Indicação de Pochmann para o IBGE e as lições alarmantes vindas da Argentina

Marcio Pochmann, um radical até entre os heterodoxos

Maior problema de Pochmann são as teses heterodoxas

Diogo Schelp
Gazeta do Povo

Indicado por Lula para presidir o IBGE, Márcio Pochmann é o que se costuma chamar de “economista heterodoxo”. Heterodoxo é alguém que foge dos padrões aceitos ou prevalentes numa área de conhecimento, contrariando suas ideias centrais e tradicionais — na maioria das vezes testadas e confirmadas ao longo do tempo.

Um certo tipo de heterodoxia pode ajudar a trazer inovação ao pensamento econômico. Há quem diga, por exemplo, que o bem-sucedido Plano Real, que acabou com a hiperinflação no Brasil, sustentou-se em princípios heterodoxos.

QUESTÃO IDEOLÓGICA – Há um tipo de heterodoxia, no entanto, que não passa de repetição de modelos ou ideias econômicas historicamente fracassados. O socialismo, uma heterodoxia econômica, é o exemplo mais óbvio e conhecido.

A linha de pensamento de Pochmann enquadra-se no segundo tipo de heterodoxia econômica. Em vez de inovação, ela resiste a novidades; em vez de rigor técnico, ela mergulha o debate econômico em dogmas ideológicos ultrapassados. Isso fica bem evidente nas críticas que Pochmann fez ao lançamento do Pix, em 2020.

“Com o Pix, Bacen [Banco Central] concede mais um passo na via neocolonial à qual o Brasil já se encontra ao continuar seguindo o receituário neoliberal. Na sequência, vem a abertura financeira escancarada com o real digital e a sua conversibilidade ao dólar. Condição perfeita ao protetorado dos EUA”, escreveu o economista em uma rede social.

BOA INOVAÇÃO – O Pix foi uma inovação muito bem-sucedida. Se fosse ruim para a população, não teria sido adotado pelos brasileiros tão rapidamente, fazendo do país em pouco tempo o vice-campeão mundial em pagamentos instantâneos. Mas Pochmann só conseguiu enxergar sob a ótica do antiamericanismo e do medo do bicho-papão neoliberal esse novo sistema de pagamentos, que reduziu custos e burocracia bancária para os cidadãos e aumentou a inclusão financeira para os mais pobres.

O cargo que Pochmann irá ocupar, presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), exige acima de tudo apego a critérios técnicos.

Trata-se da instituição responsável não apenas pela elaboração e divulgação dos resultados do Censo Demográfico, que embasam as políticas públicas, mas também pelas estatísticas oficiais de inflação, mercado de trabalho e crescimento econômico.

EXEMPLO ARGENTINO – Sem dados confiáveis, na Argentina era impossível reajustar salários de forma justa e não se conseguia descobrir o tamanho da pobreza crescente no país

Quando a ideologia e os interesses políticos contaminam o trabalho técnico de instituições como o IBGE, o resultado é o caos, como comprova o caso da Argentina.

Entre 2007 e 2016, nos governos de Néstor e Cristina Kirchner, o equivalente argentino do IBGE, o Indec, sofreu interferência política e seus técnicos foram pressionados a maquiar os dados econômicos, especialmente de inflação e de PIB.

INFLAÇÃO OCULTA – Como a realidade econômica não era favorável à imagem do governo e aos cálculos para o pagamento dos credores da dívida argentina, os Kirchner acharam que bastava contar uma história diferente divulgando números falsos, mais positivos.

Assim, a inflação acumulada no período de dez anos, que segundo o governo foi de cerca de 90%, na realidade chegou a 170%, no cálculo de entidades independentes — que eram multadas por ousar desafiar os números oficiais.

A maquiagem das estatísticas destruiu a credibilidade do Indec, do governo e, aos olhos de investidores e credores externos, da Argentina em si. Sem dados confiáveis, era impossível reajustar salários de forma justa e não se conseguia descobrir o tamanho da pobreza crescente no país, além de criar uma situação de incerteza que alimentava o próprio dragão da inflação.

E POCHMANN? – Não é preciso que Márcio Pochmann chegue ao extremo de maquiar os números descaradamente, como fez o Indec nos governos Kirchner, para abalar a credibilidade do IBGE.

Basta que continue ventilando suas ideias heterodoxas em entrevistas, que promova um aparelhamento do IBGE com funcionários de perfil ideológico, como fez durante sua presidência no Ipea (Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada) entre 2007 e 2012, e que defenda mudanças metodológicas nos índices para que se instale a suspeita de que o padrão técnico no órgão foi abandonado em prol de interesses imediatos do Palácio do Planalto, abalando a credibilidade dos dados oficiais.

Como mostra o exemplo argentino, quando se está lidando com estatísticas, credibilidade é tudo — e desconfiança pode gerar o caos.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Missões dadas ao hacker Delgatti por Carla Zambelli eram sinal de desespero golpista

Zambelli é alvo de operação da PF e tem sigilo quebrado | Política | Valor  Econômico

Carla Zambelli posou para a posteridade ao lado do hacker

Bruno Boghossian
Folha

A gana bolsonarista por um golpe pode ser medida pelo número de vezes em que a turma acionou o hacker Walter Delgatti na reta final da eleição. Ele teria recebido quatro missões para tumultuar a campanha, atacar a credibilidade do TSE e abrir caminhos para melar a votação.

A convocação do hacker foi uma daquelas ideias ambiciosas de quem tem teorias da conspiração nas veias. Ao conhecer Delgatti em setembro de 2022, a deputada Carla Zambelli perguntou se ele conseguiria invadir as urnas eletrônicas para provar uma suposta vulnerabilidade.

DUAS MISSÕES – No encontro, de acordo com o depoimento do hacker à Polícia Federal, a parlamentar fez um segundo pedido. Se não fosse possível invadir as urnas, ele poderia usar sua experiência na Vaza Jato para acessar o celular de Alexandre de Moraes e roubar mensagens que comprometeriam o presidente do TSE.

A prova de que o plano era levado a sério veio quando Delgatti foi chamado ao Palácio da Alvorada para uma reunião com Jair Bolsonaro. Lá, o presidente teria repetido a encomenda da invasão das urnas.

O hacker não conseguiu executar a tarefa, mas entregou outro produto. Ele contou à PF que, a pedido de Zambelli, invadiu um sistema para criar um mandado de prisão fajuto contra Moraes. Parece maluquice, mas há gente que chorou de alegria nas ruas de Brasília com a notícia falsa de um estado de sítio em 2021.

DIZ O ADVOGADO – Além de ir à casa de Bolsonaro, o hacker também pode ter participado de reuniões no Ministério da Defesa. O advogado de Delgatti disse à GloboNews que seu cliente contribuiu com questionamentos feitos pelos militares ao TSE sobre as urnas.

As maquinações golpistas eram comuns porque os bolsonaristas provavelmente sabiam que perderiam a eleição, pensavam que era possível virar a mesa e acreditavam que não seriam punidos.

Se tivessem dedicado tanta energia a ganhar no voto, talvez também tivessem fracassado, dada a baixa qualidade dos personagens, mas ao menos correriam um risco menor de parar na prisão.

Câmara vai aprovar o vexaminoso perdão aos desvios de recursos feitos pelos partidos

TRIBUNA DA INTERNET | Emenda que anistia dívidas e multas dos partidos políticos é uma vergonha mundial

Charge do Marco Jacobsen (Arquivo Google)

Carlos Andreazza
O Globo

A melhor representação — o mais preciso rosto — do Congresso Lira, com seu rito-ritmo atropelador do Parlamento, está na chamada PEC da Anistia, a PEC do Esculacho, como prefiro; uma Proposta de Emenda à Constituição que consistirá, prosperando, no maior perdão da História a partidos políticos no Brasil. Algo sem precedentes até para a cultura corporativista brasileira.

Protocolada em março na Câmara, passou largamente — em maio — pela Comissão de Constituição e Justiça, 45 x 10, e só não teve comissão especial instalada em julho, antes do recesso, por gestões proteladoras do PSOL, que se valeu dos instrumentos de obstrução ainda restantes à atividade legislativa, combinadas sobretudo à imposição da ordem do dia do Congresso Nacional, que fez soar o gongo e determinou o adiamento da sessão. Mas a comissão foi instalada logo na primeira sessão pós-recesso, nesta terça-feira.

