voltagem ideológica e se concentrar por trinta segundos no único ponto que realmente interessa no assunto?

Por exemplo: o empresário Mark Zuckerberg, dono do Facebook-Meta, anunciou o fim dos controles sobre o que é publicado em suas redes sociais, até então feito por equipes de “verificadores de fatos”. Há duas perguntas relevantes a fazer aí, e só duas.

DUAS RESPOSTAS – A primeira é: houve ou não houve, nessa decisão, um impacto fundamental na liberdade de expressão tal como ela se coloca no mundo de hoje? A segunda é: a liberação das plataformas para tudo o que os usuários queiram colocar lá, agora sem os filtros que vetavam a publicação de conteúdos tidos como nocivos pela Meta, ajuda a liberdade de manifestação ou ajuda a mentira, a calúnia e o “fascismo”?

A primeira resposta é: sim, houve. A segunda é: a liberdade conseguiu uma vitória de primeira grandeza contra as tiranias.

As redes sociais, e não mais a imprensa ou a praça pública, são hoje a verdadeira arena onde se combate a favor – ou contra – o direito humano essencial da liberdade de expressão.

DEMOCRATIZAÇÃO – A questão é simples. Pela primeira vez na história da humanidade, qualquer pessoa que tenha acesso a um celular ou computador pode escrever, ler, falar, ouvir, mostrar ou ver tudo o que quiser – quando quiser, e para quem quiser, sem necessidade de jornalistas ou de licença do governo. É uma conquista para as democracias. É um pesadelo para as ditaduras.

Há todo um imenso esforço cerebral, nas democracias, em torno de qual seria a alma das redes sociais, como as discussões escolásticas de outras eras sobre a quantidade exata de anjos e de arcanjos que há no céu, e temas de igual complexidade. Tanta liberdade assim não seria um risco para a democracia – um ativo que se transforma em passivo?

Nas ditaduras, em compensação, nunca houve dúvida nenhuma: as redes são um mal absoluto que tem de ser exterminado.

DITADURAS PROÍBEM – Todas as tiranias do mundo, em consequência, proíbem as redes; Rússia, Cuba, Irã, China, Coréia do Norte. Não há nenhuma exceção.

Há, sem dúvida, pessoas de boa-fé (que dificilmente serão encontradas entre políticos, magnatas da máquina estatal ou dependentes do sistema cultural mantido pelo Erário Público) que desejam um ponto de equilíbrio entre a liberdade devastadora da internet e a intervenção do Estado nas redes sociais.

É natural. Ninguém é a favor da mentira ou da maldade, e as redes são um oceano onde desagua todo o tipo de coisa ruim – como de coisa boa também, ou inofensiva.

APENAS FINGIMENTO – Mas os que dizem defender essa gente toda das taras da internet não estão minimamente interessados em combater as taras da internet. Não querem acabar com as mentiras, as notícias falsas ou a pregação do ódio – para isso tudo já existe remédio suficiente no Código Penal, que pune como crime a calúnia, a difamação e a injúria, e nas leis que reprimem a defesa do nazismo, da homofobia e do racismo, ou o incentivo ao crime.

O que querem é proibir que milhões de pessoas digam livremente nas redes o que os tiranos não querem que seja dito.

A reação enfurecida da esquerda mundial e do governo brasileiro à decisão de Zuckerberg é o comprovante definitivo que a liberdade de expressão acaba de ter uma vitória exponencial – ou alguém já viu a esquerda e o regime Lula-STF estarem contra alguma coisa errada e a favor de alguma coisa certa?

INIMIGO Nº 1 – Até agora, só a revolução comandada por Elon Musk, ao comprar o antigo Twitter, e proclamar o novo X como território livre para a manifestação de todos, tinha mexido de fato com a liberdade de expressão no mundo. Por isso, ele se tornou o inimigo número 1 de Lula, de Janja e de Alexandre de Moraes.

