Lula deu a Caixa Econômica ao Centrão, mas vai ficar refém até o fim do governo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)

Lula compra Lira, mas não consegue comprar Pacheco

Vinicius Torres Freire
Folha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou a Caixa Econômica Federal ao centrão a fim de conseguir aprovar sua pauta parlamentar do segundo semestre e evitar mais fritura de parte de seus ministros.

Interessa saber agora é quantos anéis, braços e rins Lula terá de entregar; se prêmios da ordem de grandeza da Petrobras estão no horizonte do comércio político; se o governo assim vai conseguir uma bancada estável —não parece, pois o jogo mudou.

ENTREGOU A CAIXA – Lula deu a Caixa ao condomínio parlamentar sob o comando de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara. Não causou muita sensação, se por mais não fosse, porque um noticiário exuberante de horrores de guerras, crime, fofocas de celebridades e o fastio do público com economia e política ajudam a distrair.

De resto, era sabido que essa carne, a Caixa, estava no forno da barganha faz tempo. Segundo, Lula não tem o que fazer. Caso queira governar um pouco, terá de entregar muito, pois sua coalizão é muito minoritária no Congresso mais direitista da “Nova República”.

Terceiro, não há propriamente oposição para criticar a barganha. Lula está justamente barganhando com a oposição —ou com o que passa por isso. Isto é, o presidente negocia com os acionistas majoritários dessa cooperativa de gestão de fundos políticos e públicos privatizados que mais e mais é o Congresso.

ARRANJO PERIGOSO – O arranjo nem tem sido infrutífero, vide a quantidade de projetos que o governo tem aprovado. Mas é um arranjo indefinido, perigoso e mais gelatinoso do que o habitual nas coalizões parlamentares.

É indefinido porque o governo adquire apoios ainda mais incertos, pontuais e porque parte dos partidos arrebanhados detesta Lula, o PT ou é de extrema direita. É indefinido porque seu custo parece crescer sem limite. É um arranjo perigoso. A quantidade de recursos disponíveis para a barganha é agora mais limitada.

Há menos estatais para entregar. Se a Eletrobras fosse ainda estatal, talvez já houvesse risco de “eletrolão” — Centrão e MDB foram os maiores beneficiários políticos da roubança, enquanto o crime compensou. Vide as tantas suspeitas, por assim dizer, sobre a Codevasf.

PETROBRAS À VENDA – Apareceu no horizonte a possibilidade de se reabrir a porteira da Petrobras. Se o fizer, o governo dará um tiro no pé e apontará a arma para a própria cabeça.

Há muito menos dinheiro no Orçamento. Haverá dificuldades para pagar emendas. Sendo pagas, os recursos mínimos para investimento serão mais picotados em obras paroquiais ou em desperdício. A eficiência do gasto público e seu efeito no crescimento serão menores.

Mesmo que não seja infrutífero, o arranjo tem os limites impostos pelo caráter negocista, conservador ou reacionário do Congresso. Para piorar, a elite econômica vai se bater, óbvio, contra mudanças ou aumentos de impostos.

5 thoughts on “Lula deu a Caixa Econômica ao Centrão, mas vai ficar refém até o fim do governo

  1. Para a esquerda não existe direita, existe extrema direita, essa é a forma que encontram para achar que estão pegando o cocô pelo lado limpo.

  2. O texto parece um conto de terror. Com relação ao Congresso, esta certo.
    O centrão sempre houve, mas não com o poder que tem hoje, e foi no governo Bolsonaro que o centrão se fortaleceu, o Congresso, tinha a maioria de direta e juntou-se com os eleitos na onda bolsonaristas de extrema direita. Os eleitores que elegeram os extremistas de direta, fortaleceu o centrão,
    São esses eleitores os maiores responsáveis por esse Congresso.

    Quando alguém, mostra os crimes de Bolsonaro durante seus 4 anos de governo, que não são poucos, é xingado de comunista. Essa a maneira de defender Bolsonaro.
    Qualquer pessoa sensata, com um mínimo de racionalidade, sentiria vergonha de defender Bolsonaro que tanto mal fez ao Brasil e a democracia.

    • Não é conto de terror, é a nossa realidade. FHC deixou esses dois tumores que hoje já é uma metástase. Começou com a política do toma lá dá cá e colocou Gilmar Mendes no STF. Depois de Sarney, todos os presidentes foram fracos (Itamar ainda se salva e foi o único que fez uma gestão menos pior que os outros), envolvidos em casos de corrupção e com a reeleição, governam pensando no próprio bolso e no próximo mandato passaram a dar mais poder para o Centrão em troca de apoio e de não serem impichados.
      O Brasil hoje é uma Cleptocracia, falar bem de Lula e mal do Bolsonaro e vise versa e como comparar o esterco com o estrume. Se colocar Jesus Cristo ou qualquer outro ser notável ao longo da nossa história, ele vai ficar de 4 e arriar as calças para o Centrão. Imagina esses presidentes de araque como Lula e Bolsonaro que só pensam em seus projetos pessoais, esses entram no esquema de cabeça no esquema da corrupção.
      Não tem como algo de bom acontecer com um Congresso corrupto, mais de 95% dos deputados são eleitos pela proporcionalidade e menos de 5% são eleitos com votos próprios. Todo tipo de falcatrua e mamata sendo legalizado por todos. Afinal Centrão é só Arthur Lira e Cia ou são todos os que legalizaram a corrupção no Brasil (ai entra PT, PL, Bolsonarista e etc …)?

  3. Lula não é o presidente ideal, mas não há parâmetro para comparar Lula com Bolsonaro. Lula, é mil vezes melhor, por isso, Bolsonaro foi o único presidente a perder a reeleição.
    Ter decepção com Bolsonaro, é justo, mas iguala-lo a Lula, é injusto. São totalmente diferentes

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