RITMO ACELERADO – É questão de tempo, porém. Pouquíssimo. E não será surpresa se a cousa andar rapidamente para logo chegar ao plenário. A matéria é prioritária — muito mais que a apreciação do Orçamento — para os deputados; especialmente para os donos dos partidos. É fácil compreender as razões.

A PEC tem somente três artigos, aos quais concedo o mérito da clareza. Não há o mais mínimo pudor. Nenhum rubor. A proposta de esculacho é objetiva. Concentrada. Focada. Obra-prima da concisão. Tentarei ser igualmente conciso para resumi-la.

O primeiro artigo estende ao período da última eleição — a de outubro de 2022 — a anistia a partidos que descumpriram a cota mínima de repasses de recursos públicos a candidaturas de mulheres e negros.

PUXADINHOS – Estende porque, em abril do ano passado, o Congresso — com o estadista Pacheco e outros alcolumbres — já aprovara e promulgara emenda à Constituição que anistiava os partidos por ignorarem as cotas em eleições passadas. É legislação em causa própria sobre legislação em causa própria — essa sucessão de desmandos se dando sob a forma de puxadinhos inscritos, como quem bebesse água, na Carta.

Não vi barulho, certamente não um alto, dos ministérios do governo Lula que cuidam dos direitos iguais para mulheres e negros. Decerto houve constrangimento, já que o PT — de braços dados com o PL de Bolsonaro e Valdemar — apoia a PEC. Espero que tenha havido vergonha.

Tenho certeza de que haverá negócio. E intuo que esse — por mais midiaticamente escandaloso — seja o artigo negociável. Abrandado, flexibilizado, em nome da manutenção do próximo — o que verdadeiramente fará a rapaziada lavar a égua.

SEM PUNIÇÕES – O segundo artigo estabelece que — e veja-se o grau de inconstitucionalidade admitido pela CCJ da Câmara, instância tornada mera carimbadora dos interesses liristas — “não incidirão sanções de qualquer natureza, inclusive de devolução e recolhimento de valores, multa ou suspensão do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, nas prestações de contas de exercício financeiro e eleitoral de partidos políticos que se derem anteriormente à promulgação desta alteração de emenda constitucional.”

Preferi reproduzir o texto, entre aspas, para não parecer que exagero ao apontar a gravidade do troço. Propõe-se anistia geral, absoluta, sem senões, a cobrir mesmo, para além do que seria um marco tangível, a eleição de 2022, o futuro — o que se faz agora e o que se fará, com dinheiros públicos, até a promulgação da lei.

É um convite, cheque em branco, a que se barbarize ainda mais e imediatamente — um estímulo a que partidos adquiram aviões, renovem a frota de automóveis e comprem toneladas de carnes para churrasco. Serão anistiados. E — a história indica, arrombada a porteira — de novo e de novo.

TRABALHO INÚTIL – Aprovada a PEC, seus efeitos equivalerão a anular todo o trabalho de análise da Justiça Eleitoral sobre as contas dos partidos.

Para que se tenha a ordem de grandeza da tunga: só no último pacote de julgamentos das prestações partidárias, o TSE determinou a devolução de R$ 40 milhões aos cofres públicos.

Foram 19 as contas reprovadas. Dezesseis as aprovadas com ressalvas. Não à toa tão unidos, com raras exceções, partidos cujos discursos apregoam visões de mundo de todo diversas — menos na hora de proteger o tesouro (para geri-lo sob lógica privada) proveniente de fundos públicos.

MAIS DINHEIRO – Por fim, o terceiro artigo permite que os partidos voltem a receber dinheiro de empresas “para quitar dívidas com fornecedores contraídas ou assumidas até agosto de 2015”.

Trata-se de uma afronta, indisfarçada, à decisão do Supremo Tribunal Federal (de setembro de 2015) que proibiu financiamento empresarial a partidos e campanhas.

Aprovada, essa PEC do Esculacho formará — ao lado da institucionalização do orçamento secreto, que continua — como símbolo das lideranças de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco no Congresso Nacional.

Lula ainda não tem um projeto de governo e nem um plano de metas

Charge do galvão Bertazzi (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Há mais de seis meses no Palácio do Planalto, o presidente Lula da Silva, cuja popularidade segue em boa escala, não tem ainda um projeto integrado de governo e muito menos um plano de metas através do qual possa cobrar os desempenhos de sua equipe, incluindo além dos ministérios, as principais empresas estatais.

Ontem mesmo, quarta-feira, em artigo no O Globo, Vera Magalhães destacou a pressão de Lula sobre a administração da Petrobras para que funcione alinhada com os interesses do país. Portanto, na visão da jornalista, Lula ainda não considera a Petrobras integrada com os seus objetivos econômicos e sociais.

REFLEXOS – Mais uma vez, entra em foco, a questão dos preços tanto do petróleo quanto de seus derivados como a gasolina, o óleo diesel e o gás de modo geral. Com a política de preços que vinha sendo adotada no governo Bolsonaro, a estatal alcançou grandes lucros e distribuiu muitos dividendos. Mas seus resultados não refletiram numa melhoria das condições de vida da população. Pode-se dizer que a Petrobras atuou como uma empresa privada voltada para o lucro e para a sua acumulação.

Na realidade ela é uma empresa estatal e, por isso, tem que se encontrar vinculada a uma política de governo. Caso contrário, não faria sentido ela ter a União como a sua principal acionista. A questão do petróleo sempre foi motivo de amplo debate e de pressões externas e internas. A criação da Petrobras em 1953 é um exemplo. Mas isso pertence ao passado.

No presente é indispensável que o presidente Lula da Silva consiga traçar uma política definida claramente para a Petrobras e para o país. O presidente da República toca em pontos isolados da administração e não consegue fechar uma rede de iniciativas decorrentes de seus próprios conceitos.

ATAQUES –  Há meses, por exemplo, ele atacou fortemente a privatização da Eletrobras, dizendo, inclusive, que o processo foi marcado por uma “bandidagem”. Afirmação gravíssima, atingindo a segunda maior estatal do país. Mas não houve sequência para o combate à bandidagem que o próprio presidente identificou.

O programa Bolsa-Família permanece, mas não vem à tona os seus principais resultados, talvez por consequência da falta de divulgação profissional e gratuita sobre o trabalho do governo. Na edição de ontem de O Globo, Sérgio Roxo destaca um aspecto importante que acentua uma falta de articulação.

São anúncios do presidente Lula que surpreendem ministros do seu próprio governo. Isso aconteceu em vários casos, incluindo o programa de incentivos para a aquisição de eletrodomésticos. Há também o caso de passagens aéreas a preços reduzidos, além do financiamento de automóveis populares, que de populares só têm o nome.

ANTECEDÊNCIA – Trata-se não apenas que ministros contestem as iniciativas, mas que sejam avisados com antecedência. Agora mesmo, ocorreu o caso da nomeação de Marcio Pochmann para o IBGE, episódio que o presidente da República diz ter avisado à ministra Simone Tebet. É possível que em alguns casos, consequência do acúmulo de trabalho e responsabilidade, Lula possa fazer alguma confusão sobre os assuntos, mas isso não elimina a existência de uma descoordenação bastante visível.

Jeniffer Gularte, O Globo, destaca que a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, reuniu-se com o ministro Alexandre Padilha e com Marcio Macedo, secretário-geral da Presidência, num esforço para se manter no posto para o qual foi nomeada no início do atual governo. A permanência de titulares de cargos importantes, entre eles o da Petrobras, não deve continuar sendo uma consequência de pressões políticas que surgem repentinamente de vários ângulos. Tem que ser resultado de uma política integral do próprio Poder Executivo.

PGR – O presidente Lula da Silva, pelas suas próprias declarações e o seu ângulo de visão, está procurando um novo procurador-geral da República.  O tema é objeto de excelente reportagem de Jeniffer Gularte, Marianna Muniz, Alice Cravo e Paola Serra, O Globo. Lula deixou claro que substituirá Augusto Aras no momento em que disse que fará um pente-fino nos nomes cotados.

Pretende ouvir, sustenta a reportagem, os ministros Flávio Dino, Jorge Messias, Alexandre Padilha e o líder no Senado, Jaques Wagner. Ele já conversou sobre o assunto com os ministros do Supremo Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. De fato, a substituição de Augusto Aras sempre pareceu inevitável, sobretudo em função dos atritos que manteve com o STF.

A lista tríplice parece estar ultrapassada no pensamento do presidente da República. Mas isso não impede que algum procurador bem aceito por seus pares não termine sendo indicado para o posto. Como se observa, há vacilações demais e decisões de menos no Palácio do Planalto.

