Dora Kramer
Folha
O PSDB já foi um partido voltado ao conteúdo das questões nacionais. Sustentou o Plano Real e fez aliança à direita para emplacar mudanças estruturais de peso na economia, nas comunicações, no funcionamento das estatais, em avanços institucionais. Isso há coisa de 30 anos.
Ancorados na liderança de Fernando Henrique Cardoso, em figuras como Franco Montoro e Mário Covas, ministros do calibre dos antagonistas José Serra e Pedro Malan, os tucanos contribuíram para levar o Brasil ao futuro em decisões de bons resultados.
DECADÊNCIA – Por várias razões dentre as quais se destaca a incapacidade de dialogar com a população e a inabilidade no ofício de oposição, fora do poder o partido não conseguiu se manter relevante.
O tucanato esvaiu-se ao longo do tempo e hoje busca se reerguer por uma via diversa daquela que motivou os fundadores da nova sigla em 1988.
Na visão dos atuais dirigentes, a primeira e essencial medida para a recuperação é a retomada do berço, São Paulo. Ocorreu-lhes a ideia de investir na fama de um jornalista que, dono de credenciais como apresentador de televisão, não prima por lastro na política nem detém certificados de eficácia no ramo.
UM ANTIPOLÍTICO – Em suas manifestações iniciais José Luiz Datena renega a atividade, diz que político nenhum é digno de sua confiança, ameaça nova desistência se o aborrecerem, passa raso por questões administrativa e, assim, veste o figurino da antipolítica.
Tal roupagem já rendeu êxitos a Jair Bolsonaro e Fernando Collor. Isso para ficar nos exemplos mais recentes e não precisarmos ir a Jânio Quadros e demais populistas.
Não se pode descartar a hipótese de que essa inflexão produza o ganho imediato imaginado por esse PSDB repaginado. Mas, ainda assim, ficará no ar a dúvida sobre que partido é esse e que capacidade terá de conversar a sério com a sociedade para se reabilitar.
Sem sangue, camera e o Comandante Hamilton?
Um desequilibrado.