Agora, aos 20 milhões de usuários do X no Brasil se juntam os 150 milhões de brasileiros que utilizam, cumulativamente, o Facebook, o Instagram e o WhatsApp da Meta de Zuckerberg. Fazer o quê, daqui por diante?

O STF vai dar 48 horas para ele explicar por que decidiu rifar os checadores da sua empresa? Janja vai dizer “Fuck you também, Mark Z.”?

O fato, em relação ao Brasil, é que onde havia só o problema Musk passa a haver agora o problema Musk + Zuckerberg ou X elevado à potência n.

POLÍCIA DIGITAL – Nem o X, nem a Meta são monopólio de coisa nenhuma. Ninguém é proibido de escrever lá – nem Janja, ou Alexandre de Moraes. É isso que deixa todos eles inconformados.

No Brasil dos seus sonhos, só teriam direito de escrever nas redes os que fossem autorizados por alguma polícia digital que ainda pretendem criar, com a participação da PGR, da AGU, do comissariado de “políticas digitais” de Lula, da ABI etc. etc. etc. Em quem você confia mais para lhe dizer o que é mentira e o que é verdade? Neles ou em você mesmo?

O regime Lula-STF sustenta que não faz censura à imprensa e, portanto, é um apoiador da livre de expressão do pensamento. Mas quer fazer censura nas redes sociais (“regular”, dizem) e se houver censura nas redes sociais haverá censura no Brasil todo, ponto final. Ou só os jornalistas poderiam se manifestar sem autorização do governo, ficando todos os demais sujeitos á “regulamentação”? Não há liberdade parcial. Ou há para todos, ou não há. O X e a Meta abrem as suas plataformas para todos. O governo e o STF querem o contrário. Quem, aí, está contra e a favor da liberdade de expressão?

Supremo ameaça se tornar uma instituição marcada pelo casuísmo

Para os brasileiros, o Supremo se transformou no portal do inferno - Flávio  Chaves

Charge do Bier (Arquivo Google)

Hélio Schwartsman
Folha

Se há algo que nenhum autor controla, é a forma como será interpretado. Karl Marx provavelmente ficaria chocado com o caráter autoritário dos regimes que proclamavam agir segundo suas ideias. O projeto marxista, afinal, era um plano de emancipação, não de subjugação da humanidade.

E a forma como cada texto, palavra ou gesto é interpretado depende muito do ambiente circundante. Se em tempos de paz social dá para travar debates públicos sobre questões polêmicas de modo razoavelmente maduro, em momentos de grande polarização afetiva ocorre o inverso. Aí, tudo o que fuja a um juramento de lealdade total a um dos lados na contenda será visto como manifestação de apoio ao outro polo.

CALOR E LUZ – Como jornalista, jamais direi que devemos renunciar à discussão pública de assuntos controversos, mas devemos estar cientes de que nesses contextos ela produzirá muito mais calor do que luz.

Isso vale com força redobrada para o STF. Em fases de alta polarização afetiva, até a mais técnica das decisões da corte será lida por um quinhão da sociedade como um ato de parcialidade, uma intervenção ilegítima destinada a beneficiar o grupo adversário. Não dá para mudar isso.

A possibilidade de ser mal interpretado não é obviamente razão para o STF deixar de exercer suas funções e atuar como poder contramajoritário. Mas a corte tampouco pode descuidar de sua imagem. No longo prazo, a legitimidade de suas decisões depende de o tribunal ser percebido pela sociedade como um órgão em geral isento.

CASCAS DE BANANA – Na prática, isso significa que o STF precisa escolher bem suas brigas. Não deve ter medo de tomar decisões impopulares e polêmicas, mas não precisa atravessar a rua para escorregar em cascas de banana jogadas do outro lado.

Pois é exatamente isso o que o STF fará se mudar a regra sobre a validade, em julgamentos virtuais, de votos de ministros que se aposentam. A regra em vigor é de 2022. Não dá para mudar a jurisprudência como se muda de camisas.

Quando isso acontece —e acontece com frequência no Brasil—, não há como afastar a suspeita de casuísmo.