COPA FEMININA –  Foi uma partida difícil a que a seleção brasileira enfrentou diante da Jamaica que conseguiu neutralizar os ataques da seleção dourada que precisava da vitória. O empate classificou a Jamaica. Mais uma Copa se foi, mas outras Copas virão.

É do futebol, é do esporte em geral. Na minha opinião faltou comando à treinadora da equipe, Pia Sundhage.

CPIs mostram que general GDias é um dos principais protagonistas do 8 de janeiro

ex-ministro do GSI de Lula, Gonçalves Dias.

Equipe de GDias não reprimiu e até serviu água aos vândalos

Camila Turtelli e Luísa Marzullo
O Globo

Exonerado por suspeita de omissão no 8 de janeiro, o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) general Gonçalves Dias tornou-se personagem principal de duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) no Congresso. O ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura Cunha afirmou, em oitiva no colegiado que apura os Atos Golpistas, que mandou alertas a GDias, como é conhecido, sobre a possibilidade de uma ação extremista como a que acabou ocorrendo naquela data.

Já na comissão que mira a atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem terra (MST), onde prestou depoimento, o ex-chefe do GSI foi pivô de um bate-boca entre o relator, deputado Ricardo Salles (PL-SP), e a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).

RECEBEU ALERTAS – Ao comparecer à CPI dos Ataques, Cunha afirmou que o registro de que GDias havia recebido os alertas chegou a ser formalizado em um documento, depois arquivado por ordem do próprio general, segundo o ex-diretor da Abin. Cunha estava à frente da agência no dia 8 de janeiro.

— Fiz os dois relatórios. O primeiro continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e também os alertas encaminhados por mim pessoalmente ao ministro-chefe do GSI. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali, porque não era o destinatário oficial daquelas mensagens, e que ali fosse mantido apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp. Eu obedeci a ordem.

A alteração dos registros originou dois relatórios com informações distintas sobre os destinatários dos alertas: um com e outro sem o nome de GDias. A edição do documento, com a extração do nome de GDias, foi revelada em maio pela colunista do GLOBO Malu Gaspar.

GDIAS NEGOU FRAUDE – Em depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal, em junho, o militar negou adulteração do material.

— A Abin respondeu (a solicitação do Congresso) com um compilado de mensagens de aplicativo. Esse documento tinha lá ‘ministro do GSI’. Eu não participei de nenhum grupo de WhatsApp, eu não sou o difusor daquele compilado de mensagens. Então aquele documento não condizia com a realidade. Esse era um documento. Ele foi acertado e enviado — disse na ocasião.

De acordo com Cunha, o documento com o registro de que GDias recebeu alertas foi arquivado na Abin em caso de necessidade de “consulta futura”. Ele refutou que tenha adulterado informações e reiterou que a mudança ocorreu por ordem do então ministro. Segundo o oficial de inteligência, a Abin difundiu para diversos órgãos do governo 33 alertas citando, entre outros pontos, a “detecção ao estímulo de invasões”.

GDIAS TENTA MANIPULAR – Mais tarde, durante depoimento à CPI do MST, GDias afirmou que a Abin ficou subordinada ao GSI do início do governo até 1º de março e que, nesse período, não recebeu “pelo correio Sisbin nenhum relatório” sobre os atos. O ex-ministro fez referência ao Sistema Brasileiro de Inteligência, que reúne diferentes órgãos de inteligência de governo e que, no entendimento dele, seria o canal oficial para a difusão de informações do tipo. Ele não tratou dos “alertas” citados pelo ex-chefe da Abin. Procurada, a defesa de GDias não se manifestou.

— Não recebi nenhum relatório pelo sistema Sisbin no período em que a Abin ficou sob minha gestão — afirmou Dias.

A esse respeito, Cunha acrescentou que o então ministro foi avisado também por telefone, cerca de uma hora antes da invasão das sedes dos três Poderes. Mais cedo, por volta das 8h, disse que havia tratado com ele sobre as movimentações de ônibus. Segundo Cunha, GDias respondeu: “Acho que vamos ter problemas”.

BATE-BOCA – Ontem GDias compareceu na CPI do MST e seu depoimento terminou em bate-boca. Ao ser questionado pelo relator, Ricardo Salles, sobre como classifica a ditadura militar, o ex-ministro não respondeu, afirmando que o assunto não era objeto da comissão. O relator, no entanto, insistiu na pergunta repetidas vezes.

— Quero apenas entender se você faz parte da ala que considera revolução ou golpe — disse Salles. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, saiu em defesa do ex-ministro, afirmando que a pergunta não tinha pertinência, e foi rebatida pelo relator: — A senhora fala na sua vez. O bate-boca se estendeu por mais de dez minutos.

— Seus colegas, unanimemente, defendem a ação de 1964. Vou perguntar novamente, é a última oportunidade — prosseguiu Salles. Mesmo assim, GDias insistiu em não responder.  “Deputado, isso não é objeto da comissão”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um teorema simples, em que A (Exército) e B (Governo do Distrito Federal) se somam para permitir, prazerosamente, acampamentos diante de quartéis-generais. Com a cumplicidade de C (Polícia Militar) permitem o vandalismo noturno de 12 de dezembro em Brasilia.

Depois, apesar de ter havido tentativa de atentado a bomba em 24 de dezembro, A + B + C, com a conivência de D (Gabinete de Segurança Institucional do Planalto), permitem em 8 de janeiro que o acampamento se desloque para a Praça dos Três Poderes, escoltado por batedores de C.

Como apenas E (Polícia Federal) não participou da trama, o resultado do teorema é: apenas E é confiável, não acredite em nada que A, B, C e D afirmem. Estarão sempre mentindo. Apenas E cumpriu seu dever institucional. (C.Q.D.)  

Na poesia de Flora Figueiredo, um amor abençoado pela oração “Ave Maria dos amantes”

Retrospectiva | Um poema de Flora Figueiredo - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

A tradutora, cronista e poeta paulista Flora Figueiredo, no poema “Reza”, suplica pela existência de um espaço em que o cotidiano do amor e suas contradições possam coexistir, abençoados por uma oração “Ave Maria dos amantes”.

REZA
Flora Figueiredo

Tem que haver um espaço pra nós dois
onde caibam nossos amores,
nossos temores,
nossos dilemas.

Tem que haver pra nós um tema
que fale de flores.
Tem que haver uma canção
de versos sofridos, amargos e doces.

Tem que haver uma oração
que fale de ciúme, de saudade, de perdão,
que abençoe os beijos
e os desejos retumbantes.

Para quando declinada ao fim do dia,
possa ser a Ave Maria dos amantes.

Se não fizer muita burrice, Tarcísio será favorito na eleição presidencial de 2026

Bolsonaro pede que Tarcísio empregue mãe de sua neta em cargo nos Estados  Unidos - Brasil 247

Tarcísio aprendeu a fazer política e sabe agradar Bolsonaro

Carlos Newton

Sob condições normais de temperatura e pressão, poder-se-ia dizer que as carreiras políticas de Carla Zambelli e Jair Bolsonaro estariam destruídas, devido à contratação do hacker Walter Delgatti Neto para invadir os computadores da Justiça Federal e do ministro Alexandre de Moraes. Mas não é assim que a banda toca no Brasil.

No caso da atrevida, inconsequente e irresponsável Carla Zambelli, por exemplo, se ela não for processada e condenada pelo Supremo Tribunal Federal, tendo a cassação do mandato como consequência, continuará a ser eleita indefinidamente. E o motivo é um só — a impressionante aversão que grande parte do eleitorado dedica ao petismo e a Lula.

POLARIZAÇÃO – Se Lula e Bolsonaro fossem mais jovens, fica claro que essa sinistra polarização tão cedo não iria acabar, mas o tempo não para, dizia Cazuza, e os dois principais líderes políticos do Brasil estão com prazo de validade quase vencido.

Por coincidência, ambos têm um passado de superação de graves problemas de saúde e estão com inevitáveis cirurgias a curto prazo — Lula, para conseguir andar normalmente, e Bolsonaro, para remendar a tela implantada na parede de seu abdome.

Apesar dos problemas de saúde, a vaidade fala mais alto e Lula já admite tentar a reeleição, caso se aguente em pé até 2026, mas Bolsonaro só pode se candidatar em 2030, caso não seja novamente condenado, e já terá 75 anos.

MAIS PROVÁVEL – O futuro a Deus pertence, como dizia Armando Falcão, um ex-deputado cearense que Roberto Marinho conseguiu emplacar na pasta da Justiça no governo Geisel. Assim, o mais provável é que Lula, cansado de guerra e quase chegando aos 81 anos, desista da reeleição em 2026.

