Governo Lula precisa perder as ilusões e se preocupar com as lambanças de Trump

Imagem colorida mostra Lula e Trump - Metrópoles

Lula não entende bem o que está se passando no mundo

Mario Sabino
Metrópoles

Larry Fink, CEO da BlackRock, a maior gestora de patrimônio do mundo, com ativos de US$ 11,6 trilhões, quase 6 vezes o PIB do Brasil, disse que os Estados Unidos já estão em recessão ou muito perto de entrar em recessão por causa das lambanças de Donald Trump.

Recessões americanas costumam ter efeito dominó devastador, mas estranhamente o Brasil continua a se sentir imune aos desastres mundiais, as exceções confirmando a regra.

COMO O BRASIL… – Quando tinha 27 anos, eu era como o Brasil. Recém-casado, morando de aluguel, sem lenço nem documento, mas com a certeza de que estava cumprindo o meu destino, eu queria voltar ao jornalismo, depois de passar quase cinco anos em uma editora de livros.

Saí do emprego na editora pouco antes da eleição presidencial, o que não costuma ser uma época boa para ficar desempregado, e fui colhido pelo Plano Collor, no qual houve o confisco de todos os depósitos bancários dignos desse nome. Para conter a inflação, Fernando Collor e o seu entourage tiveram a ideia de deixar os cidadãos sem dinheiro durante um ano e meio. Brilhante.

Sem emprego, sem dinheiro na conta corrente, sem poupança, sem família rica ou mulher rica, eu tinha apenas US$ 750 debaixo do colchão, literalmente.

IMUNE AO CHOQUE? – Como a minha pobreza me distanciava do desespero de quem havia sido roubado pelo governo, eu tinha a sensação de estar imune ao choque causado pelo Plano Collor.

Era uma sensação ilusória, evidentemente. Na sequência do Plano Collor, todas as empresas entraram no modo emergencial e suspenderam novas contratações. Fui achar emprego de verdade somente um ano depois de ter saído da editora, e com um salário mais baixo do que eu precisava, embora tenha ficado feliz da vida por finalmente ter um salário na profissão que escolhi. Não tive dinheiro confiscado, mas tive o meu futuro adiado.

O Brasil se sente imune às lambanças de Donald Trump, porque é tão insignificante quanto esse rapaz de 27 anos que já fui.

UMA MIXARIA – Duas medidas que gosto de utilizar: o país representa meio por cento do comércio mundial e a mesma porcentagem da carteira de investimentos global. O Brasil é uma mixaria.

Alguém poderá dizer que as nossas reservas cambiais são grandes. Verdade. Mas boa parte dos nossos US$ 362 bilhões poderá ser queimada rapidamente, se houver um terremoto de grandes proporções na economia do planeta, da mesma forma que queimei os meus US$ 750 até encontrar emprego.

Não deveríamos nos sentir imunes. Deveríamos sentir preocupação e vergonha. Os motivos da nossa insignificância estão bem visíveis na política, mas nos recusamos a enxergá-los, como se a nossa insignificância nos permitisse viver no melhor dos mundos possíveis. Só se cresce quando as ilusões são perdidas.

3 thoughts on “Governo Lula precisa perder as ilusões e se preocupar com as lambanças de Trump

  1. Nós é que devemos estar preocupados com a lambança que a “esquerda progressista defensora da Democracia contra o avanço do nazi-fascismo” está fazendo,

    Sua Velha República Tardia até agora não disse a que veio a não ser o “derrotamos o bolsonarismo”.

    Neste toada os manés que saem perdendo somos todos nós.

    Batendo no peito proclamando nossa soberania, nos mantem sem qualquer poder de auto-determinação econômica, política e geopolítica no cenário internacional. Tudo isto pra plena extração da mais valia absolutìssima da Indústria da Miséria, seiva vital de nossas oligarquias extemporâneas, neoludistas e patrimonialistas.

    E tem uns doidões aí que deliram serem os grandes heróis mundiais que evitam o surgimento de um novo Hitler, que seria consequência direta do avanço tecnológico.

    Podemos dispensar a ajuda do Trump para que nos mantenhamos bananeiros.

  2. Para deleite de bolsotários…

    o Bananinha estaria nos States tentando conseguir o envio, ao seu pai, de uma mensagem de ‘pronto restabelecimento’ em nome de Trump.

    Mas, depois de ignorar a ‘estada’ do ex-mito nos States fugido no final de 2022 e de barrar a entrada da Chela e comitiva no Capitólio na sua posse em janeiro, Trump, na verdade, talvez nem se lembre mais de quem se trata.

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