Subministro do MEC de Lula ampliou negócios fraudulentos da OEI no país

Ministério da Educação: Leonardo Barchini é nomeado secretário executivo |  CNN Brasil

Barchini, do MEC, operou a corrupção da OEI no Brasil

Vinícius Valfré, Gustavo Côrtes e André Shalders
Estadão

O crescimento da influência da organização internacional que firmou mais de R$ 710 milhões em contratos e acordos com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e foi beneficiada por incrementos de taxas definidas por decretos presidenciais, contou com a atuação de um executivo que aparece dos dois lados do “balcão de negociações”.

Leonardo Osvaldo Barchini Rosa estava no alto escalão do governo Lula, que celebrou acordo com a Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). Em seguida, passou a ser o principal nome da entidade no Brasil e assinou contratos em nome dela com o governo Lula. Barchini ocupa, hoje, o segundo cargo mais alto do Ministério da Educação (MEC), o de secretário-executivo do ministro Camilo Santana.

CONFLITO DE INTERESSES – Barchini foi procurado pela reportagem, via Ministério da Educação. Em nota, o MEC e a OEI afirmaram que não há que se falar em conflito de interesses “quando um servidor federal vai para cargo de representação diplomática em organismo internacional de caráter público do qual o Brasil faz parte”.

Em uma decisão sobre a atuação da OEI em processo no Tribunal de Contas da União (TCU), o ministro Bruno Dantas se refere à organização como “entidade privada internacional”.

Como mostrou o Estadão, a OEI gere pelo menos R$ 710 milhões em contratos, acordos e convênios com o governo federal. Só com taxas de administração, alargadas por decreto presidencial de Lula, deve arrecadar cerca de R$ 42 milhões.

LAMBANÇA TOTAL – Um raio-x da presença da entidade mostra relações com 19 órgãos e ministérios e um aumento significativo de pagamentos e contribuições, na comparação com outros governos.

Barchini entrou, saiu e entrou de novo no governo sem passar por qualquer quarentena. As datas de nomeação, de exoneração e de assinaturas em nome da organização internacional se atropelam. Em um procedimento incomum, a publicação de um projeto de cooperação com a Casa Civil, assinado por ele como OEI, ocorreu dias após a nomeação dele no governo.

Em outro episódio em que “trocou de camisa” rapidamente, ele teve a exoneração do governo publicada em um dia e, no outro, ele estava em Nova York recebendo ex-colegas de Esplanada para “trabalhar uma nova agenda de cooperação com o governo brasileiro”, ao qual ele está ligado desde a transição, em 2022.

COMISSÃO DE ÉTICA – Barchini é o secretário-executivo do MEC desde agosto de 2024. Mas só na semana passada formalizou uma consulta à Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República sobre um possível conflito de interesses.

A informação foi confirmada pelo presidente da comissão, Manoel Caetano Ferreira Filho. O caso deve ser apreciado na reunião do colegiado prevista para o dia 28 de abril.

Membro do grupo de trabalho da Educação no governo de transição em 2022, Barchini foi nomeado adjunto da secretaria-executiva do MEC logo nos primeiros dias da gestão, em janeiro de 2023. Servidor de carreira da Educação, ele é considerado uma referência nessa área.

TROCA DE POSIÇÕES – Oito meses depois da nomeação, em setembro, foi exonerado e imediatamente anunciado como chefe da OEI no Brasil, quando passou a trabalhar pela entidade privada internacional em uma “nova agenda de cooperação com o governo”.

Em maio de 2024, o MEC contratou a OEI por R$ 3,5 milhões para um projeto paralelo do G20. Outros contratos com órgãos governamentais foram assinados pela entidade, até que em julho de 2024 Leonardo Barchini foi novamente nomeado como secretário-executivo do MEC. No mês seguinte, a pasta assinou termo de contribuição voluntária de R$ 35 milhões para a OEI. Contribuição voluntária significa “doação”.

Como número 2 da pasta do ministro Camilo Santana, Barchini circula na Esplanada e no Palácio do Planalto. Como diretor e chefe da OEI no Brasil, fazia o mesmo.  

CARTÕES DE VISITA – Nos primeiros dois anos de governo, acumulou agendas com o chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Santana Ribeiro, o Marcola, ora com um cartão de visitas, ora com outro.

Enquanto isso, contratos, convênios e doações à OEI neste governo chegaram a patamares inéditos. Os R$ 710 milhões celebrados são puxados por acordos para a realização de grandes eventos, como o G-20 e a COP-30, mas também houve ampliação de repasses do governo pela modalidade de “contribuições voluntárias”.