Sem os dois na disputa, a disputa terá uma polarização mitigada, livre da radicalização de sempre. E a sucessão será novamente decidida pelos eleitores de centro, que em 2022 apoiaram o petista.

Se Lula não disputar a reeleição e seu governo Lula não conseguir um desempenho espetacular, o candidato a ser apoiado por Bolsonaro deve ganhar com facilidade, caso conquiste os votos do centro, porque o sentimento antipetista ainda será muito forte em 2026.

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P.S. –
Esses prognósticos pouco valem, são apenas indicadores de circunstâncias. Em tradução simultânea, porém, pode-se dizer que o governador paulista Tarcísio de Freitas só perde a sucessão de 2026 se der muita bobeira. Ele continua ligado a Bolsonaro, que tem filhos, mas nenhum deles é seu herdeiro político. Além disso, Tarcísio de Freitas tem espaço e jogo de cintura para conquistar os votos do centro e da chamada terceira via. Posso estar errado, é claro, mas… (C.N.)

Comissão de Ética censura ministro de Bolsonaro, mas alivia ministro de Lula

Ricardo Salles e Juscelino Filho, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro e ministro das Comunicações de Lula, respectivamente. Foto: Dida Sampaio e Wilton Junior/ Estadão

Salles foi punido, mas Juscelino escapou. Por que? Há diferença?

Francisco Leali
Estadão

No intervalo de uma semana, a Comissão de Ética vinculada à Presidência da República viu e não viu violação na conduta de ministros que usaram recursos públicos para fins pessoais. Viu quando o alvo era um ex-ministro da gestão Bolsonaro. E não viu no caso de Juscelino Filho, atual ministro das Comunicações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao que se sabe há uma diferença de quantitativa entre as duas situações. O ex-ministro do Meio Ambiente e atual deputado Ricardo Salles recebeu censura da Comissão por ter abusado de viagens em voos bancados com recursos públicos para São Paulo.

VIOLAÇÃO ÉTICA – Salles esteve no cargo por dois anos e meio. Nesse período, realizou mais de 130 viagens nacionais, sendo que 90 tinham São Paulo como destino. Boa parte das viagens para o reduto eleitoral que em 2022 o elegeu deputado federal não estava associada a compromissos oficiais. Assim, a Comissão da Presidência enxergou haver uma violação ética.

Juscelino Filho, aquele que aprecia cavalos, pegou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir à capital paulista. Nos quatro dias que passou em São Paulo, três foram para evento de interesse privado, todos ligados ao mundo equestre. Quando o caso veio a público, o ministro alegou que estava tudo regular, mas devolveu parte do valor das diárias.

Usar aviões da FAB ou recursos próprios como se fossem seus parece ser uma endemia entre ocupantes de primeiro escalão. Lá nos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso, uma leva de ministros foi flagrada voando nos jatinhos da Aeronáutica para pegar praia em Fernando de Noronha.

MUDOU-SE A LEI – A legislação foi alterada para limitar o uso do transporte oficial, ainda que ministros criassem agendas em suas cidades às sextas para ter uma justificativa para esticar o fim de semana em casa e junto a seus eleitores.

Agora, o primeiro caso de ministro que pega jato da FAB para ir ver desfile de animais de quatro patas ganhou salvo-conduto da Comissão de Ética. Ainda que haja vídeos do ministro nos eventos e ainda que ele tenha devolvido parte das diárias, ficou tudo bem, tudo certo.

O fato de dois casos de ministros “viajadores” terem conclusão diferente faz lembrar a máxima que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot gostava de repetir quando dava suas “flechadas” em políticos: ‘pau que dá em Chico, dá em Francisco”. Pelo jeito, nem sempre é assim.

Alexandre de Moraes quebra sigilo bancário do hacker, de Zambelli e de assessores dela

PF tem 30 dias para analisar material apreendido com Carla Zambelli - Folha PE

Inquérito de Carla Zambelli está correndo em alta velocidade

Camilla Germano
Correio Braziliense

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a quebra de sigilo bancário da deputada Carla Zambelli e do hacker Walter Delgatti. Os dois são acusados de invadir computadores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em janeiro de 2023.

A invasão hacker, ocorrida em 4 de janeiro, teve como objetivo inserir no Banco Nacional de Mandados de Prisão do Conselho Nacional de Justiça um falso mandado de prisão para o ministro Alexandre de Moraes e, posteriormente, expedir 10 alvarás/ordens de soltura em favor de internos do sistema prisional brasileiro.

DADOS BANCÁRIOS – A decisão de quebra de sigilo de Moraes também atinge os assessores da deputada Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Guimarães, e também a empresa do hacker, a Delgatti Desenvolvimento de Sistemas. Além disso, o ministro pede que as “instituições financeiras envolvidas encaminhem os dados bancários via rede mundial de computadores”.

O ministro ordenou também a apreensão de celulares, tablets e computadores, bem como de armas, munições e quantias acima de R$ 10 mil eventualmente encontradas nos endereços e veículos ligados à parlamentar.

Na decisão, Moraes estabelece ainda o afastamento do sigilo bancário de “todos os bens, direitos e valores mantidos em instituições financeiras, no período de 01/06/2022 a 01/06/2023, pelas pessoas físicas e jurídicas relacionadas a seguir, diretamente ou por seus representantes legais, responsáveis ou procuradores, de forma individualizada ou em conjunto com outras pessoas”.

REGISTROS DE FREQUÊNCIAS – Moraes pede ainda os agentes da PF verifiquem “a existência de eventuais cômodos secretos ou salas reservadas em quaisquer dos endereços diligenciados”, assim como recolher registros de frequência aos endereços de Zambelli.

Na manhã desta quarta-feira (2/8), Zambelli e Delgatti foram alvos de mandados de prisão e busca e apreensão no processo que investiga a invasão.

Segundo informa a decisão, Delgatti prestou depoimento anterior à PF, em que admitiu ter feito a invasão nos computadores e do mandado falso de prisão de Moraes e os mandados de soltura dos presos. Contudo, o hacker afirmou que o ato foi feito a pedido de Zambelli, complicando a situação da deputada.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGComo dizia Bebel Gilberto, quando era criancinha e a família morava no México, “acabou chorare”. Agora é papo reto. Segundo a apuração da Polícia Federal, Walter Delgatti Neto recebeu ao menos R$13,5 mil pelo serviço criminoso; ela nega que os pagamentos tenham relação com o crime. Com a quebra de sigilo, a Polícia Federal logo saberá se o hacker recebeu outros pagamentos dos assessores da deputada. Com essa informação, o mandato de Zambelli pode passar a ter o valor de uma moeda de três reais. (C.N.)  

Com divergência, Copom reduz juros em 0,5%, na primeira queda da taxa Selic em três anos

Com Galípolo e Aquino, BC divulga fotos de reunião do Copom, que deve  cortar Selic

Diferença de apenas um voto permitiu que a Selic caísse 0,5%

Renan Monteiro
O Globo

O Banco Central anunciou na noite desta quarta-feira o primeiro corte da taxa básica de juros desde agosto de 2020. Em uma reunião divergente entre os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom), a Selic caiu de 13,75% para 13,25%, ou 0,5 ponto percentual.

Cinco diretores votaram pelo corte de 0,5 ponto e quatro, pela redução menor, de 0,25 p.p. Votaram pela redução de 0,5 ponto o presidente Roberto Campos Neto, além dos diretores Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso. Votaram por uma redução de 0,25 ponto percentual os seguintes membros: Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes.

LONGA IMOBILIZAÇÃO – Os juros foram mantidos no patamar de 13,75% por um ano, desde agosto de 2022, ou sete reuniões seguidas. Já a última queda havia acontecido em agosto de 2020, no primeiro ano da pandemia, quando a taxa passou de 2,25% para 2%.

Ao longo deste ano, a manutenção da Selic em 13,75% foi motivo de acirramento na relação entre governo e integrantes da autoridade monetária, com críticas centralizada ao presidente do BC, Roberto Campos Neto — indicado na gestão de Jair Bolsonaro e o primeiro a dirigir o BC com autonomia operacional regulamentada.

Em encontro com correspondentes internacionais na manhã desta quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a citar Campos Neto, alegando que o chefe do BC “não entende de Brasil e de povo” e reforçou que o governo esperava que o início do ciclo de corte Selic fosse iniciado nesta quarta-feira.

