Ana Paula Vescovi
Folha
A benevolência dos mercados em relação à posição relativa favorável do Brasil não pode ofuscar os esforços de continuidade de iniciativas econômicas que já deram certo. A recente melhora na avaliação de risco de crédito do Brasil feita pela Fitch Ratings surpreendeu os mercados tanto quanto a piora da classificação de risco dos Estados Unidos.
O comunicado veio em linha com uma visão mais positiva em relação à América Latina — especialmente após os choques da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia (acionando a busca por reaproximação de cadeias produtivas globais) —, expectativas de inevitável desaceleração da economia chinesa e deterioração dos fundamentos econômicos nas economias avançadas.
RAZÕES DO BRASIL – Segundo o comunicado da agência, em tradução livre, “os ratings do Brasil são sustentados por sua grande e diversificada economia, pela alta renda per capita, por profundos mercados domésticos e por um grande colchão de caixa que sustentam a flexibilidade de financiamento soberano e sua alta parcela da dívida em moeda local.
Os ratings também são sustentados pela capacidade de absorção de choques, suportada por uma taxa de câmbio flexível, por reservas internacionais robustas e por uma posição soberana líquida credora em moeda estrangeira”.
Para o Brasil, na atual conjuntura em particular, pesam nossas vantagens comparativas em setores com sinalização de relativa escassez a longo prazo, em especial na produção de commodities agrícolas, minerais e energéticas.
CRESCIMENTO POTENCIAL – Em artigo anterior, já discuti os possíveis efeitos de tais vantagens sobre o crescimento potencial do país.
Numa inferência de médio prazo, seria razoável esperar benefícios para o setor externo brasileiro, o qual já descreve um quadro bem robusto. Os impactos até agora, contudo, são pouco evidentes.
Há uma real melhora nos fluxos de comércio, em linha com exportações de commodities respondendo por cerca de dois terços da pauta brasileira. O grau de abertura comercial do país alcançou os níveis históricos mais altos, com elevação nos patamares dos termos de troca (relação entre os preços de exportações e importações) depois de 2020.
DIFERENCIAIS DE JUROS – Os investimentos em portfólio foram levemente positivos para o Brasil no primeiro semestre do ano, em US$ 4,2 bilhões, o que ocorre muito em razão dos elevados diferenciais de juros em relação ao resto do mundo.
O ciclo monetário já iniciou seu afrouxamento aqui, e os diferenciais de juros reduzir-se-ão se considerarmos que as economias avançadas estão apenas perto de encerrar seus ciclos de alta de juros. Esse descasamento deverá ser um fator a reduzir a intensidade, ou até reverter, a tendência de entrada de recursos financeiros.
Por sua vez, os investimentos diretos têm se recuperado desde a forte queda sofrida durante a pandemia e deverão retomar os patamares anteriores, próximos a US$ 80 bilhões.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ana Paula Vescovi é economista-chefe do Santander Brasil. Faz uma leitura objetiva da decisão da Fitch Ratings, já seguida por outras agências de risco. Quanto à defesa dos juros altos, é natural. Todo banqueiro adora uma política de juros altos, mas é altamente negativa para o país, devido ao efeito imediato no aumento da dívida pública. (C.N.)
A programada auto-imolação da Fênix!
“os ratings do Brasil são sustentados por sua grande e diversificada economia, pela alta renda per capita, por profundos mercados domésticos”…
Onde fica esse país?