Barroso justifica “protagonismo” do STF e defende a volta do imposto sindical

Em Paris, Barroso faz defesa do empreendedorismo | LeiaJá

Incoerente, Barroso compra outra briga com o Congresso

Bruno Caniato
Veja

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, apresentou uma série de razões que explicam, em sua visão, “um certo protagonismo” desempenhado pelo STF em relação às atividades das Supremas Cortes em outros países. As declarações foram dadas nesta sexta-feira, 13, no discurso de abertura do evento empresarial Fórum Esfera Brasil Internacional, em Paris.

Segundo o ministro, o Brasil tem uma Constituição mais abrangente que a de outras grandes democracias, que em geral se limitam à organização do Estado e dos poderes políticos e a definição dos direitos fundamentais.

ENGLOBA TUDO – A Carta Magna brasileira, disse, engloba também os sistemas tributário, previdenciário, de saúde, educação, proteção ambiental, proteção da comunidade indígena, da família, criança e adolescente, cultura e meios de comunicação. “Trazer uma matéria para a Constituição é, de certa forma, tirá-la da política e trazê-la para o direito”, afirmou Barroso.

Outra pontuação feita pelo ministro é a relativa facilidade de acesso ao STF por meio de ações diretas que, além dos poderes Executivo e Legislativo, podem ser movidas por partidos, entidades de classe e confederações sindicais.

Segundo Barroso, isso torna possível que leis e políticas públicas sejam questionadas com mais frequência mediante o Supremo.

ALTA VISIBILIDADE – Além disso, o presidente da Corte destacou que as sessões do STF são integralmente televisionadas, ao contrário do que ocorre em outros países – dada a grande quantidade de temas políticos, econômicos e sociais discutidas pelo tribunal, isso aumenta a exposição pública dos julgamentos e incentiva uma cobertura mais extensa por parte da imprensa.

“Com muita frequência, é preciso vir ao espaço público e explicar o que está acontecendo”, declarou.

As justificativas de Barroso vêm em momento de acalorado debate na esfera pública sobre o papel do Judiciário na política brasileira. Nos últimos meses, têm se intensificado os questionamentos de parlamentares – principalmente, ligados à oposição ao governo – em relação a uma suposta interferência do STF em temas que seriam de competência do Legislativo, como demarcação terras indígenas e descriminalização do aborto e da posse de drogas para consumo próprio.

IMPOSTO SINDICAL – O ministro, inclusive, citou um dos casos que geraram controvérsia nas últimas semanas – o retorno do imposto sindical obrigatório, que havia sido extinguido pela reforma trabalhista sancionada em 2017 e foi reinstituído por decisão do Supremo em setembro. Barroso explicou que o STF validou a nova legislação, à época, e que a reversão da norma foi “um grande equívoco que é preciso superar”.

Entre outras pautas, o presidente do Supremo abordou a insegurança jurídica no país, particularmente na complexidade do tributário, que, segundo ele, pode ser parcialmente atribuída à “voracidade fiscal do Estado” e representa uma barreira aos investimentos da iniciativa privada no Brasil.

“Temos um grande problema nessa área e penso que a reforma tributária pode ajudar a diminuí-lo”, pontuou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG Barroso perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Na entrevista coletiva que deu no dia seguinte à sua posse, com um serviço impecável de café da manhã que encantou os jornalistas, ele disse uma verdade absoluta e irretratável. Admitiu que o Supremo só tem poderes para contestar decisão do Congresso que descumpra cláusula pétrea. Poucos dias depois, dá uma recueta e agora defende a volta do imposto sindical, que acaba de ser rejeitada no Senado. E a coerência, ministro? Onde está a coerência? (C.N.) 

Em meio às discussões, é claro que o STF deve decidir logo sobre o aborto

Manifestação no Rio de Janeiro pela legalização do aborto

Conrado Hübner Mendes
Folha

A criminalização do aborto mata mulheres negras e pobres. A criminalização do aborto não diminui o número da realização de abortos. Pelo contrário, só faz aumentar, pois dificulta orientação à saúde reprodutiva de mulheres. Em todos os países em que foi adotada, a descriminalização representou queda da morte materna. Curiosamente.

Esses dois postulados empíricos são reiterados pesquisa após pesquisa no Brasil e no mundo. A saúde reprodutiva de mulheres, quando tratada pela política criminal e sua ameaça de prisão, desagregação familiar e reprodução da pobreza, consegue essa façanha dupla contra a vida.

PELA VIDA – Além da autonomia e da saúde, portanto, é em nome da vida da mulher que a regulação do aborto deve ser discutida. E também em nome do interesse do Estado em proteger a vida em potencial e o embrião. E também em nome de qualquer doutrina religiosa interpretada sem a mediação do autoritarismo religioso. Sem dose de pânico moral.

O STF tem a oportunidade de decidir sobre a criminalização do aborto. Rosa Weber deixou para o tribunal um dos votos mais rigorosos, tanto do ponto de vista da argumentação jurídica quanto da análise empírica, da história do STF.

Luís Roberto Barroso suspendeu o julgamento. O adiamento do STF foi elogiado por editorial desta Folha como “prudente”. Uma “matéria tão explosiva na arena política”, se decidida pela corte, poderia ser vista como “ativismo judicial” que invadiria “terreno do Legislativo”. Seria mais recomendável a “autocontenção” e preferível a “mais sólida” via congressual.

TUDO É DISCUTÍVEL – Os argumentos do editorial são conhecidos e equivocados. Tanto do ponto de vista da teoria política que professa e do exemplo exclusivo que invoca. Vale discutir os conceitos de autocontenção, ativismo judicial e superioridade da via congressual. Vale também esclarecer os termos dessa relação entre parlamento e cortes constitucionais na proteção de direitos em democracias.

Combinar os ideais da democracia e do constitucionalismo significa aceitar que o poder é do povo, mas ele tem limites. E se o povo costuma estar mais bem espelhado no Parlamento eleito, esse Parlamento está sujeito ao contrapeso de uma corte constitucional.

E se as decisões de uma corte constitucional são falíveis, também é falível a representatividade popular de um Parlamento. Cada vez mais.

LINHA NEBULOSA – Em nenhuma democracia constitucional o Parlamento decide sozinho sobre a extensão de direitos fundamentais. E se isso torna nebulosa a linha entre legislar e interpretar o direito, que supostamente organiza a divisão de trabalho entre parlamentos e cortes, conviva com isso. Porque toda decisão judicial que desagrada será acusada de “ativismo judicial”.

O Congresso brasileiro já decidiu sobre aborto. Há décadas decidiu deixar tudo como está: a mulher que interrompe a gravidez em clínicas clandestinas, se não morrer, estará sujeita ao assédio do sistema de saúde, do fundamentalismo religioso e do sistema de Justiça.

O Congresso não tem ficado em silêncio: quando fala em aborto, tem sido para aprofundar a violação de direitos e revogar as três hipóteses de aborto legal hoje (risco de vida da mulher, estupro, feto anencéfalo).

SEPARAÇÃO DOS PODERES – Se o STF descriminaliza o aborto, o Congresso poderá regular as formas em que isso se dá. Poderá até mesmo confrontar o tribunal. Se censurável do ponto de vista constitucional, é viável do ponto de vista político. E o jogo da separação de Poderes continua. Nem Parlamento nem corte, sozinhos, “pacificarão” o conflito.

Da perspectiva histórica, não há evidência de que decisão do Parlamento “concilia” uma sociedade. De que o tema deixa de ser “explosivo”. O Parlamento argentino aprovou o aborto e a sociedade continua a lutar. O seu novo candidato a autocrata, líder das pesquisas, está gritando contra o aborto e pode ganhar as eleições.