DECISÃO ESPERADA – A redução dos juros já era esperada pelo mercado financeiro e pela equipe econômica do governo. A dúvida estava na intensidade do corte, com apostas majoritárias entre 0,25 ou 0,5 ponto percentual.

Também nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, lembrou que havia uma parcela de agentes de mercado apontando 0,75%. Integrantes da pasta comandada por Haddad vem reforçando a necessidade de cortes “acentuados”.

Divergências entre diretores do Banco Central não são comuns desde o início do regime de metas de inflação, mas devem se tornar mais frequentes com a autonomia do Banco, já que os diretores serão indicados por presidentes da República diferentes e terão autonomia para decisão.

VOTAÇÕES UNÂNIMES – Desde o início da gestão de Campos Neto, em fevereiro de 2019, apenas uma única reunião teve votos divergentes, em setembro de 2022. Na ocasião, os diretores Fernanda Guardado (Assuntos Internacionais) e Renato Gomes (Sistema Financeiro) votaram pela elevação de 0,25 ponto percentual, enquanto a maioria decidiu pela manutenção da taxa de 13,75%, na época.

Segundo levantamento feito pelos economistas Gustavo Franco e Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos, de 2002 a 2023 houve 183 reuniões do Copom, mas com apenas 14,2% de votos divergentes. O restante aconteceu sob unanimidade de votos entre os diretores do colegiado.

“Em 183 reuniões nas últimas duas décadas houve voto divergente em apenas 26 ocasiões, das quais 22 tiveram motivos conhecidos. A divergência geralmente se observou em 2 ou 3 votos em um colegiado de 9. Em apenas uma ocasião houve uma divergência de um único voto e não houve caso de 4 votos divergentes ou do exercício do voto de qualidade do presidente”, disseram eles em relatório.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importante matéria, enviada por José Carlos Werneck. Mostra que Haddad pediu 0,5% e foi atendido. Mas precisa cair mais, para segurar um pouco a dívida. Agora, chega de chororô — é hora de tocar o barco, como dizia Ricardo Boechat. (C.N.)

Carla Zambelli tenta proteger Bolsonaro de envolvimento com o hacker preso pela PF

Zambelli nega ter pagado hacker para invadir sistemas do Judiciário | Agência Brasil

Zambelli nega ter pagado o hacker, mas seus assessores pagaram

João Gabriel
Folha

A deputada Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que existe uma tentativa de envolver Jair Bolsonaro (PL) no contexto das investigações contra ela conduzidas pela Polícia Federal. A parlamentar foi alvo na manhã desta quarta-feira (2) de operação da PF, que cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ela. Os agentes prenderam Walter Delgatti, conhecido como o hacker da “Vaza Jato”.

“Estão tentando envolver o presidente [Bolsonaro] através de mim, pelo fato de eu ser próxima [dele]”, afirmou ela sobre a operação em entrevista na Câmara.

SEM LIGAÇÃO? – A deputada afirmou que não há ligação entre o caso e o ex-presidente. Ela é uma das principais aliadas de Bolsonaro. Zambelli e Delgatti são suspeitos de atuarem em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão.

“No primeiro momento que eu soube que estaria envolvida em atos ilícitos, meu advogado, Daniel Bialski, protocolou na Polícia Federal uma petição dizendo que eu estaria inteiramente à disposição do Judiciário para prestar qualquer tipo de esclarecimento”, afirmou, se dizendo surpresa com a operação.

A deputada disse que a polícia foi à sua casa por volta das 6h e apreendeu seu passaporte, dois celulares e um HD.

TRÊS ENCONTROS – Segundo ela, foram apenas três encontros com Delgatti, nos quais foram abordados temas sobre tecnologia. Ele também chegou a ser contratado por ela para prestar serviços ao seu site, disse a parlamentar.

Em um destes encontros, relatou a deputada, o hacker teria oferecido serviços de auditoria das urnas eletrônicas para o PL, teve uma reunião com o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, mas não foi feito nenhum acordo.

Zambelli confirmou a versão de Delgatti de que, no posterior encontro com Bolsonaro, o ex-presidente teria perguntado se o hacker conseguiria fraudar as urnas.

BOLSONARO PERGUNTOU – “A pergunta que o [ex] presidente fez foi se as urnas eram confiáveis, e ele respondeu que nenhum sistema tecnológico era confiável”, disse, acrescentando que não aconteceram novos encontros entre os dois.

Zambelli afirmou ainda que não houve nenhum serviço relacionado à fraude das urnas, nem a elaboração de um falso mandato contra o ministro do STF, Alexandre de Moraes, no sistema do CNJ.

“Eu não fraudaria eleições para o Lula ganhar e nem seria tão barato assim”, ironizou sobre as eleições. “Não participaria de uma piada de mau gosto com o Alexandre de Moraes. Eu sei o que pode acontecer com um deputado que brinca com ministros do Supremo Tribunal Federal, haja visto nosso amigo Daniel Silveira”, disse.

UMA BOA PESSOA – Finalmente, a deputada afirmou que Delgatti lhe pareceu “uma boa pessoa” e que prestará depoimento na PF na próxima segunda-feira (7). “Minha inocência vai ser provada.”

Ainda nesta terça, a Comissão de Ética da Câmara aceitou a denúncia contra Zambelli por quebra de decoro, após ela xingar o colega Duarte Júnior (PSB-BA), em abril deste ano, durante uma sessão da Comissão de Segurança Pública da Câmara com o ministro da Justiça, Flávio Dino.

O caso, movido pelo deputado Duarte Jr. (PSB-MA), agora será analisado pelo grupo e pode levar à perda do mandato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A fanática bolsonarista está cada vez mais enrolada. Além de ser alvo da PF neste rumoroso caso de ligação com um hacker já condenado, Zambelli enfrenta ao menos quatro ações eleitorais com pedido de cassação, mostrando que tem eleitores, mas não tem juízo. (C.N.)

É impossível evitar hackers, mas estamos convictos de que não conseguirão nos derrotar

Charges do Denny: • Hackers

Charge do Denny (Arquivo Google)

Carlos Newton

O político aposentado Paulo Maluf é um dos homens mais práticos que já surgiram no país. Certa vez, ao falar sobre violência sexual, fez o seguinte apelo aos criminosos: “Estupra, mas não mata!”. E a ex-prefeita Marta Suplicy, com sua experiência de “sexóloga” da TV Globo, foi mais longe ainda, ao sugerir: “Se o estupro é inevitável, relaxa e goza”.

Bem, lembrei essas declarações estúpidas na manhã desta terça-feira, dia 1º de agosto, quando o blog da Tribuna da Internet deu umas falhadas, voltando a exibir a assustadora advertência “Error 502 Bad Gateway”. Caramba! Uma semana depois de termos conseguido retornar à internet, com o entusiasmo de sempre, de súbito já aparece essa mensagem na telinha, sinalizando que tempos piores podem vir…

SEM ILUSÕES – É claro que não temos ilusões quando o assunto é a capacidade dos hackers. São verdadeiramente geniais e ainda não se conseguiu encontrar uma maneira de contê-los. Como todos sabem, se já conseguiram entrar até nos computadores do Pentágono, conforme admitiu o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, o resto é moleza.

Sabemos que a Tribuna da Internet e qualquer outro portal, site ou blog está sujeito a invasões de toda sorte. Servidores gigantescos, como o UOL que nos hospeda, não tem como evitá-los.

Assim, estamos convivendo com hackers desde 2009, quando a Tribuna da Imprensa parou de circular e começamos a publicar com exclusividade as colunas de Helio Fernandes, Carlos Chagas, Sebastião Nery e outros destaques do jornalismo independente.

FORÇA TOTAL – Progressivamente, à proporção que fomos ganhando força e audiência, os ataques foram aumentando de intensidade. Atingiram força total em 2022, quando nos tiraram do ar por vários dias e destruíram nossos arquivos.

Para dificultar a busca, sumiram os títulos dos artigos e os textos foram corrompidos. Mesmo assim, o jornalista e desenvolvedor Marcelo Copelli, que nos apoia nessas crises, ainda conseguiu recompor parte deles, mas é um serviço penoso e demorado.

Para evitar problemas futuros, Copelli sugere que cada articulista da Tribuna passe a arquivar os próprios textos, para estar livre de novos ataques de hackers. Estamos conscientes de que jamais conseguirão nos tirar do ar definitivamente, porque sempre poderemos voltar em outra plataforma. E assim, entre tapas e beijos, continuaremos perseguindo essa utopia de manter um espaço verdadeiramente livre na web.

