Trump arrisca trégua em Gaza ao propor “limpeza étnica” a Israel

Milhares de palestinos deslocados retornam ao norte de Gaza

Palestinos voltam a Gaza, como se a guerra tivesse acabado

Wálter Maierovitch
do UOL

O novo presidente americano começou o mandato com intenção de assustar o mundo. Para tanto, usou a truculenta “doutrina Trump”. Depois de mostrar os músculos ao presidente colombiano Gustavo Petro, que recuou no caso das deportações por real tratamento desumano a colombianos, Trump avisou:

“Os eventos de hoje [deportações] mostram claramente ao mundo que os EUA já estão sendo respeitados novamente”.

ESTILO MILOSEVIC – No embalo das deportações, Trump sente-se à vontade até para, na trégua de cessar-fogo por 42 dias celebrada entre Israel e Hamas, por meio da intermediação de Qatar, Egito e EUA, fazer vibrar na sepultura até Slobodan Milosevic, o ditador que tentou a limpeza étnica na ex-Iugoslávia, com a criação da Grande Sérvia e a expulsão de muçulmanos, croatas e bósnios.

Trump, sem mais, demonstrou, em face do incidente de sábado, com relação à combinada troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, a sua brutal irracionalidade.

Como decorrência do incidente, as forças de Israel (IDF) fecharam a passagem de Netzarim, uma linha militar que corta a faixa geográfica de Gaza de leste a oeste. Com isso, impediu-se o gigantesco fluxo migratório em direção ao norte, com a volta dos palestinos para suas casas (se ainda existirem).

CRISE CONTORNADA – O caso depois foi resolvido pela exitosa intervenção do Qatar e pelo receio de Netanyahu de não recuperar os reféns que estão há 15 meses em cativeiro do Hamas.

Nesta terça-feira, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo mostram, nas suas capas, impressionante foto de milhares de palestinos em deslocamento ao norte. Lembrava um fotograma de deslocamento bíblico, mostrado no cinema. Segundo o Hamas, mais de 300 mil palestinos já retornaram ao norte de Gaza, o que representaria uma vitória da organização, no campo da resistência.

Como se fosse um estúpido ou um desinformado, Trump propôs o esvaziamento da faixa geográfica de Gaza. Ou seja, cerca de 2,4 milhões de palestinos migrariam para a Jordânia e o Egito.

LIMPEZA ÉTNICA – À luz do direito internacional público, o direito das gentes, tal proposta tipifica ilícito definido como “limpeza étnica”.

Trump recebeu um retumbante “não” dos governantes árabes da região, incluindo a autoridade nacional da Palestina, sediada na Cisjordânia, em faixa do território contemplado nos acordos de Oslo, ao tempo da presidência de Bill Clinton. Diante disso, Trump chamou Netanyahu para um futuro encontro.

Nem o sanguinário premiê israelense, que conhece a história da desocupação palestina para a instalação do Estado de Israel, a “nakba” (catástrofe em árabe), seria capaz de propor tamanho despautério.

TRÉGUA EM RISCO -A futura conversa com Netanyahu tornou-se uma incógnita. Por evidente, se Trump inventar algo, a precária trégua entre Israel e Hamas poderá ser rescindida.

O bloqueio militar do corredor de Netzarim ocorreu depois de o Hamas ter devolvido apenas quatro das cinco reféns. Faltou libertar a civil Arbel Yerud, de 29 anos.

As quatro mulheres libertadas, soldadas israelenses que estavam de plantão próximo à invadida linha de fronteira quando do ataque terrorista, foram entregues pelo Hamas à Cruz Vermelha Internacional. Tudo depois de uma encenação de deliberações e batidas de carimbos sob olhares de palestinos concentrados dando plateia. O Hamas pretendeu mostrar à população que ainda mantém o controle e o governo do território.

Arbel será devolvida ainda na primeira fase do acordo, que prevê a entrega de 33 reféns.

OITO MORTOS – Segundo noticiam os sites e jornais americanos, europeus e israelenses, há rumores de que, dos 33 nomes constantes da primeira lista de reféns, oito estão mortos. Assim, apenas os seus corpos serão devolvidos: os cadáveres, como se sabe, são moedas de troca. Por isso, são congelados e permanecem conservados.

A trégua celebrada é muito frágil, segundo os especialistas em geopolítica e os 007 dos serviços de inteligência europeus.

A trégua prevê desenvolvimento em três fases. Ainda estamos no início da primeira. Além da fragilidade, um novo elemento de ruptura passou a ser considerado: o protagonismo de Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA trégua só existe por uma questão financeira – israelenses e palestinos estão exauridos e seus respectivos financiadores estão fazendo jogo duro, devido ao efeito Trump. O ódio entre as duas nacionalidades é eterno e corrosivo. Enquanto não existirem dois Estados, jamais haverá um só dia verdadeiro de paz. (C.N.)

8 thoughts on “Trump arrisca trégua em Gaza ao propor “limpeza étnica” a Israel

  1. Sr. Newton

    A picanha ficou para trás, foi um sonho de campanha vomitado pela Maior Ladrão que o Mundo Já viu.

    O Ladrão vai dar várias pauladas na cabeça do preto, branco pobre e favelado também neste ano….

    O café e as carnes viraram artigos de luxo, o Ladrão conseguiu transformar o café em ouro…..

    “…Prepare o bolso para os ‘vilões’ da inflação: café e carnes podem subir até 20% neste ano

    Previsão é de que alta dos preços de alimentos fique próxima da média projetada para a inflação geral, de 5,5%…..”

    Perguntinha, se o café e as carnes vão aumentar 20% como pode ter uma inflação de 5,5%…?

    Qual é a mágica.??

    O Salário nano-mini-minúsculo-minimo também vai aumentar 20%…??

    aquele abraço.

  2. Um tratado de paz engolido a contragosto pelos dois lados, com um fiel da balança esquizofrênico paranoide, tem poucas chances de chegar a bom termo.

  3. Senhor Delcio Lima , lembre-se que o ” Grupo Hamas ” , fora gestado , parido , alimentado , educado , treinado e armado , pelas próprias autoridades políticas , de segurança , militares e religiosas ISRAELENSES , visando cindir e enfraquecer a ” Autoridade Palestina – OLP ” a serviço de Israel , sendo que o evento terrorista de 07/10/2023 , fora conveniente , permitido e facilitado pelas próprias autoridades Israelenses , tal como acontecerá nos EUA , o evento terrorista de 11/09/2001 .

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