Da perspectiva da teoria democrática, há muito se sustenta a legitimidade de decisão judicial contra o Parlamento. Decisões judiciais que descriminalizaram o aborto, como na Colômbia e no México, lidam com riscos políticos adiante. Mas têm protegido a vida. Além da prudência, o STF precisa de coragem para proteger a vida. Pois não controla o futuro.

Para todos os países, está cada vez mais difícil equilibrar as contas públicas, diz o FMI

Tribuna da internet: "O esquema internacional das dívidas públicas  transforma os países em reféns", por M.L.Fattorelli - Auditoria Cidadã da  DívidaRosana Hessel
Correio Braziliense

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê o endividamento dos países crescendo um ponto percentual por ano a médio prazo, os desafios têm origem na demanda cada vez maior por gastos públicos, associada às altas expectativas sobre o que o Estado pode e deve fazer, circunstância que eleva o endividamento e as taxas de juros.

Diz o Fundo que  as dívidas públicas estão elevadas em todo o mundo e os custos dos empréstimos estão crescendo devido aos juros cada vez mais elevados pelos bancos centrais, no intuito de convergir a inflação para a meta, algo que, pelas estimativas, só deverá ocorrer a partir de 2025.

AUMENTO ANUAL – Pelos cálculos, a dívida pública mundial deverá crescer cerca de um ponto percentual por ano, a médio prazo. “A dívida pública global está, agora, substancialmente mais alta e prevê-se que cresça consideravelmente mais rápido do que nas projeções pré-pandemia.

No ritmo projetado, a média da dívida pública global aproximar-se-ia dos 100% do PIB até ao fim da década”, alertou o relatório Monitor Fiscal, divulgado nesta semana, durante o evento do organismo multilateral em Marraquexe, Marrocos.

Conforme as projeções do FMI, que tem uma metodologia diferente do Banco Central no cálculo da dívida pública bruta, incluindo títulos do Tesouro sob custódia da autoridade monetária, por exemplo, prevê que a dívida pública bruta do Brasil volte a crescer neste ano, chegando a 88,1% do Produto Interno Bruto (PIB) e subindo para 90,3% do PIB, em 2024, apesar de prever rombos fiscais menores do que o mercado, de 1,2% do PIB, neste ano, e de 0,2%, no ano que vem.

ACIMA DA MÉDIA – Os números brasileiros estão bem acima da média dos países emergentes projetada pelo FMI, de 68,3% do PIB, em 2023, e de 70,1%, em 2024. 

 Pelas estimativas do Fundo, a dívida pública bruta do Brasil continuará crescendo nos próximos anos e voltará aos patamares de 2020, de 96% do PIB, em 2028, bem a cima da média prevista para as economias emergentes, de 78,1% do PIB. 

 De acordo com dados do relatório, a restrição orçamentária varia amplamente entre os países pobres, que têm mais dificuldade para conseguir financiamento e têm os juros como grande consumidor das receitas de impostos, e os mais ricos, que estão vendo as atuais políticas caminhando para uma trajetória fiscal insustentável.

ARROCHO FISCAL – “Além disso, há outra consideração importante quando ponderando políticas orçamentárias. Em muitos países, são necessárias políticas fiscais mais rigorosas, não apenas para reconstituir reservas e conter riscos para as finanças públicas, mas também para contribuir para os esforços dos bancos centrais em favor de um retorno oportuno às metas de inflação”, alertou Vitor Gaspar, diretor do Departamento de Assuntos Fiscais do FMI.

O Monitor Fiscal também analisa as implicações fiscais da transição verde, pois é possível identificar “lacunas de ambição” – a diferença entre contribuições definidas nacionalmente pelos próprios países e o que é necessário para cumprir o Acordo de Paris objetivos.

Da mesma forma, há “lacunas políticas” – a diferença entre as metas nacionais e os resultados alcançáveis sob condições de normais de negócios.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, reina a irresponsabilidade administrativa, e muitos outros governantes querem fazer como Lula e declarar ultrapassados os compêndios e as teses principais da Economia Política, com a criação de novas doutrinas, como a de que “o dinheiro vai sair de onde está para ser aplicado onde deveria estar”, uma das favoritas de Lula. (C.N.)

Netanyahu condena os civis palestinos a morrer de fome e sede na Faixa de Gaza                                                                                       

Presidente Lula publica 'apelo' em defesa das crianças palestinas e  israelenses - Brasil Popular

Maiores vítimas da guerra são a verdade e as crianças

Roberto Nascimento

Cortar água, comida e eletricidade para as populações de palestinos, que vivem na Faixa de Gasa e que também são vítimas dos terroristas do Hamas, é uma tragédia de grandes proporções. Evidentemente, em poucos dias, crianças e idosos vão morrer de fome e de sede.

Na Faixa de Gaza, há uma incidência de doenças renais graves, por causa da poluição das águas que é fornecida para o povo palestino. No entanto, águas poluídas, nesse sentido, são um mal muito menor do que a falta de água.

CONFRONTO ETERNO – Extremistas dos dois lados lucram com as hostilidades. Israel tem que focar nos terroristas do Hamas, e a população palestina não pode sofrer pela ação de grupos que optaram pela via do terror. Igualmente, o povo israelense não pode pagar a conta pela intransigência de setores conservadores, que não aceitam os apelos pela paz e apostam no confronto eterno.

Sobre as narrativas dos dois lados, é preciso enfatizar, como dizia o dramaturgo grego Ésquilo, que numa guerra a verdade é sempre a primeira vítima.

Os líderes nunca falam a verdade, é uma mentira atrás da outra. Quando são desmentidos pelos fatos, o efeito da mentira já passou. Por esse motivo, não devemos jamais acreditar nas declarações dos governantes em guerra.

DINHEIRO E PODER – O grupo extremista do Hamas, que não representa o povo palestino, somente existe devido à possibilidade de guerra. Se houver paz, será imediatamente extinto. Por seu turno, os extremistas religiosos de Israel também não querem ouvir falar de acordo de paz.

Quais as razões? Ora, as de sempre – Dinheiro e Poder. Os religiosos de Israel e grupos conservadores perderiam faturamento e cargos na máquina pública do governo israelense, assim como o grupo extremista do Hamas perderia os recursos para compra de armas e prática de atos terroristas, caso o Estado palestino convivesse pacificamente com o Estado Israelense.

Tenho esse entendimento desde o século passado, quando o presidente egípcio Anwar Sadat, que assinou o Acordo de Paz de Camp David, foi morto por jihadistas em 1981, durante uma parada militar no Cairo.

RABIN ASSASSINADO – Depois, em 1995, um extremista matou o primeiro-ministro israelense Ythzhak Rabin por ser opor aos acordos de paz de Oslo, assinados com o líder palestino Yasser Arafat.

Em suma, houve importantes tentativas de paz, mas foram em vão. Quem cultua o ódio e menospreza a vida, está provado, quer a guerra e o genocídio de seus povos, para lucrar com o sofrimento da população. Ninguém pode ter o direito de matar em nome de entidades religiosas, mas isso continua a ser comum.

Assim, quase 30 anos depois, nada mudou e o Oriente Médio continua numa guerra religiosa que nada tem de santa.

Norte-vietnamitas conseguiram vencer os Estados Unidos sem agir como terroristas

7 fatos para entender o que foi a Guerra do Vietnã

Maior potência militar foi vencida e humilhada no Vietnã

Elio Gaspari
Folha/O Globo

Diplomatas israelenses compararam o ataque terrorista do Hamas ao 11 de setembro de 2001, quando aviões sequestrados por militantes suicidas da Al Qaeda destruíram as torres gêmeas de Nova York, matando cerca de 3.000 pessoas. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu evitou essa comparação. Fez muito bem, porque se há uma semelhança original entre os dois episódios, o paralelo mais próximo é outro, com a ofensiva do Vietnã do Norte e do Vietcongue, durante os festejos do Tet, em janeiro de 1968.

