
Ilustração de Anette Schwartsman (Folha)
Hélio Schwartsman
Folha
Livro combina história e biografias para traçar um retrato do humanismo do século 14 aos dias de hoje
Há duas formas de se empanturrar. Você pode devorar quantidades pantagruélicas de um só prato ou saborear pequenos bocados de infindáveis petiscos. “Humanamente Possível”, de Sarah Bakewell, é um banquete intelectual do segundo tipo.
Sarah Bakewell nos serve dezenas de autores esparramados ao longo de sete séculos de tradição humanista. Começa com Petrarca e Boccaccio, nos anos 1300, passa pelo Renascimento, com sua valorização de clássicos da Antiguidade como Vitrúvio, e termina nos dias de hoje.
DIFÍCIL DEFINIR – A grande dificuldade, como o leitor já deve ter intuído, é definir o que é humanismo. Se há um movimento que resiste a definições precisas, é justamente o multifacetado humanismo.
A imagem apresenta uma versão estilizada do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, dividido em seis quadrantes. Cada quadrante tem um fundo de cor diferente: azul, verde, rosa, amarelo, laranja e cinza. O desenho do Homem Vitruviano, que mostra um homem em duas posições sobrepostas dentro de um círculo e um quadrado, é em preto e branco, destacando-se sobre os fundos coloridos.
PRINCIPAIS SABORES – Sarah Bakewell nem ousa oferecer um conceito fechado de humanismo. Ela opta por indicar os sabores principais em que ele aparece.
Na variante filosófica, por exemplo, ele costuma vir como uma rejeição a explicações sobrenaturais para os fenômenos, daí que frequentemente é confundido com agnosticismo e ateísmo. A rigor, porém, dá para ser humanista e religioso ao mesmo tempo. O pior Dante é um dos autores que aparecem com destaque no livro.
Ao fim e ao cabo, o humanismo é como a pornografia. É mais fácil reconhecer um autor humanista quando o vemos do que definir o movimento em termos abstratos. E é aí que Sarah Bakewell se mostra uma banqueteira de primeira.
GRANDES FIGURAS – Ela combina com maestria história e biografia para nos oferecer retratos do pensamento e das vidas de diversos filósofos, poetas, romancistas, dramaturgos, filólogos, pintores, arquitetos e até políticos.
Se há um denominador comum entre eles é que todos, em algum sentido valorizavam e celebravam a dimensão humana da vida. Mas mesmo isso é traiçoeiro, porque, em suas transfigurações mais recentes, o humanismo assume também a bandeira da defesa dos animais.
O livro é oportuno, por mostrar que já houve outras ocasiões na história em que humanistas tiveram de enfrentar forças que se alimentavam de intolerância, racismo e outras formas de crueldade contra humanos.
Humano, Demasiado Humano… Nietsche… bem mior…