Bruno Caniato
Veja
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, apresentou uma série de razões que explicam, em sua visão, “um certo protagonismo” desempenhado pelo STF em relação às atividades das Supremas Cortes em outros países. As declarações foram dadas nesta sexta-feira, 13, no discurso de abertura do evento empresarial Fórum Esfera Brasil Internacional, em Paris.
Segundo o ministro, o Brasil tem uma Constituição mais abrangente que a de outras grandes democracias, que em geral se limitam à organização do Estado e dos poderes políticos e a definição dos direitos fundamentais.
ENGLOBA TUDO – A Carta Magna brasileira, disse, engloba também os sistemas tributário, previdenciário, de saúde, educação, proteção ambiental, proteção da comunidade indígena, da família, criança e adolescente, cultura e meios de comunicação. “Trazer uma matéria para a Constituição é, de certa forma, tirá-la da política e trazê-la para o direito”, afirmou Barroso.
Outra pontuação feita pelo ministro é a relativa facilidade de acesso ao STF por meio de ações diretas que, além dos poderes Executivo e Legislativo, podem ser movidas por partidos, entidades de classe e confederações sindicais.
Segundo Barroso, isso torna possível que leis e políticas públicas sejam questionadas com mais frequência mediante o Supremo.
ALTA VISIBILIDADE – Além disso, o presidente da Corte destacou que as sessões do STF são integralmente televisionadas, ao contrário do que ocorre em outros países – dada a grande quantidade de temas políticos, econômicos e sociais discutidas pelo tribunal, isso aumenta a exposição pública dos julgamentos e incentiva uma cobertura mais extensa por parte da imprensa.
“Com muita frequência, é preciso vir ao espaço público e explicar o que está acontecendo”, declarou.
As justificativas de Barroso vêm em momento de acalorado debate na esfera pública sobre o papel do Judiciário na política brasileira. Nos últimos meses, têm se intensificado os questionamentos de parlamentares – principalmente, ligados à oposição ao governo – em relação a uma suposta interferência do STF em temas que seriam de competência do Legislativo, como demarcação terras indígenas e descriminalização do aborto e da posse de drogas para consumo próprio.
IMPOSTO SINDICAL – O ministro, inclusive, citou um dos casos que geraram controvérsia nas últimas semanas – o retorno do imposto sindical obrigatório, que havia sido extinguido pela reforma trabalhista sancionada em 2017 e foi reinstituído por decisão do Supremo em setembro. Barroso explicou que o STF validou a nova legislação, à época, e que a reversão da norma foi “um grande equívoco que é preciso superar”.
Entre outras pautas, o presidente do Supremo abordou a insegurança jurídica no país, particularmente na complexidade do tributário, que, segundo ele, pode ser parcialmente atribuída à “voracidade fiscal do Estado” e representa uma barreira aos investimentos da iniciativa privada no Brasil.
“Temos um grande problema nessa área e penso que a reforma tributária pode ajudar a diminuí-lo”, pontuou.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Barroso perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Na entrevista coletiva que deu no dia seguinte à sua posse, com um serviço impecável de café da manhã que encantou os jornalistas, ele disse uma verdade absoluta e irretratável. Admitiu que o Supremo só tem poderes para contestar decisão do Congresso que descumpra cláusula pétrea. Poucos dias depois, dá uma recueta e agora defende a volta do imposto sindical, que acaba de ser rejeitada no Senado. E a coerência, ministro? Onde está a coerência? (C.N.)