A ofensiva do Tet fracassou militarmente, mas quebrou a espinha dorsal do apoio popular à intervenção americana no Vietnã e custou a ruína política ao presidente Lyndon Johnson. Em março, ele anunciou que não disputaria a reeleição, foi para seu rancho, deixou o cabelo crescer e morreu em 1973. Foram necessários mais de 30 anos para que ele fosse defendido como um grande presidente, noves fora o Vietnã.

TUDO TRANQUILO – Até a semana passada, os generais israelenses e seu famoso serviço de informações estavam tranquilos. Os egípcios teriam avisado que alguma “coisa grande” estava a caminho. Se esse aviso chegou a Tel Aviv, não se sabe, mas a “coisa grande” aconteceu. Em dezembro de 1967, os generais americanos estavam seguros de si.

No final de janeiro, mais de 50 mil soldados do Vietnã do Norte e cerca de 250 mil vietcongues atacaram bases americanas e dezenas de cidades do Sul. O impensável aconteceu. (Impensável, mas vários avisos foram ignorados.)

Apesar dessa semelhança militar, o paralelo não deve ir muito longe. Mesmo tendo praticado atrocidades, sobretudo na cidade de Hue, os vietnamitas do Norte e os vietcongues não agiam como terroristas, sequestrando inocentes para usá-los como escudos humanos. O Vietcongue atacou a embaixada americana, o Hamas matou 260 pessoas num festival de jovens. (Em 1968, dois generais americanos e um almirante cogitaram usar armas nucleares táticas para defender uma base militar sitiada. Johnson vetou a ideia.)

TERROR EM GAZA – Em 2014, quando a tropa israelense entrou na Faixa de Gaza, 1.462 civis morreram. Pelo menos 142 famílias palestinas perderam três ou mais membros, 18 mil casas foram destruídas e 108 mil pessoas ficaram sem teto. Israel perdeu apenas 67 soldados e seis civis.

O Hamas fez do assassinato de civis e dos sequestros de cerca de 150 civis, inclusive mulheres e crianças, o coração de sua ofensiva. Um episódio teve características militares, o outro, características terroristas. Eis a diferença.

O uso de civis como escudos humanos é uma violência velha como as guerras. Na guerra civil da falecida Iugoslávia, ela custou pesadas condenações a chefes militares, saídas do Tribunal Internacional de Haia. Na batalha pela posse da cidade de Mosul, em 2016, o grupo islamita Isis valeu-se de escudos humanos para mover seus combatentes.

ESTILO DO ISIS – O primeiro-ministro Netanyahu comparou os sequestros do Hamas às práticas do Isis (Estado Islâmico). De certa maneira, o que o Hamas fez foi mais radical: os escudos humanos de Mosul eram civis que viviam na cidade. As vítimas do Hamas foram sequestradas em território israelense.

Os pilares da política de Netanyahu caíram na frigideira que fritou Lyndon Johnson. Ao contrário dos regimes árabes do Oriente Médio, Israel tem um regime democrático e liberdade de imprensa.

Jornalistas da esquerda imparcial atacam um Legislativo que apenas tenta legislar

Senador Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado - Metrópoles

Pacheco conduz o Legislativo a assumir postura afirmativa

Mario Sabino
Metrópoles

É curioso observar a imparcialidade de jornalistas de esquerda (quase um pleonasmo). Foi um Deus nos acuda quando o ministro Kassio Nunes, indicado por Jair Bolsonaro ao Supremo, suspendeu monocraticamente a quebra dos sigilos do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal pela CPI do 8 de janeiro. Como assim um ministro pode dar uma decisão monocrática dessas? Quebra de sigilos é uma das atribuições de uma CPI! Quem esse sujeito pensa que é para afrontar o Legislativo? Loucura, loucura, loucura!

Um dia depois, os mesmos jornalistas da esquerda imparcial indignaram-se porque a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou a PEC que proíbe as decisões monocráticas dos ministros do Supremo com efeito suspensivo sobre atos dos presidentes dos outros Poderes. Ela também muda as regras para os pedidos de vista — que deverão, segundo a PEC, ser coletivos e ter um prazo limitado a seis meses.

COMO ASSIM? – A gritaria ainda se ouve. Como assim, a aprovação se deu em 43 segundos? Essa é uma afronta ao Supremo! Quem esses sujeitos pensam que são? Loucura, loucura, loucura!

Houve jornalista da esquerda imparcial que chamou a CCJ de “Comissão de Chantagem à Justiça”. Houve jornalista da esquerda imparcial que decretou, da própria cachola, que é inconstitucional o Congresso dizer como o STF deve se organizar. Houve jornalista que acusou a CCJ de dar um golpe.

Houve jornalista da esquerda imparcial que disse que as mudanças sobre decisões monocráticas e pedidos de vista já foram feitas pelo próprio Supremo e que as aprovadas pela CCJ do Senado seriam inúteis, portanto. Só esqueceram de que o regimento do tribunal pode ser mudado da noite para o dia, ao contrário de emenda à Constituição.

ESTRANHA ACUSAÇÃO – Entre mais enfadado do que propriamente perplexo, concluí que o Legislativo está sendo acusado de legislar, no que interpretei como criminalização da política, lembra dela? Constatei, mais uma vez, que os jornalistas da esquerda imparcial não leem a Constituição. Está lá: cabe ao Legislativo “zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes”.

Como decisões monocráticas dos ministros do Supremo, assim como pedidos de vista, vêm atingindo a competência do Poder Legislativo, o motivo da mudança está justificado, assim como a legitimidade da decisão da CCJ, que terá de ser submetida ao Congresso para entrar em vigor.

Quanto aos 43 segundos que a CCJ levou para aprovar a PEC, recordo que o TSE levou pouco mais de um minuto para cassar Deltan Dallagnol.

MANDATO PARA O STF – Há parlamentares, como o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que defendem mandato de prazo fixo para ministro do STF. Quem é contra diz que isso poderia causar mudanças constantes de jurisprudência e insegurança jurídica. Parece piada, não é?

O tema é tão sensível que o decano do Supremo foi à plataforma X para afirmar que a eventual mudança seria “acompanhada do loteamento de vagas, em proveito de certos órgãos”. Se diz isso em público, fico imaginando o que ele diz em privado. Só no Brasil.

Nessa linha de “só no Brasil”, há parlamentar defendendo até que o Legislativo possa reverter na lata decisões do STF. Aí não dá. Aí, sim, é inconstitucional. E, para falar a verdade, ninguém precisa ficar muito preocupado com imutabilidade jurídicas, porque o tribunal já reverte de tempos em tempos um monte de decisões que ele próprio tomou.

CHAMAM DE GUERRA – Toda essa movimentação parlamentar está sendo chamada de “guerra” contra o Supremo. É uma facilitação jornalística, mas é fato que deputados e senadores, principalmente da direita, estão incomodados com os sucessivos julgamentos no STF de temas sobre os quais caberiam aos parlamentares decidir.

O do marco temporal para demarcação de terras indígenas é o exemplo mais recente. O STF votou a favor e o Congresso votou contra logo em seguida. Outro julgamento delicado é sobre a descriminalização do aborto, iniciado sob Rosa Weber e interrompido sob nova direção.

Essa encrenca, por enquanto, não terá seguimento, segundo garantiu a Lula o agora presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso. Aprovar a descriminalização do aborto nos STF causaria desgaste ao presidente da República e acirraria o atrito do Judiciário com o Legislativo. E todas aquelas mulheres que morrem de aborto, segundo a esquerda especializada e escandalizada? Respondo com outra pergunta: o que são as convicções diante das conveniências?