BALANÇO DE JULHO – Como sempre fazemos, vamos publicar o balanço das contribuições que nos permitem seguir nessa trilha, sob o signo da liberdade.

Primeiro, agradecemos os depósitos na Caixa Econômica Federal:

DIA  REGISTRO    OPERAÇÃO             VALOR
07    O71357        DP DIN LOT……….. 200,00
11    112337         CRED PIX…………… 100,00

Agora, as contribuições no Banco Itaú Unibanco:

03    PIX TRANSF JOSE FR………………. 100,00
03    PIX TRANSF PAULO R……………… 100,00
04    TED 001.3097.HENRIQUE A……. 150,00
06    PIX TRANSF ANTONIO…………….. 100,00
10    TBI 6695.02702-6…………………….. 50,00
10    TED 033.3885.JOAO A D G………. 50,00
14    PIX TRANSF ANTONIO………………. 50,00
14    TED 001.4416.MARIO ACRO…… 250,00
20    TED 001.5977.JOSE A P J………… 300,20
27    TBI 7028.28905-1DUBER……….. 178,00
31    TED 033.3591.ROBERTO S N….. 200,00

Por fim, no Bradesco:

11   TRANSF LUIZ C B PAIM ……………. 300,00

Assim, agradecendo muitíssimo aos amigos e amigas que compartilham conosco essa utopia de manter um espaço independente na internet, vamos em frente, sempre juntos. Se deixarem, é claro. (C.N.)  

Saiba quem é o hacker Delgatti, famoso pela ‘Vaza Jato’ e preso hoje pela PF

Walter Delgatti Neto, quando foi preso na Operação Spoofing, em 2019

Walter Benatti Neto já está até se acostumando a ser preso

Natália Santos
Estadão

O hacker Walter Delgatti Neto foi preso preventivamente nesta quarta-feira, 2, durante operação da Polícia Federal que apura a suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e a inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP).

Delgatti Neto ficou conhecido por hackear trocas de mensagens do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, hoje senador, e do ex-procurador da República e deputado cassado Deltan Dallagnol. Essa é a terceira vez que ele é detido.

OS NOVOS CRIMES – Segundo a PF, a ofensiva investiga crimes que ocorreram entre 4 e 6 de janeiro, quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ 11 alvarás de soltura de presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Com codinome “Vermelho”, Delgatti Neto já havia sido preso, em julho de 2019, na Operação Spoofing. À época, ele admitiu aos investigadores ter hackeado o celular de diversas autoridades do País. O hacker também afirmou que repassou o conteúdo das supostas mensagens entre Moro e Dallagnol ao jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, sem cobrar contrapartidas financeiras para repassar os dados.

As conversas mostrariam que Moro teria orientado investigações da Lava Jato ao sugerir mudança da ordem de fases da operação, dar conselhos, fornecer pistas e antecipar uma decisão a Dallagnol.

CONSEQUÊNCIAS – Os membros da Lava Jato nunca reconheceram a autenticidade das mensagens. Entretanto, o conteúdo foi utilizado como fundamento para a 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba anular todas as decisões tomadas por Moro contra o ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, por exemplo.

Além disso, os arquivos obtidos à época pela Operação Spoofing foram usados pela defesa do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva na decisão do STF que considerou Moro suspeito para julgar o petista – o julgamento foi em 2021.

O hacker afirmou em nota, divulgada pela sua defesa e obtida pelo Estadão na época, que o conjunto das mensagens extraídas nos celulares de autoridades encontra-se guardado por terceiros no exterior.

FRAGILIDADE DO SIGILO – Em outra parte do documento, Delgatti Neto diz espantar-se com “a fragilidade do sigilo no Brasil”, sugere melhoria nos sistemas de comunicação nacional e “convida a uma regulamentação e à transparência quanto ao acesso e o uso de ditas redes de informação pelo poder público, em plena defesa do melhor interesse público”.

Em outubro de 2020, Delgatti passou à condição de liberdade condicional, mas voltou a ser preso novamente em junho de 2023 após violar a ordem judicial que o impedia de acessar a internet.

Um mês após, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, autorizou a soltura do hacker.

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NOTA DA REDAÇÃO O BLOG
Agora, o hacker foi mexer com Moraes e se deu mal. Vai ficar muito tempo vendo o sol nascer quadrado, como se dizia antigamente. (C.N.)

Sobre o tipo de personagem que a ministra oficial do Planejamento decidiu assumir

Tebet admite desencontro de informações sobre o IBGE: Pimenta achou que  nome já podia ser anunciado - Folha PE

Simone Tebet diz que não sabia quem era Márcio Pochmann

J.R. Guzzo
Gazeta do Povo

Ao pular para dentro do barco de Lula no segundo turno das eleições, depois de passar a campanha toda dizendo que defendia um programa oposto ao dele, a ministra oficial do Planejamento mostrou que é do tipo de personagem política que faz qualquer coisa para entrar no governo.

 Agora, ao engolir um nome que jamais passou pela sua cabeça para presidir o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, uma das poucas coisas que Lula e o PT não tiraram do seu ministério, mostrou que também faz qualquer coisa para não sair.

QUINTO ESCALÃO – Quando foi nomeada, aceitou sem dar um pio a demolição geral das atribuições que deveria ter; deixaram com ela uns trocados de quinto escalão como uma “Assessoria de Participação Social e Diversidade”, a Comissão Nacional de Cartografia e outras insignificâncias burocráticas da mesma natureza.

Nos sete meses que se passaram desde então, não foi autorizada a resolver nem o planejamento da controladoria nacional dos carrinhos de pipoca. Com a imposição do novo magnata do IBGE, sem sequer uma consulta a que teria direito pelas regras elementares da boa educação, já está batendo no fundo-do-poço.

“Nada mais justo do que atender o presidente Lula”, disse a ministra depois que o ministro da Comunicação anunciou à imprensa a escolha do novo estatístico-mor do Brasil. Mas, nesse caso, o presidente Lula não poderia, pelo menos, ter dito alguma coisa a ela uns dias antes, ou na véspera?

BAJULAÇÃO – É provável que o próprio Lula tenha se surpreendido com uma exibição de puxa-saquismo desse tamanho: quer dizer que ele trata a ministra como um pedaço de pano de estopa, e ela diz que é muito justo?

O novo chefe do IBGE já estava despachando direto com Lula e outros peixes graúdos do governo antes, sequer, de ter uma primeira reunião com a sua suposta superiora hierárquica. Ela disse que iria marcar uma reunião com o suposto subordinado “na semana que vem” – há, inclusive, a possibilidade de que seja recebida. O resto da reação foi a mesma tristeza.

“Agora que eu sei o nome dele, terei o maior prazer em atender ao presidente Lula”, disse a ministra. “Não faço pré-julgamentos.  A conversa será técnica, e ele será muito bem-vindo.”

ESTRANHO NO NINHO – O novo presidente do IBGE é tudo, menos um “técnico”. Não entende nada de estatística. Manda prender números que não o satisfazem. Acha que a aritmética tem de ser “social”, e servir para os interesses das lutas “progressistas”.

Passou a vida de “instituto” em “instituto”, de emprego em governo a emprego em governo, sem contato com o mundo do trabalho real – não o trabalho como ele é entendido pelo brasileiro comum.

Não se sabe de uma ideia sua que tenha sido vista com seriedade pelos círculos respeitados da ciência econômica – ou sequer percebida.

PLANOS SINISTROS – Trata-se de um militante político da ala mais “esquerdista” do PT, e sua nomeação tem o propósito de fazer o IBGE produzir unicamente os números que Lula quer.

Pochmann é contra o PIX, a favor da exploração do “espaço sideral” e se acha capaz de “zerar” a dívida pública expropriando a riqueza dos milionários. É tão qualificado para presidir o IBGE quando o rei Herodes seria qualificado para dirigir o serviço federal de creches.

Mas e daí? O Estado brasileiro está sendo privatizado de alto a baixo em favor do PT. Podem contar para isso, de olhos fechados, com a ministra do Planejamento.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Pagamentos ao hacker, feitos por assessores de Zambelli, desencadearam operação da PF

A deputada Carla Zambelli postou foto de encontro com o hacker Walter Delgatti

Zambelli financiou as ações criminosas do hacker Delgatti Neto

Malu Gaspar
O Globo

A Polícia Federal descobriu que assessores da deputada Carla Zambelli (PL-SP) fizeram pagamentos para o hacker da Vaza Jato Walter Delgatti Neto para que tentasse fraudar as urnas eletrônicas e invadir as contas de e-mail do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

No total, os repasses somam R$ 13 500 e foram feitos via Pix por dois servidores do gabinete de Zambelli que hoje são alvo das buscas: Renan Cesar Silva Goulart e Jean Hernani Guimarães Vilela. Foram feitos também pagamentos em espécie ainda não contabilizados. Delgatti Neto confirmou à PF ter recebido dinheiro vivo, mas não disse quanto foi. A PF ainda está apurando essa informação.