Apesar de a OEI existir desde 1949 e atuar no Brasil há duas décadas, a atuação dela ganhou contornos diferentes no atual governo Lula. Os acordos firmados por ela se pulverizaram por diferentes órgãos e ministérios, principalmente controlados por ministros do PT, e houve uma aproximação com a primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, que tem buscado uma atuação política em favor do governo e do marido no campo social.

É DO TIPO ONG – A organização é uma entidade privada internacional. Apesar da nomenclatura, não é braço de organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU) ou a Organização Mundial do Comércio (OMC).

O Brasil é um dos 23 países integrantes da OEI. Um decreto presidencial de 2004, no primeiro governo Lula, estabeleceu condições do acordo do governo com a organização.

A única obrigação de transferência financeira do decreto é a de proporcionar “espaço físico necessário para o normal e eficaz desenvolvimento da missão, ou uma contribuição equivalente à quantia necessária para arrendar o mesmo”.

PRÓXIMO A HADDAD – O secretário-executivo do MEC, Leonardo Barchini, de 49 anos, é próximo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há mais de 20 anos. Na gestão de Haddad na Prefeitura de São Paulo, foi chefe de gabinete e secretário de Relações Internacionais e Federativas, a partir de 2013.

Quando Haddad foi ministro da Educação, Barchini atuou como chefe da Assessoria Internacional, como chefe de gabinete do ministro e como diretor de Programas. Ele é servidor de carreira da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Barchini trabalhou na campanha eleitoral de 2018, quando Fernando Haddad disputou a presidência da República. Pelos serviços de assessoria, recebeu R$ 37,5 mil. A informação está na prestação de contas do candidato apresentada à Justiça Eleitoral.

HADDAD NEGA… – A assessoria de imprensa de Fernando Haddad afirma que o ministro não indicou Barchini para a OEI nem para a gestão de Camilo Santana no MEC.

O Tribunal de Contas da União (TCU) analisa pedido de afastamento de Barchini do governo formulado por parlamentares da oposição. Em uma decisão preliminar, o ministro Bruno Dantas negou a solicitação. O caso ainda será analisado pelo plenário.

Em nota, o MEC afirmou que “não há que se falar em conflito de interesses quando um servidor público federal concursado assume cargo de representação diplomática em organismo internacional de caráter público do qual o Brasil faz parte”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Mais uma excelente reportagem. O MEC e a OEI mentem desbragadamente. O cargo de diretor da OEI no Brasil não é “representação diplomática”. Se fosse, teria de existir um decreto do presidente Lula fazendo a nomeação. A primeira-dama Janja da Silva é “coordenadora” da OEI no Brasil desde 2023, conforme ela mesmo anunciou nas redes sociais.
Detalhe importantíssimo: a matéria erra ao afirmar que “o Brasil é um dos 23 países integrantes da OEI”, porque. jamais algum presidente assinou a integração do Brasil a esta ONG. Também ao contrário do que diz a reportagem, o decreto presidencial de 2004, no primeiro governo Lula, não “estabeleceu condições do acordo do governo com a organização”. Não existe isso, o Brasil jamais se filiou à OEI. O documento que a ONG apresenta como válido foi assinado por um mero funcionário do MEC, Francisco Montojos. Os repórteres deveriam levantar isso na internet. É fácil e está tudo lá.
(C.N.)

6 thoughts on “Subministro do MEC de Lula ampliou negócios fraudulentos da OEI no país

  1. Pode-se perdoar e descondenar eventuais “desliszes” juridicamente, mas mudar o caráter dos perdoados e descondenados, nem se Freud ressuscitasse.

    Como pode alguém minimamente decente conviver numa boa, em seu governo, com um sujeito como o Ex-Ministro Juscelino?

    Não é a direita que cresce. Trata-se de preencher os vazios deixados pela degradação e decadência intelectual, política e moral do estrorvo que se autointitula “esquerda”.

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    A propósito de ouvir os jovens operadores do mercado de valores mobiliários, para se ter uma melhor idéia, menos ideologizada do que se passa relativamente ao tarifaço trumpiano, vale a pena ouvir este Hota:

    https://www.youtube.com/watch?v=sUDz4bxt0yc

    • Exatamente, Vidal, é assinado por Francisco Montojos, mero funcionário do MEC. Acordo internacional só pode ser assinado pelo presidente da República, ad referendum do Senado.

      Você está agora no caminho certo, Vidal, e verá que não há acordo da OEI com nenhum presidente.

      Abs.

      CN

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