COISA DO CENTRÃO – Os jornalistas de esquerda imparcial dizem que a PEC aprovada pela CCJ é do interesse fisiológico do Centrão e que Rodrigo Pacheco só quer ficar bem com a bancada da direita ao ameaçar dar uma enquadrada no Supremo. Pode ser. Como pode ser também que Gleisi Hoffmann tenha sido porta-voz de Lula ao afirmar que a Justiça Eleitoral deveria ser extinta. Ela voltou atrás, disse que não era bem assim, mas parte do PT acha que a cúpula do Judiciário está poderosa demais e, um dia, poderá se voltar contra o partido.

Nada disso tira a legitimidade do jogo do Legislativo, embora não o torne moralmente bom. Quem atacou a Lava Jato afirmando que ela criminalizava a política não pode ver a política como crime, só porque ela a desfavorece. Você pode julgar que a política é má, mas ela não deixa de ser política.

Quem defendeu tanto a democracia, aplaudindo até medidas de exceção, não deveria esculhambar o Congresso dizendo que ele afronta o STF ao legislar. Essa democracia, com esses democratas, é o que temos.

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P.S.
Rodrigo Pacheco disse nessa sexta-feira que o Senado também discutirá o fim da reeleição no Brasil para cargos no Executivo, como o de presidente da República. Espero que a coisa vá adiante. Como a emenda da reeleição de presidente da República foi a pior coisa que poderia ter acontecido ao Brasil, o seu fim seria a melhor coisa que poderia acontecer ao Brasil. (M.S.)

Mundo deve assistir a uma tragédia colossal — a invasão israelense da Faixa de Gaza

Bombardeios forçaram milhares de pessoas a abandonar suas casas

Pedro do Coutto

Com a ordem do governo de Israel para que a população civil se desloque do Norte de Gaza para o Sul da Faixa, e diante da resposta do Hamas para que a população ignore a indicação, deve começar a se desenrolar hoje, sábado, uma colossal tragédia na história da humanidade.

O entrechoque de posições revela que as forças de Israel invadirão por terra e a disposição do Hamas, que iniciou a ofensiva do terror exatamente há uma semana, conduz ao confronto inevitável, sobretudo porque a população civil de Gaza está sofrendo um bloqueio de água, energia elétrica, alimentos e remédios.

IMPASSE – Está, portanto, vivendo numa atmosfera de absoluto desespero. Não tem condições de acatar a ordem de Israel porque, certamente, o braço armado do Hamas impedirá o deslocamento, já  dificílimo, quase impossível de uma região para outra, de um território de pouco menos de 500 quilômetros quadrados.

Mesmo que a determinação fosse cumprida, a dificuldade de tal multidão humana deslocar-se de um pólo para outro seria inviável, quanto mais se for debaixo de rajadas de metralhadoras, bombas e mísseis. A ameaça ronda a Faixa de Gaza dentro de um possível desfecho sinistro que parece irreversível.

Ao ordenar a retirada de parte da população civil de Gaza, está evidente as intenções de Israel na região, colocando os moradores sem uma alternativa de existência, pois o fogo cruzado e os bombardeios dirigem-se em massa não contra os integrantes do Hamas, mas, sobretudo, contra a população dominada pelo terror e exposta aos piores reflexos e consequências.

PREOCUPAÇÃO – O ultimato foi dado nas primeiras horas de sexta-feira e as 24 horas terão se completado a partir do momento em que no Brasil os leitores e leitoras tiverem esse texto em mãos. De todo o conflito desesperador, destaca-se a consciência humana e a visão sobre uma catástrofe. A preocupação mundial quanto à tragédia que envolve o mundo torna-se também um tormento coletivo. As grandes potências não podem se omitir.

O Conselho de Segurança da ONU, neste mês, presidido pelo Brasil, está em sessão permanente. É permanente também a ansiedade de todos os homens e mulheres que num movimento silencioso continuam aguardando pelo cessar fogo imediato e pela paz.  As imagens de destruição são fortíssimas com a invasão de Gaza e podem tornar-se ainda piores.

“Envolvimento de Bolsonaro em decreto golpista é gravíssimo”, diz relatora da CPI

Saiba quem é Eliziane Gama, senadora escolhida relatora da CPMI do 8 de janeiro | O TEMPO

Eliziane Gama quer incriminar Bolsonaro, mas faltam provas

Eduardo Gonçalves
Correio Braziliense

A relatora da CPI de 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), classificou como “gravíssima” a informação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro supostamente participou da elaboração de uma minuta golpista. A palamentar viu no episódio elementos que configuram o crime de abolição ao Estado Democrático de Direito.

A participação de Bolsonaro consta em um trecho da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e foi revelada pelo Globo nesta quarta-feira.

ENGENHARIA TRAÇADA — “A informação que vem à tona sobre a delação de Mauro Cid é gravíssima, pois revelaria os detalhes sobre como se daria a engenharia traçada para tentar abolir o Estado Democrático de Direito. A CPI, ao longo desses meses de investigação, já recebeu outros dados que também sustentam essa operação golpista” — afirmou a parlamentar.

Eliziane Gama deve entregar na semana que vem o relatório final da CPI atribuindo responsabilidades pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Ela não revela os nomes, mas integrantes da base do governo declaram ver elementos suficientes para pedir o indiciamento de Bolsonaro como mentor intelectual dos ataques.

Interlocutores da relatora avaliam que o caminho seria solicitar à Procuradoria-Geral da República o aprofundamento das investigações sobre a suposta participação de Bolsonaro na trama. Procurada, a defesa do ex-presidente não quis comentar porque não teve acesso ao conteúdo da delação de Cid.

DISSE O HACKER – Para destacar o papel de Bolsonaro, Eliziane relembrou o depoimento do hacker Walter Delgatti, dado à comissão. Delgatti relatou que o ex-presidente lhe pediu pessoalmente para assumir um grampo contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, fato que Bolsonaro nega.

“São fatores importantes que exigem a ampliação de toda essa investigação” — diz ela.

Para a base governista, que tem maioria dos votos na CPI, o conteúdo da delação de Mauro Cid reforça a tese de que Bolsonaro deve ser indiciado pela comissão.

RESPONSABILIZAÇÃO — “O depoimento é alarmante. Esses atos foram praticados durante o exercício do mandato do ex-presidente. Por isso, é essencial que todos os envolvidos nesses planos antidemocráticos, incluindo o próprio ex-presidente, sejam responsabilizados perante a lei. Há possibilidade de indiciá-lo por organização criminosa, abolição ao Estado Democrático de Direito e incitação a inúmeros crimes” — disse o deputado Duarte Júnior (PSB-MA).

Também da ala governista, o deputado Rogério Correia (PT-MG) afirmou que a delação de Cid é “peça fundamental” para “elucidar o que foi essa tentativa de golpe e como trabalhou o entorno de Bolsonaro”.

“Além de ter conhecimento das tratativas, Bolsonaro atuou fortemente para construir, viabilizar, articular e insuflar a intentona golpista” — acusou o parlamentar do PT.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– É tudo conversa fiada e jogo de cena, pois houve um acordo para blindar os militares e não incriminar ninguém. Segundo o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, houve uma reunião, na qual o ex-presidente pediu alteração na chamada minuta do golpe. Não existe prova material, somente a delação de Cid, que precisa ser corroborada por depoimentos de outros participantes da reunião. A minuta teria sido entregue a Bolsonaro por Filipe Martins, então assessor da Presidência, amigo dos filhos de Bolsonaro. (C.N.)

PROBLEMAS NO BLOG

Carlos Newton

Estamos com problemas no Blog. Como vocês percebem ao acessá-lo, está inteiramente fora do padrão. Além disso, há dificuldades para inserir novas matérias.

Já pedimos apoio técnico ao servidor UOL e estamos aguardando.

Em breve daremos outras informações,

Abs. a todos

C.N.