PRINCIPAIS EVIDÊNCIAS – Esses pagamentos estão entre as principais evidências consideradas pelo ministro para ordenar as buscas e apreensões desta no gabinete da deputada e no apartamento dela em Brasília, e ainda nas casas dos assessores dela, uma em Brasília e outra em São Paulo.

Delgatti tentava conseguir um acordo de delação premiada, mas acabou preso hoje por ordem de Moraes nesse mesmo inquérito sobre Zambelli, que integra as investigações sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. A prisão é preventiva, ou seja, sem prazo determinado.

O hacker contou em depoimento à PF ter sido procurado pela deputada em setembro de 2022, durante a campanha eleitoral. Ela queria que ele fraudasse as urnas eletrônicas e invadisse o e-mail do ministro do Supremo. Na época, Lula já aparecia em vantagem sobre Jair Bolsonaro nas pesquisas sobre o pleito. Mas o hacker não conseguiu cumprir nenhuma das duas missões.

DUAS HACKEADAS – O que ele conseguiu fazer foi inserir no sistema do Conselho Nacional de Justiça um mandado de prisão falso contra o próprio Moraes. O próprio hacker disse à PF que esse ataque, ocorrido em janeiro e, portanto, depois das eleições, teria sido ideia dele, para compensar as falhas anteriores.

Zambelli, que chegou a levar o hacker a reuniões em Brasília, durante a campanha, justificou os encontros na época dizendo que pretendia montar uma equipe de consultores para fiscalizar as urnas eletrônicas. Ela também levou Delgatti Neto para se encontrar com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na sede do partido, e com o então presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

No entanto, a deputada sempre negou ter pedido que o hacker fraudasse as urnas eletrônicas ou que invadisse o e-mail de Moraes.

VAZA JATO – Delgatti Netto se tornou conhecido como o hacker da Vaza Jato depois que vieram à tona os diálogos entre procuradores da Lava Jato, o então juiz Sérgio Moro e diversas outras pessoas no aplicativo de mensagens Telegram. Os diálogos, divulgados em 2019, abalaram a credibilidade da operação Lava Jato.

Por causa desse vazamento, Delgatti ficou preso preventivamente de julho de 2019 a setembro de 2020. Ele já responde a uma ação penal acusado de interceptação telefônica ilegal (por 126 vezes) e invasão de dispositivo informático (por 176 vezes), crimes que, considerados individualmente, têm pena máxima de quatro anos de prisão.

Polícia Federal faz busca e apreensão contra Carla Zambelli e prende hacker da ‘Vaza Jato’

Zambelli contratou hacker para invadir urnas e e-mail de Moraes

Fabio Serapião
Folha

A Polícia Federal cumpre na manhã desta quarta-feira (2) mandados de busca e apreensão em endereços da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e já prendeu Walter Delgatti, conhecido como o hacker da ‘Vaza Jato’. Zambelli é uma das principais aliadas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). As buscas contra Zambelli são cumpridas em seu gabinete na Câmara dos Deputados e em endereços residenciais.

Os dois são suspeitos de atuarem em uma trama que mirava o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e que resultou na invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e na inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no Banco Nacional de Mandados de Prisão.

HACKER CONFESSOU – Na primeira etapa da investigação, no dia 20 de junho, havia sido cumprido mandado de busca e apreensão contra Delgatti, que foi ouvido e confessou parte da prática delituosa, detalhando o modo de agir e indicando outros que teriam envolvimento com os fatos.

Na ocasião, o investigado informou que o objetivo da invasão foi demonstrar as vulnerabilidades do sistema judiciário brasileiro, como forma de desacreditar o sistema eletrônico de votação, uma vez que não seria possível a “invasão” das urnas eletrônicas pela internet.

O hacker famoso por ter invadido contas de Telegram de procuradores da Lava Jato teve encontros em agosto de 2022 com integrantes da campanha e aliados do então presidente Bolsonaro.

COM VALDEMAR – À época, interlocutores disseram à Folha que Delgatti se reuniu com Valdemar da Costa Neto, presidente do PL. Segundo aliados do dirigente partidário, o encontro foi intermediado por Zambelli.

Integrantes da campanha bolsonarista dizem que a deputada levou Delgatti sem aviso prévio ao partido e alegam que Valdemar não deu continuidade às conversas. Ainda de acordo com membros da campanha, Valdemar descartou aproximar o hacker da campanha por não ter gostado do teor do encontro.

De acordo com o que a revista Veja informou na ocasião, o objetivo da suposta reunião entre o presidente e Delgatti foi tentar engajar o hacker na cruzada de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas.

ATAQUES ÀS URNAS – O então chefe do Planalto realizava frequentes ataques contra o sistema eleitoral, e sua retórica golpista era apontada por críticos como um argumento que poderia ser usado pelo mandatário para questionar o resultado das eleições, o que de fato ocorreu.

No início deste ano, em entrevista à Folha, Zambelli foi questionada sobre a reunião. Ela respondeu: “[Sobre grampear Moraes] Nada. Eu o contratei no primeiro turno para fazer uma ligação automática entre minhas redes e meu site. Ele começou a fazer, mas não terminou. O encontro com Bolsonaro era sobre a fragilidade das urnas. O que sinto no Walter é que ele fez tudo isso meio para se redimir da culpa que tinha pelo Lula estar concorrendo.

Delgatti já havia sido preso em julho de 2019 pela Polícia Federal na Operação Spoofing, que apurava a existência de uma quadrilha responsável por “crimes cibernéticos”. Segundo a corporação, ele liderou um ataque hacker contra autoridades e acessou trocas de mensagens dos procuradores da Lava Jato pelo Telegram.

VAZA JATO – O então chefe da força-tarefa da operação, Deltan Dallagnol, foi um dos hackeados. Assim, foram tornadas públicas mensagens dele com outros investigadores e também com o então juiz do caso, o ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro e hoje candidato ao Senado Sergio Moro (União-PR).

Delgatti admitiu à PF ter entrado nos celulares dos procuradores e repassado as mensagens ao site The Intercept Brasil, que revelou o caso posteriormente conhecido como Vaza Jato. Outros veículos participaram da divulgação das informações obtidas, entre os quais a Folha.

Os diálogos vazados indicaram atuação conjunta dos procuradores com Moro nos processos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na operação. O material teve papel central nos julgamentos no STF (Supremo Tribunal Federal) que declararam a suspeição de Moro nas condenações contra o petista.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A que ponto chega o fanatismo político. Com a confissão do hacker, Carla Zambelli terá de lutar muito para tentar preservar seu mandato e os direitos políticos, mas suas chances no Supremo são iguais a zero. (C.N.)

Aumenta a pressão contra Campos Neto; se o Bacen não reduzir juros, a crise se aprofundará

Governo e lideranças da indústria pressionam pela queda de juros

Pedro do Coutto

Na reunião do Comitê de Política Monetária que foi iniciada ontem, terça-feira, e será concluída hoje, a pressão contra Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, elevou-se sensivelmente e, com isso, pode-se avaliar que se os juros da Selic não descerem, tal fato desencadeará uma crise de grandes proporções no setor monetário do governo com reflexo inevitável no país.

A atmosfera tornou-se mais densa e tanto ministros do governo quanto lideranças do setor industrial passaram a pressionar pela queda de juros da Selic. Isso porque os juros altos demais desviam recursos de investimentos econômicos para aplicações financeiras cujos reflexos não incidem sobre o mercado de empregos e, portanto, sobre o consumo, restringindo-se à concentração de renda cada vez maior pelos aplicadores de capital.

LUCROS MAIS FÁCEIS  – Os juros altos atraem recursos financeiros que buscam, como é sabido, lucros mais fáceis, mais elevados e com risco zero. A pressão se concentrou e ao meu ver é difícil a posição de Campos Neto. Se os juros forem reduzidos, por menor que seja a parcela, significará uma perda política de pontos para o presidente do Bacen. E se os juros não descerem, neste caso então as consequências econômicas e monetárias irão se tornar explosivas.

