Charge do Clayton (O Povo/CE)
Jânio de Freitas
Poder360
As várias explicações para a contínua desaprovação do presidente Lula e do governo, preços, Pix e má comunicação, são ociosas diante da mais simples: o governo é ruim. E a mais provável explicação disso tem a mesma singeleza: a inovação de Lula para o comando do governo, no terceiro mandato, não funciona.
A divisão das atividades presidenciais desconsiderou a importância da pessoa de Lula na caracterização e na dinâmica dos seus governos passados. Foram 2 fatores básicos no êxito de então. Para o novo mandato, Lula se atribuiu a função primordial de restaurar a imagem externa do país, retomando o sonho de vê-lo nas decisões mundiais.
RUI COSTA FALHOU – A parte presidencial da ação executiva sobre o dispositivo ministerial foi deslocada para a Casa Civil. A experiência de Rui Costa no governo de um grande Estado, da Bahia, embasaria a escolha para a tarefa de remontar a administração. Mas a prática não corresponde ao necessário.
Acionar 38 ministros, dar-lhes alguma coesão, com um pouco de criatividade, são ausências profundas na Casa Civil. Em parte, dada a quantidade e, pior, a baixa qualificação da ampla maioria dos ministros produzidos por chantagismo congressista.
Mas também influenciam os débitos de Rui Costa, pessoais uns, funcionais outros. Chamado pelas pesquisas a voltar-se mais aos problemas internos, Lula parece irritar-se sempre que se trata de assunto administrativo.
SEM FAZER POLÍTICA – Não chega a tanto, mas não é muito diferente na política do dia a dia. Talvez porque sua capacidade negociadora esteja limitada pelo mercenarismo voraz que domina a política partidária-parlamentar e arredores. Apesar disso, precisa mudar o corpo e a cara do governo para se religar pelo menos ao eleitorado que o elegeu.
A substituição de Nísia Trindade na Saúde é uma exposição das dificuldades para fazê-lo. A ministra não foi demitida. Foi derrubada. Palavras dela ao deixar o cargo: “Estou me referindo ao processo chamado por vocês de fritura na imprensa. Isso é inconcebível, não deveria acontecer”.
É usual, no entanto, por um costume contraditório. Os jornalistas propagam que o governo está fritando tal figura, criticam o método, mas quem faz a fritura, na verdade, são esses jornalistas.
INTERESSES ESCUSOS – E grupos políticos se aproveitam das frituras para seus interesses: dizem a repórteres que fulano vai cair, que o ministério é disputado por esse e aquele partidos, e bastam-lhes alguns reforços da fofoca. Os jornalistas fazem a fritura. Nem sempre ou quase nunca por má-fé. Por falta do devido rigor, pode ser.
O Ministério da Saúde movimenta altas verbas. Várias matilhas do Congresso, entendendo que Nísia Trindade é politicamente frágil, lançaram a fritura e a disputa por seu cargo. Ou melhor, pelas verbas. A mídia não falhou.
E Lula só resistiu até que um segundo motivo se elevou contra a ministra: a derrubada abafa as pressões de deputados, mas, sobretudo, o governo precisa na Saúde de quem faça mais barulho para fora até mesmo do que inovações. O oposto da hoje ex-ministra.
VOLTA DE PADILHA – Com desempenho elogiado por especialistas tão autorizados como o ex e excelente ministro José Gomes Temporão, Nísia Trindade não poderia ser substituída por um impostor político, ou o governo teria mais desgaste.
Para escapar a um nome indicado pelo Centrão, Lula enfim dispôs da cobrada cabeça do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Agora, de volta ao Ministério da Saúde, que dirigiu ao tempo de Dilma.
Entre a voracidade chantagista do Centrão e a maior qualidade do ministério, as substituições continuam encruadas. Como o próprio governo…