Quando o poeta se desespera e confessa que enlouqueceu, por excesso de amor

Pedro Kilkerry | Rimas, Poemas, PoetasPaulo Peres
Poemas & Canções

O

advogado e poeta baiano Pedro Militão Kilkerry (1885-1917), no poema “Essa, que Paira em meus Sonhos”, confessa que, por excesso de amor, enlouqueceu.

ESSA, QUE PAIRA EM MEUS SONHOS
Pedro Kilkerry

Essa, que paira em meus sonhos,
Em meus sonhos a brilhar,
E tem nos lábios risonhos
O nácar de Iônio – Mar –
Numa fantasia estranha,
Estranhamente a sonhei
E de beleza tamanha,
Enlouqueci. É o que sei.

Ela era, em plaustro dourado
Levado de urcos azuis,
De Paros nevirrosado,
Ombros nus, os seios nus…
E que de esteiras de estrelas,
De prásio, opala e rubim!
Na praia perto, por vê-las
Vi que saltava um delfim
Que longamente as fitando
Alçou a calda, a tremer
E outros delfins, senão quando
Aparecer

A explicação da estupidez das guerras, na troca de ideias entre Einstein e Freud

A carta de Freud a Einstein - por que a guerra? Pulsão de morte e pulsão de  vida - YouTube

Fotomontagem reproduzida do Arquivo Google

Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Quem acompanha as imagens na Faixa de Gaza, do ponto de vista estritamente militar, o chamado teatro de guerra tem muito a ver com a Batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra Mundial, do que com a sangrenta batalha de Hué, durante a Guerra do Vietnã, vencida pelos mariners. Manobrar em campo aberto, encostas e zonas rurais é muito diferente do combate numa cidade destruída por bombardeios, mas na qual a resistência se mantém rua por rua, prédio a prédio, andar por andar, dentro dos porões e galearias subterrâneas, como aconteceu em Stalingrado.

Esse é o cenário que o Exército israelense encontrará pela frente se entrar em Gaza antes de um cessar-fogo ou da rendição do Hamas.

SEDE, FOME E FRIO – Como na Faixa de Gaza, em Stalingrado os civis passaram sede, fome e frio, sem energia e combustível, mas o Exército soviético foi orientado a resistir até o último homem. No final, cercou o Exército alemão, que se rendeu, fazendo 200 mil prisioneiros. Mas na batalha morreram 2 milhões de pessoas. Em Stalingrado, o major-general Vassily Chuikov adotou uma “defesa ativa”, ou seja, nunca perdeu a iniciativa.

O que mais aterrorizava as tropas alemãs eram pequenas unidades de combate, que foram denominadas de “porco espinho”, com um franco-atirador e equipada com um morteiro e uma metralhadora. Essas unidades se escondiam nos escombros, deslocavam-se à noite, atacavam de surpresa e se evadiam, quando possível.

Não existe a menor possibilidade de derrota militar de Israel pelo Hamas, mas esse é o tipo de combate que o Exército israelense encontrará nas ruínas de Gaza, se invadi-la.

POR QUE A GUERRA? – A reação de premier Benjamin Netanyahu, na Faixa de Gaza, até agora obedece a objetivos estritamente militares, e não humanitários.

Isso fará com que os ânimos se acirrem ainda mais no mundo árabe e cresçam os questionamentos na opinião pública mundial e israelense quanto à escala da retaliação.

Metade da população da Faixa de Gaza tem menos de 17 anos, qual será o futuro das crianças e dos jovens que sobreviverem à nova tragédia palestina?

EINSTEIN E FREUD – Albert Einstein e Sigmund Freud entram nessa história porque uma famosa troca de cartas entre o autor da Teoria da Relatividade e o criador da Psicanálise circula nas redes sociais.

Em 1932, Albert Einstein, em nome do Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual, pertencente à Liga das Nações, enviou uma carta para Freud, na qual fez a seguinte pergunta: existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra?

Einstein tinha esperança de que Freud sugerisse métodos educacionais que promovessem a paz. Em vez de dar soluções, Freud preferiu destrinchar o problema. Destacou a relação entre direito, poder e violência. Assinalou que a dominação sempre esteve em poder daquele que detivesse um poder maior, seja pela violência bruta, seja pela violência apoiada no intelecto. Detentores de poder se colocam acima dos demais, e os oprimidos tentam se pautar em uma justiça igual para todos, argumentou.

AUTORIDADE CENTRAL – Para Freud, as guerras somente serão evitadas se a humanidade se unir para estabelecer uma autoridade central a que lhe será conferido o direito de arbitrar todos os conflitos, tese que hoje fundamenta a existência da ONU.

“Por que o senhor (diz Freud), eu e tantas pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a guerra? Penso que a principal razão por que nos rebelamos contra a guerra é que não podemos fazer outra coisa. Somos pacifistas porque somos obrigados a sê-lo, por motivos orgânicos, básicos”, escreveu.

“Ora, a guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização, e por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos conformar com ela”, completou Freud.

“Que atrocidade o Hamas teria de praticar para ser tido como terrorista?”, indaga PSB

Carlos Siqueira dá ultimato sobre aliança entre PSB e PT nos estados e lança data para bater martelo | Paraíba Já

Omissão do governo contraria Siqueira, presidente do PSB

Roseann Kennedy
Estadão

A explicação formal do Itamaraty sobre o motivo de não classificar o Hamas como grupo terrorista não foi suficiente para desfazer o mal-estar que o tema provoca no governo Lula. O assunto divide, diretamente, o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin.

O incômodo foi verbalizado pelo presidente do PSB, Carlos Siqueira, que elevou o tom nesta sexta-feira, para cobrar que o governo reavalie o conceito oficial sobre o Hamas. “Não consigo, sinceramente, entender o fato de o nosso governo não classificar o grupo Hamas como grupo terrorista. Que outra atrocidade ele precisaria praticar para receber esse carimbo?”, afirmou à coluna do Estadão.

ALCKMIN CALADO – O vice Geraldo Alckmin mantém distância do assunto. Ele fez uma manifestação nas redes sociais, no dia do início dos ataques, alinhado com o tom do Itamaraty. Repudiou os ataques e os relatos de sequestros de civis, além de defender a retomada das conversas pela paz. Mas, depois disso, evitou falar novamente publicamente sobre o tema. Alckmin também não deverá interferir no posicionamento de Carlos Siqueira, apostam os mais próximos ao vice-presidente.

Desde o início dos ataques, no dia 7 de outubro, o PT e o governo relutam em não chamar o Hamas de terrorista. Na Câmara, por exemplo, foram aprovadas 17 moções de repúdio, mas somente o texto apresentado e assinado por um grupo de petistas não faz nenhuma menção a terrorismo e ainda inclui repúdio ao Estado de Israel.

DIZ O ITAMARATY -Diante da cobrança que tem sofrido de segmentos políticos e da sociedade para classificar o Hamas de organização terrorista, o Ministério das Relações Exteriores divulgou nota para explicar sua postura. No texto, reforça que repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações.

Mas justifica que “no tocante à qualificação de entidades como terroristas, o Brasil aplica as determinações feitas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas”.

O Conselho de Segurança mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A desculpa arranjada pelo Itamaraty é patética. A ONU ainda não incluiu o Hamas como terrorista, mas irá fazê-lo, com toda certeza. Além disso, o Brasil é soberano e nada impede que ele designe o Hamas como grupo terrorista. O Brasil tem autonomia em relação a essas decisões. Não fazê-lo é uma vergonha para o país. Apenas isso. (C.N.)

STJ aguarda, há 10 meses, regulamentação da PEC da Relevância que reduzirá a pauta

Professora Maria Thereza de Assis Moura é eleita presidente do Superior Tribunal de Justiça

Maria Thereza Moura, presidente do STJ, está aguardando

Natália Portinari
Metrópoles

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) aguarda desde o final do ano passado a aprovação da regulamentação da PEC da Relevância no Senado. Esta emenda constitucional tem objetivo de prever que o STJ só terá que julgar recursos quando houver relevância comprovada, o que pode desafogar os trabalhos da Corte, foi aprovada em julho do ano passado, mas só passará a valer depois da regulamentação no Código de Processo Civil.