Reportagem da Folha de S. Paulo, do O Globo e do Estado de S. Paulo, destacam que haverá um recuo que pode variar entre 0,25% a 0,5%. Meio por cento significará por mês uma diminuição de R$ 30 bilhões nos juros pagos pela rolagem da dívida interna que é, como se tem divulgado, da ordem de R$ 6 trilhões. É só projetar 13,75% sobre R$ 6 trilhões. Amanhã, diante da decisão, vamos observar os resultados e reflexos. De qualquer forma, porém, Roberto Campos Neto perdeu espaço.

INQUÉRITO –  É um verdadeiro absurdo a conclusão do Inquérito Policial Militar sobre a depredação de Brasília no dia 8 de janeiro atribuindo responsabilidade ao governo Lula por não ter previsto e combatido as ações selvagens, mais até do que a própria invasão de bárbaros contra o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal.

É estranho que num episódio de extrema gravidade seja atribuída uma dose maior de culpa à não identificação do movimento do que ao próprio movimento do vandalismo.  Quer dizer, alguém é culpado por não ter reagido e mais culpado do que os próprios agressores.

Uma coisa não elimina a outra. Além disso, analisando-se logicamente o episódio verifica-se que o grau de culpa e intenção destrutiva partiu de uma invasão organizada e financiada como revela o inquérito do STF. A deputada Grace Hoffmann, presidente do PT, e o diretor-geral da Polícia federal, Andrey Rodrigues, contestaram as conclusões do IPM, cujo objetivo – fica nítido – é evitar que uma parcela de culpa se desloque sobre a área militar sediada em Brasília. Na Folha de S.Paulo a reportagem é de Thaíssa Oliveira e também de Flávio Ferreira. No O Globo, de Nicolas Iory.

Governo quer votar em agosto o projeto para impedir a candidatura de militares 

A carreira militar em tempos de paz: vantagens e desvantagens

Militar terá de passar para reserva para sair candidato

Natália Portinari
Metrópoles

O Ministério da Defesa quer aprovar ainda em agosto no Congresso um texto proibindo militares da ativa de se candidatarem às eleições e de participarem de cargos na administração pública federal.

O governo chegou a elaborar um texto próprio sobre o tema, mas por sugestão do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, agora tenta articular em conjunto para aprovar o projeto dentro de uma proposta que já esteja em tramitação no Congresso.

OPÇÃO NA CÂMARA – Por enquanto, a melhor opção é uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada Perpétua Almeida, do PCdoB do Acre, que está em análise na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. O projeto veda militares em cargos da administração pública federal, mas ainda não contém previsões sobre eleições.

Procurada, a deputada prevê que o texto terá uma negociação árdua no Congresso, mesmo com apoio do governo.

Hoje, militares da ativa são proibidos de se filiar a partidos políticos, mas têm conseguido se candidatar às eleições pedindo licenças temporárias do serviço. O governo quer evitar esse tipo de situação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Alijar os militares da política é decisão nada democrática. Eles são servidores públicos e devem ter idênticos direitos à inserção na política partidária. Isso nada tem a ver com golpismo, é paranoia pura. (C.N.)

A beleza agreste de uma menina do interior, inspirando Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

TRIBUNA DA INTERNET | No tempo em que Carlos Fernando era menino e brincava  tangendo carneiros no sertão

Carlos Fernando, compositor pernambucano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor, compositor e cantor pernambucano Carlos Fernando (1938-2013), na letra de “Beleza do Agreste”, celebra os encantos de uma menina do interior do Nordeste. Essa música faz parte do CD Raízes e Frutos lançado por Geraldo Azevedo, em 1998, pela BMG.

BELEZA AGRESTE
Geraldo Azevedo e Carlos Fernando

Sempre bonita
Sempre cantando
Sempre na dela
Essa menina vai ficando
Sempre sorrindo
Sempre chorando
Sempre naquela
Essa menina vai levando

Nos corações
Na onda azul
Dos carnavais
À flor da pele
Os impulsos naturais
A olho nu
Vertentes
Claras tropicais
Fluindo a vida
Banhando o mundo
Vasto mundo
Seu Raimundo
O poeta já falou

Valença
Gema de ovo
Branco leite
De uma vaca cor de rosa
Qualquer dia mamarei
Beleza agreste
Cheirinho gostoso de fazenda
O aveloz do pé da serra
Tem a cor do seu olhar

Tem a cor do teu viver
Tem a cor do teu cantar
Tem a cor do mestre Rina
Numa noite de luar
A cor do teu sofrer
A cor do teu penar
Tem a cor de Ringo e Lennon
Num galope à beira mar

Ministros do Supremo precisam parar de agir como se fossem realmente “políticos de toga”

TRIBUNA DA INTERNET

Charge do Duke (O Tempo)

Merval Pereira
O Globo

Muitos tribunais constitucionais no mundo vêm sofrendo ataques crescentes, como o que acontece nos Estados Unidos, em Israel e no México. No caso do Brasil, a política nacional se moveu para a direita na última década, com uma guinada conservadora sobre várias questões que invariavelmente chegarão ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas, como analisa o livro do professor do Insper e especialista no judiciário Diego Werneck Arguelles. “O Supremo, entre o Direito e a Política”, a ser lançado pelo selo História Real de Roberto Feith na editora Intrínseca, além desse fenômeno internacional, “temos um desenho injustificável, em que se comportar politicamente ou não depende basicamente da virtude individual dos(as) ministros(as)”.

PODERES AMPLIADOS – No Supremo Tribunal Federal (STF), relata Diego Arguelles, ministros têm amplo poder para decidir se, quando e como as questões serão julgadas. Para decidir ou obstruir casos sozinhos, seguindo suas solitárias crenças, suas preferências político-partidárias e até mesmo seus interesses estritamente pessoais (que podem ser nada republicanos). E para muitas vezes decidir o destino não só de quaisquer políticas públicas, de qualquer governo, mas sobre a pessoa física dos governantes e políticos — para decidir, por exemplo, se atores que foram decisivos para sua própria chegada ao tribunal devem ser presos ou podem concorrer a eleições.

“Muito antes de o conteúdo das decisões ser um problema, muitos de nossos ministros e ministras já se comportam politicamente, em várias dimensões — como falam em público, com quem se encontram e discutem os temas que julgarão, como escolhem quando julgar os casos sob sua relatoria”, comenta Arguelles, acrescentando:

“Não há defesa razoável para esses comportamentos, nem para um sistema que os trata com naturalidade”.

PAUTA RECONFIGURADA – Não há dúvida, segundo o autor, de que o STF foi atacado nos últimos anos “também por ter sido uma fundamental força de contenção de planos iliberais ou até abertamente golpistas”.

Contudo, observa, justo pelo fato de que julgar será necessariamente grave e controverso, é preciso proteger essa tarefa.

O especialista do Insper acha que do “Mensalão” para cá, a pauta do Tribunal se ampliou e se reconfigurou. Temas de direitos fundamentais foram cedendo espaço, inclusive na atenção do público, para questões que envolviam o direito penal e a responsabilização de políticos.

FOI SE TRANSFORMANDO – “Em meio à crise política que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, o Tribunal continuou se transformando diante da opinião pública, exercendo cada vez mais poder, de forma cada vez mais individual e conjuntural, e despertando cada vez mais suspeitas quanto à motivação de seus integrantes”.

Arguelles defende que “o poder político deve ser controlado e canalizado, para proteção a direitos fundamentais e às regras do jogo democrático, com fins positivos para o país, por meio de regras constitucionais — e acredita que, para isso, um Supremo poderoso e independente é fundamental, cumprindo um papel que chamamos de “contramajoritário”.

Resumindo seu pensamento, ele descreve o papel do Supremo: “Uma instituição que precisa proteger a Constituição que os constituintes criaram, com seus problemas e contradições, e não a Constituição que gostaria que os constituintes tivessem criado”.

DESPOLITIZAR – Enfrentar essas falhas exige, lembra Arguelles no livro, “proteger o Tribunal da política, a de fora e a de dentro”. Ele considera “inevitável que algumas tarefas do Supremo envolvam considerações políticas que moldarão os argumentos de seus ministros”.

Diego Arguelles acredita que não é problema que a atuação de juízes constitucionais tenha interseção com a dos políticos eleitos.

“O problema, sim, é que juízes ajam e sejam vistos como se fossem iguais aos políticos, com idêntica lógica de atuação, variando apenas os meios (e as indumentárias). Não devem atuar e serem percebidos como políticos de toga”.