Merval Pereira
O Globo
O Supremo Tribunal Federal (STF) está abusando do direito de errar por último. Alguém tem de avisar às excelências que a frase de Ruy Barbosa tem o sentido de que o STF tem a palavra final. Mas e se a palavra final de um mesmo juiz muda como biruta ao vento? Muda o “Zeitgeist” (espírito do tempo, em alemão), muda o voto?
O então ex-presidente Lula foi para a cadeia por uma decisão do Supremo de permitir a prisão depois de condenação em segunda instância. Ficou preso 1 ano, 7 meses e 1 dia, período em que vários habeas corpus em seu favor foram recusados pela maioria do Supremo. Um belo dia, ministros mudaram de ideia e de voto, permitindo que se formasse a maioria para liberar Lula: Rosa Weber, que sempre fora contra, mas seguira a maioria na votação anterior, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, alegando que havia abuso na prisão em segunda instância.
UM MINISTRO VOLÚVEL – O ministro Dias Toffoli, ao tomar a decisão drástica de anular todos os processos da Lava-Jato, mostrou quão volúvel é. Umbilicalmente ligado ao PT, de quem foi advogado, e a Lula, foi cruel ao impedi-lo, preso, de assistir ao funeral de um irmão.
Ao assumir a presidência do STF, inovou ao convidar para assessorá-lo o general Fernando Azevedo, um militar tão próximo ao então presidente Bolsonaro que acabou nomeado ministro da Defesa. E passou a chamar o golpe de 64 de “movimento militar”.
O ministro Gilmar Mendes, fluente em alemão, sabe o que é isso. Classificou de cleptocracia o governo petista, com base nas descobertas da Operação Lava-Jato. Mudou o Zeitgeist, mudou sua visão. Classificou de “organização criminosa” o grupo de Curitiba que desnudou a “cleptocracia”, depois que conversas entre os procuradores e o então juiz Sergio Moro foram vazadas devido ao hacker, hoje preso, Walter Delgatti.
ANULAR AO INVÉS DE CORRIGIR – O ministro Gilmar alega, com razão, que não se pode combater a corrupção cometendo ilegalidades. Mas por que os processos contra os corruptos não continuaram até o final, escoimados das ilegalidades?
A velha máxima jurídica de que “o que não está nos autos não está na vida” já não vale mais. As provas obtidas de maneira ilegal pelo hacker contra os procuradores de Curitiba e Moro foram usadas em diversos votos por variados ministros, até liberadas para a defesa de Lula.
O advogado Alberto Toron, de muitos dos envolvidos na Lava-Jato, aplaudiu a decisão de Toffoli e alegou que não se pode saber a legalidade das decisões sobre o acordo de leniência da Odebrecht porque há “incertezas quanto à veracidade das informações que constam dessas plataformas” (referindo-se aos sistemas MyWebDay e Drousys, que guardavam os nomes, codinomes e quanto cada corrompido recebeu).
EXEMPLO CONTRÁRIO – Por acaso foi atestada a veracidade das mensagens hackeadas dos celulares dos procuradores no Telegram? Também lhes faltam a “cadeia de custódia”, até por terem sido conseguidas de maneira ilegal.
Além do mais, as confissões foram fartas, os bilhões devolvidos são reais, assim como reais são os bilhões de dólares que o governo brasileiro pagou a investidores estrangeiros da Petrobras e de outras estatais.
A cleptocracia foi comprovada vastamente, e agora, com a liberação geral de todos os condenados, viveremos a esdrúxula situação de ter que devolver dinheiro a corruptos.
CID FOI TORTURADO? – Veja-se o caso atual da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Bolsonaro. Não é preciso ser bolsonarista para estranhar que nenhum ministro do Supremo tenha se levantado contra a prisão preventiva alongada do militar, método denunciado como “tortura psicológica” pelo ministro Toffoli contra a Lava-Jato.
Outra questão que a volubilidade do Supremo pode provocar: até quando as consequências da delação do assessor de Bolsonaro valerão? Bolsonaro continuará inelegível ou, se mudar o “Zeitgeist”, mudarão também os votos de nossos ministros?
Se eventualmente a direita ganhar a eleição em 2026, as joias acabarão legalizadas? Qual será o “Zeitgeist” do momento? São dúvidas que parecem absurdas, mas pertinentes diante da insegurança jurídica que as mudanças de rumo do Supremo ensejam.
De novo?
Se não quiser ler a verdade é só parar de ler.
Caro Walsh,
muitas vezes a verdade para ti é a mentira para mim.
Sempre digo que o que sabemos é ínfimo diante daquilo que desconhecemos,
Há as jóias do “mal” e as do “bem”.
https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/avaliadas-em-mais-de-r750-mil-joias-de-sergio-cabral-e-ex-mulher-sao-leiloadas/
O porta voz deveria perceber os próprios erros.
Assim como há equívocos jurídicos do “mal” e do “bem”.
Há os que podem ser desconsiderados, como exigência de acordos absolutamente desnecessários. E há aqueles monstruosos, ainda que assim considerados como corolário dos dos pequenos equívocos daqueles.
https://congressoemfoco.uol.com.br/area/justica/toffoli-anula-todas-as-provas-contra-lula-em-acordos-da-lava-jato/
Parece, apenas parece, que Merval Pereira, em artigo no jornal O Globo, acordou sobre o comportamento de ministros do STF. Louvo sua coragem e aplaudo seus argumentos. Rezo mesmo, para que o artigo não seja uma pegadinha e amanhã o autor também vire a casaca, como tantos outros viraram e viram, mudando de cor como camaleão, trocando de opinião como se troca de camisa, consoante os ministros aos quais promove justas observações. A palavra de Merval Soares Pereira Filho, jornalista e escritor brasileiro, presidente da Academia Brasileira de Letras, tem muita importância e força. Suas observações são um alerta para o país, principalmente nesse momento obscuro onde “nem vaca reconhece seu bezerro”.
E digitou, enfim: “O então ex-presidente Lula foi para a cadeia por uma decisão do Supremo de permitir a prisão depois de condenação em segunda instância. Ficou preso 1 ano, 7 meses e 1 dia, período em que vários habeas corpus em seu favor foram recusados pela maioria do Supremo. Um belo dia, ministros mudaram de ideia e de voto, permitindo que se formasse a maioria para liberar Lula: Rosa Weber, que sempre fora contra, mas seguira a maioria na votação anterior, Gilmar Mendes e Dias Toffoli, alegando que havia abuso na prisão em segunda instância.”
Tudo o que foi dito causa e agrava ainda mais a insegurança jurídica em que estamos atolados. Um país do tamanho do Brasil não pode aceitar um STF que decidiu pelo ativismo político judicial (parte não abordada pelo jornalista), mudando regras do jogo e driblando (reinterpretando) artigos da Constituição Federal fazendo conclusões esquizofrênicas. Ministros com visível contaminação em suas capacidades de pensar, sentir e comportar-se com clareza diante dos autos, onde deveriam inclusive estar adstritos.
Insegurança jurídica é juiz combinar com promotor sentenças.
Como projeto político.
Mais um a atacar o STF. Bolsonaro agradece.