Para adiantar o andamento, em dezembro do ano passado a presidente do STJ, Maria Thereza de Assis Moura, entregou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um anteprojeto sugerindo uma regulamentação

PONTO DE DESGASTE – Além da demora do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre, em fazer as sabatinas dos indicados ao STJ, esse é um outro ponto de desgaste no Senado com os ministros da Corte.

A proposta sugerida pelo STJ prevê que, de forma semelhante ao que ocorre hoje no Supremo Tribunal Federal (STF) com questões constitucionais, após a relevância ser reconhecida, devem ser suspensos os processos idênticos no Judiciário.

O texto sugerido pelo STJ está em estudo no Senado, mas ainda não foi protocolado formalmente como um projeto de lei. Líderes não se movimentaram ainda para tentar colocar o tema em pauta.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam como esse pessoal é ruim de roda. O Senado, com milhares de funcionários, leva um tempo enorme para “avaliar” um texto de apenas uma lauda que já chega pronto do Superior Tribunal de Justiça. Sinceramente, é muita preguiça e incompetência. (C.N.)

Brasil continua a ter uma cruel distribuição de Renda, que realimenta a criminalidade

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Charge do Jean Galvão (Arquivo Google)

José Carlos Werneck

O Índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, recuou para 0,518 em 2022, melhor resultado da série histórica iniciada em 2012. Após um empobrecimento recorde dos brasileiros no segundo ano da pandemia de covid-19, a metade mais pobre da população teve um aumento de renda em 2022, tanto pela recuperação na geração de vagas do mercado de trabalho quanto pela redução do número de habitantes e pela expansão de programas de transferência de renda em meio à corrida eleitoral.

O salto na renda dos mais pobres reduziu a desigualdade no País. Mesmo assim, esses dados continuam péssimos.

SITUAÇÃO PERVERSA – Nossa distribuição de renda continua sendo uma das piores do Mundo. Entre o 1% mais rico da população, a renda média mensal per capita foi de R$ 17.447,00 em 2022, queda de 0,3% ante 2021.

Ainda assim, esse pequeno grupo ganhava uma renda média real mensal 32,5 vezes maior que o rendimento da metade mais pobre da população. Mas houve evolução em relação a 2021, quando essa distância era de 38,4 vezes. E transferências de renda e emprego injetaram mais R$ 24 bilhões às famílias em um ano, segundo dados do IBGE.

“A desigualdade, por mais que você tenha tido uma melhora, ela é muito estrutural. Você tem um componente muito grande da desigualdade no País”, disse, recentemente, Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE.

O DRAMA DE SEMPRE – A renda média real domiciliar per capita da metade mais pobre da população brasileira subiu 18,0% em

2022 ante 2021, para R$ 537,00 mensais, por ter sido um ano eleitoral.

Mesmo assim, apesar da melhora, cerca de 107 milhões de brasileiros sobreviveram com apenas R$ 17,90 por dia no ano passado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios Contínua, divulgados recentemente pelo IBGE.

Se considerados os 5% mais pobres no País, havia 10,7 milhões de pessoas que contavam com somente R$ 2,90 por dia em 2022, ou R$ 87,00 por mês por pessoa da família. Apesar de baixo, o resultado significou um salto de 102,3% em relação a 2021.

POLÍTICAS SOCIAIS – Segundo Alessandra Brito, analista do IBGE, as políticas de transferência de renda para mitigar a crise causada pela covid-19 deram um alívio à população mais vulnerável em 2020. No entanto, em 2021, com o enxugamento do Auxílio Emergencial, a renda per capita desceu ao pior resultado da série histórica iniciada em 2012.

Eu, particularmente, acho que é muito cruel saber que mais de 100 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 17,90 por dia, em 2022.

Com esses dados impressionantes não é difícil concluir quais são as causas de nossos índices crescentes de violência e de um mercado interno muito aquém da nossa população. Enquanto houver tamanha desigualdade social, as políticas de segurança continuarão fracassando, por óbvio.

Direita liberal procura se reinventar para “sobreviver” no mapa da América Latina

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

José Casado
Veja

Sebastián Piñera já presidiu o Chile por duas vezes e é um empresário afortunado, com patrimônio estimado em 3 bilhões de dólares, equivalentes a mais de 15 bilhões de reais. Aos 73 anos poderia estar aposentado, mas está inquieto. Desde que deixou o poder, em março do ano passado, percorre capitais latino-americanas para submeter uma ideia à crítica de líderes políticos, empresariais e ativistas locais.

— Creio naquilo que dizia Dante Alighieri: os piores lugares do inferno estão reservados àqueles que se declaram neutros em tempos de crise — vem repetindo, amparado nas alegorias do poeta italiano, autor do clássico “A Divina Comédia””

Dias atrás, em Buenos Aires, Piñera juntou-se a Mauricio Macri, ex-presidente da Argentina, e a dezenas de antigos chefes de Estado, parlamentares, empresários e acadêmicos para discutir a reconstrução da direita na América Latina.

AGENDA COMUM – O projeto é ambicioso. Prevê agenda comum, supranacional, baseada em ações “claras, transparentes e comunicadas” entre os engajados — 21 partidos inscreveram-se até a semana passada.

A proposta é inédita. Pela primeira vez, líderes da direita tradicional preocupam-se em coordenar posições na disputa pelo poder na região, dentro das regras do regime democrático. Se vai dar certo, nem Piñera nem Macri e os demais sabem, mas na reunião de Buenos Aires todos acharam válido tentar. Eles têm bons motivos.

O principal é a percepção de que está em jogo a sobrevivência das famílias e dos núcleos políticos que, tradicionalmente, sustentam o ideário da direita liberal nos palanques e nas urnas da América Latina. Sentem-se desafiados por um trio de adversários. 

OS TRÊS RIVAIS – O mais antigo é a esquerda que, pela primeira vez, domina governos das cinco principais economias latinas (Brasil, México, Colômbia, Argentina e Chile). E o competidor emergente é a extrema direita radicalizada. Ela tem conseguido capitalizar votos com eficiência sem paralelo, surfando ao estilo “trumpista” numa “rebeldia conservadora”.

Seus ícones na América do Sul são o argentino Javier Milei, o chileno José Antonio Kast e o brasileiro Jair Bolsonaro. Não têm partidos, mas possuem votos. Corroem a base eleitoral de uma direita conservadora, secular, dona de grandes estruturas partidárias, mas cada vez mais nanica em votos. Por óbvio, não foram convidados ao tango político portenho.

O rival percebido como mais perigoso, porém, estaria na casta da direita tradicional latino-americana. São os liberais aninhados em berço esplêndido, na autocrítica de Dionisio Gutiérrez, ativista guatemalteco e empresário bilionário, herdeiro de um império de agricultura, energia e comunicações na América Central:

SE ACOMODARAM — “A partir da crise financeira de 2008, nós, os liberais, nós, da direita, nos acomodamos e deixamos de defender os valores e princípios da democracia que pensamos estar estabelecidos com segurança. Não foi assim”— diz Gutierrez, acrescentando:

“Olhem como estamos hoje, com mais da metade da América Latina perdida e outra metade em perigo — provocou, em Buenos Aires. — Nós, da elite, dormimos, abandonamos a política, nos acomodamos. A elite acadêmica ficou nas bibliotecas, e a sociedade civil se dispersou. As elites econômicas seguiram em suas bolhas, ocupadas com suas empresas, esquecendo-se de que, se perderem seus países, também vão perder suas empresas.

Gutiérrez assumiu a coordenação do projeto que define como “refundação liberal”.

