Paulo Peres
Poemas & Canções
A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da chamada geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. No poema “Samba-Canção”, Ana Cristina revela que fez tudo para conquistar seu amado, mas acabou sendo demais.
SAMBA-CANÇÃO
Ana Cristina César
Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário,
cara pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz…
Preciso de um tema
Para escrever um poema
Seja ele sobre alegria, dor
Ou a fidelidade no amor
Nele só falarei dessas coisas do coração
Mas se nascer com melodia e harmonia
Aí melhor: faço dele um samba-cançao!
Por que não?
Amo Ana Cristina Cesar. Poeta que sempre levarei no coração.