CHUTAR OS TRASEIROS – “Teremos propostas coordenadas e comunicadas de cada país e, em seguida, vamos chutar o traseiro dos rapazes das elites econômicas, dizendo: ‘Vejam, senhores,  aqui faltam uns centavitos’. Será para formar partidos, montar boas instituições dedicadas à formação de tecnocratas e de dirigentes políticos, enfim, uma nova geração que seja capaz de nos governar melhor.

Três de cada quatro líderes políticos insistiram na necessidade de que o redesenho da direita liberal latina tenha foco na eficácia dos programas sociais e ênfase na segurança pública. Em alguns países, advertiram, o narcotráfico já é um dos cinco maiores empregadores.

Ronaldo Caiado, governador de Goiás, reclamou da cegueira deliberada sobre o tema no Brasil: “Infelizmente, não querem ver. No entanto, o narcotráfico está avançando com parlamentares do narcotráfico, magistrados do narcotráfico e advogados do narcotráfico. Antes, o tráfico queria parcerias com os governos; hoje, quer assumir os governos”.

Duas décadas de políticas israelenses em relação aos palestinos viraram cinza

Uma bola de fogo aparece após bombardeio israelense à Faixa de Gaza em 9 de outubro

Reação de Israel está matando quem estiver pela frente

The Economist

É difícil projetar o choque do ataque sangrento do Hamas contra Israel — porque a ação envolveu milhares de foguetes e combatentes atacando o sul do país por terra, mar e ar; e porque a ação foi completamente inadvertida apesar de sua escala, infligindo um golpe humilhante contra os celebrados serviços de inteligência israelenses; mas acima de tudo em razão da matança de centenas de pessoas inocentes e do sequestro de muitas outras pelo Hamas. Conforme as Forças de Defesa de Israel (IDF) ponderam sobre sua resposta, a atenção do mundo se voltará para o seu martírio desesperado.

É cedo demais para saber como transcorrerão as próximas semanas. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, jurou cobrar “um preço enorme”, e ele está certo: o Hamas deve pagar por suas atrocidades, que incluem o massacre de mais de 250 jovens israelenses em um festival no sul do país.

RISCOS GRAVES – Mas a resposta de Israel engendra riscos graves. Mandar tropas terrestres entrar em Gaza poderia envolvê-las em um sangrento combate urbano — além de colocar os reféns em risco. Quanto mais os combates se arrastarem, maior a chance da violência se espalhar para a Cisjordânia e o Líbano.

Mortes de muitos civis em Gaza, especialmente se consideradas injustificadas, poderiam prejudicar a posição de Israel no mundo e não deixariam de ser profundamente erradas em seus próprios termos.

Mas não é cedo demais para ser claro afirmando que este ataque marca o fim de uma convicção de décadas em Israel de que as aspirações palestinas por soberania poderiam ser deixadas de lado indefinidamente enquanto o restante do Oriente Médio avança. Além de tudo mais que possa emergir deste conflito, decorrerá uma nova busca por respostas à dúvida sobre como israelenses e palestinos podem viver em paz.

TRÊS CÁLCULOS – A política de Netanyahu de escantear os palestinos dependia de três cálculos, e todos foram pelos ares com o ataque do Hamas. O primeiro: mesmo que a questão palestina seja abandonada os israelenses poderão permanecer seguros. Como resultado das baixas terríveis da Segunda Intifada, que terminou em 2005, Israel cercou as populações palestinas com muros de segurança. Superioridade em inteligência e poder de fogo arrebatador, incluindo o sistema antifoguetes Domo de Ferro, significavam que a ameaça armada dos combatentes palestinos era controlável.

Parece que agora esta noção se rompeu. Uma razão para os serviços de inteligência israelenses poderem ter desviado a atenção de Gaza é que a Cisjordânia está agitada pelos objetivos expansionistas da extrema direita de Israel.

No sul do Líbano, o Hezbollah possui um arsenal temível, grande parte fornecido pelo Irã. Não há dúvida de que Israel será capaz de restabelecer seu domínio militar sobre os palestinos, mas mesmo que seus soldados e espiões acreditarem que é possível garantir a proteção dos cidadãos israelenses, os eleitores dificilmente concluirão que um retorno ao status quo seria bom o suficiente.

SEGUNDO CÁLCULO – O segundo cálculo era que a existência do Hamas ajuda Israel a lidar com o Fatah, o partido palestino que governa a Cisjordânia. Assumia-se que a doutrina de dividir para controlar mantinha os palestinos enfraquecidos e que a influência de facções radicais poderia minar a credibilidade dos moderados enquanto parceiros para a paz — o que atendia completamente aos interesses de Netanyahu.

Com estes ataques, essa noção também saiu dos trilhos. Uma razão para o Hamas atacar foi a doutrina de dividir para controlar ter criado condições que deixaram o Fatah decadente e isolado; seu líder, Mahmoud Abbas, está enfermo.

Com seu ataque, o Hamas está reivindicando a posição de porta-voz verdadeiro da resistência palestina. As rivalidades internas dos palestinos deveriam proteger os israelenses, mas acabaram transformando-os em alvo.

TERCEIRO CÁLCULO – Pensava-se que Israel seria capaz de fortalecer sua posição no Oriente Médio perseguindo diplomacia regional mesmo que deixasse os palestinos apodrecendo. Esse terceiro cálculo foi endossado pela assinatura dos Acordos de Abraão, entre Bahrein, Israel e Emirados Árabes Unidos, em 2020 — e a adição posterior de Marrocos e Sudão.

Até o fim de semana passado, parecia que a Arábia Saudita também poderia se juntar, e eventualmente os sauditas ainda poderão aderir, mas o Hamas mostrou que os palestinos também têm algo a dizer.

A próxima operação contra o Hamas somente contribuirá para a sensação de que chegou a hora de uma nova abordagem. Após o derramamento de sangue do sábado, Israel não pode fulminar o Hamas nem permitir que o grupo permaneça no poder em Gaza como se nada tivesse acontecido.

MUITO COMPLICADO – Contudo, nenhuma alternativa simples está em oferta. As Forças de Defesa de Israel  não querem ocupar Gaza — por este motivo o enclave é autogovernado. A ideia de uma força de paz internacional também é difícil imaginar: nenhum país quer assumir essa responsabilidade.

E ainda assim, se Israel destruir o Hamas em Gaza e depois marchar de volta para casa, quem saberá que forças destrutivas poderão ocupar o vácuo deixado para trás.

Ninguém deve subestimar as dificuldades adiante. A Segunda Intifada dissuadiu jovens israelenses de se posicionar por negociações com os palestinos. O atual ultraje certamente criará uma nova geração de israelenses incapazes de imaginar como facções palestinas podem ser parceiras para a paz. Ao mesmo tempo, a coalizão de extrema direita que governa Israel tem colocado foco em anexar partes da Cisjordânia — e redobrará esses esforços.

VOLTAR A NEGOCIAR – Apesar disso, israelenses cabeça-dura precisarão aceitar o fato de que devem voltar a negociar na questão palestina. O aparato de segurança de Israel precisa de uma contraparte com a qual possa trabalhar se quiser exercer qualquer tipo de influência sobre os territórios palestinos. Isso significa que os israelenses precisam de um interlocutor palestino.

O que virá depois dependerá enormemente de quem estiver ocupando o poder em Jerusalém. No momento, Israel está unindo esforços, mas logo passará por um amargo acerto de contas que ainda poderá levar a uma nova coalizão ou até a um novo primeiro-ministro.

Para os israelenses poderem estar seguros, quem ocupar o poder precisará deixar de pensar nos palestinos como um problema que pode ser engavetado e começar a pensar neles como um povo que deve ser ouvido.  (Tradução de Guilherme Russo/Estadão)

Ao visitar Israel, Caetano e Gil notaram que a paz existente era “frágil e ilusória”

Gil e Caetano fizeram uma visita a Israel e à Cisjordânia

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Em 2015, após apelos de Roger Waters, ex-líder do Pink Floyd, e do bispo sul-africano (e Nobel da Paz) Desmond Tutu, para que cancelassem shows em Israel, Caetano Veloso e Gilberto Gil decidiram manter o que estava programado. Em resposta a Waters e seu movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções), Caetano expôs suas razões. Dizia ele na carta, em junho daquele ano:

“Eu preciso lhe dizer como meu coração é fortemente contra a posição de direita arrogante do governo israelense. Eu odeio a política de ocupação, as decisões desumanas que Israel tomou naquilo que Netanyahu nos diz ser sua autodefesa. E acho que a maioria dos israelenses que se interessam por nossa música tende a reagir de forma similar à política de seu país”.

EXPLICAÇÕES – “Eu cantei nos Estados Unidos durante o governo Bush e isso não significava que eu aprovasse a invasão do Iraque. Escrevi e gravei uma música que se opunha à política que levou à prisão de Guantánamo — e a cantei em Nova York e Los Angeles”, escreveu, acrescentando:

“Eu quero aprender mais sobre o que está acontecendo em Israel agora. Eu nunca cancelaria um show para dizer que sou basicamente contra um país, a não ser que eu estivesse realmente e de todo o meu coração contra ele. O que não é o caso. Eu me lembro que Israel foi um lugar de esperança. Sartre e Simone de Beuvoir morreram pró-Israel”.

Meses depois, por sugestão do compositor uruguaio Jorge Drexler, num encontro em Madri, Caetano aceitou o convite para uma visita à Cisjordânia, guiada por ativistas do grupo Break the Silence, formado por ex-soldados israelenses que serviram na Cisjordânia e se revoltaram com ordens que recebiam. Gil o acompanhou.

NA CISJORDÂNIA – O relato de Caetano sobre a visita foi publicado em novembro de 2015 pela Ilustríssima. O texto mescla impressões, nada animadoras, sobre a situação da Cisjordânia com reflexões a respeito dos radicalismos latentes.

“Vi muita loucura de ambos os lados”, resumiu numa passagem. Ao mesmo tempo, Caetano problematiza seus sentimentos sobre o país e Tel Aviv, cidade pela qual nutria espontânea simpatia. Lá, “perto mar, longe da cruz”, a sensação de paz era um alívio e um incômodo. A contradição é resumida pelo autor com o título de uma canção de Marcelo Yuka, do Rappa: “A paz que eu não quero”.

Diz o texto a certa altura: “Ao voltar ao Brasil, recebi e-mails com atualizações do “Breaking the Silence”. Numa das mensagens estava anexado um vídeo em que Nasser, o palestino com quem conversamos em Susiya, era surrado com pedaços de pau por jovens israelenses moradores de um assentamento”.

ILUSÃO DE PAZ – “É uma imagem brutal. Soldados do Exército de Israel assistem à cena impassíveis. Agora que uma terceira intifada se esboça –e que Netanyahu se vê isolado não só pela oposição mas também por correligionários que o acusam de não conseguir proteger Israel – constato, de longe, que a paz que eu julgava ver dentro de Tel Aviv – e que começava a pensar ser a paz que eu não quero – era, como, no entanto, eu sabia o tempo todo, frágil, superficial e ilusória”, assinala o cantor.

Oito anos se passaram, e em lance macabro dessa guerra que não começou ontem, a milícia terrorista Hamas promove uma inédita e inominável matança de civis israelenses —e usa concidadãos como escudo. Estranhamente apanhado de surpresa, o autocrático e extremista Netanyahu, há 13 anos no poder, ainda lidera o governo do país ao qual prometia paz com políticas criminosas.

É impossível ter esperança quanto a um bom desenlace para essa insanidade. Mas como diz um verso de Caetano, “coragem grande é poder dizer sim”. Que possamos dizer sim ao Estado de Israel e a seu direito de defesa e sim a um Estado palestino. Sobretudo sim a uma paz que não seja superficial e ilusória.

Conheça o discurso de Reagan que Cid gravou logo após Bolsonaro perder eleição

Reagan

Reagan fez um discurso apocalíptico que Mauro Cid adorou

Nicholas Shores
Veja

Dados do celular de Mauro Cid em poder da CPMI do 8 de Janeiro mostram que, poucos dias depois da vitória de Lula sobre Bolsonaro nas eleições de 2022, o então ajudante de ordens baixou um vídeo de um discurso em que Ronald Reagan anunciava uma “guerra” contra “o inimigo mais perigoso que já enfrentou a humanidade”.

“E foi dito que, se perdermos essa guerra e, assim fazendo, perdermos esse nosso caminho de liberdade, a história lembrará com o maior espanto que aqueles que mais tinham a perder foram os que menos fizeram para evitar que isso acontecesse”, diz o americano no pronunciamento salvo por Cid em seu celular.

ANTES DE SER ELEITO – Reagan fez o discurso em 27 de outubro de 1964, dezesseis anos antes de ser eleito para a Casa Branca, em um evento de campanha do candidato presidencial do Partido Republicano naquele ano, Barry Goldwater – que acabou derrotado pelo democrata Lyndon Johnson.

“Se perdermos a liberdade aqui, não há nenhum lugar para onde escapar. Esta é a última resistência na Terra”, afirma Reagan no fim do vídeo.

Cid baixou o conteúdo do perfil “Tradutor de Direita”, no X (ex-Twitter), que o havia publicado em 3 de novembro de 2022, às 19h45.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam como as aparências enganam… Um oficial do Exército, sempre primeiro colocado e que tinha tudo para ser “tríplice coroado” e chegar ao generalato, na prática demonstra ser um tremendo idiota, a ponto de acreditar numa fala apocalíptica de um político vulgar como Ronald Reagan, aquele que levou um tiro no pulmão e não queria fazer anestesia geral, com medo de passar a Presidência ao vice George Bush e não voltar ao poder. Esse Mauro Cid é um patético imbecil, mas, junto com sua família, ele sabe enriquecer ilicitamente sem ser apanhado. Coisas da política, como diz Pedro do Coutto. (C.N.)

O mundo testemunha uma tragédia de enormes consequências

A destruição em Shati, campo de refugiados da Faixa de Gaza

Pedro do Coutto

A partir do ataque do último sábado desfechado pelo Hamas contra Israel, gerando como consequência uma contraofensiva de Tel Aviv, assistimos um dos episódios que a cada dia se torna mais sangrento e mortal na história da humanidade. As mortes estão numa escala superior a de mil seres humanos por dia, e a tragédia se ampliará ainda mais com o cerco e a invasão terrestre da Faixa de Gaza pelas forças israelenses.

Reportagem de O Globo de ontem, quinta-feira, revela que 175 mil pessoas pediram refúgio à ONU na Faixa de Gaza, acrescentando esta face ao desespero que se alastra junto a dois milhões de habitantes cercados sem água, sem energia elétrica, sem alimentos e, portanto, sem atendimento médico de emergência. Os bombardeios se sucedem e as implicações internacionais se alastram, dividindo os países e suas tendências políticas em relação ao colossal conflito.

PRONUNCIAMENTO – Foi, sem dúvida, importante e exato, o pronunciamento do presidente Lula e a convocação para hoje, sexta-feira, do Conselho de Segurança da ONU para emergência. A força das armas, mais uma vez, escreve um capítulo trágico no caminho da humanidade. Não se vislumbra uma saída racional e humanitária para um conflito desencadeado a partir dos mísseis do Hamas e da resposta militar de Israel. A expectativa da invasão terrestre está sendo antecipada pelo bombardeio da área de Gaza.

As bombas e os foguetes da morte seguem seus rumos sinistros. Como sempre, em tais casos, sofrem os inocentes na angústia de sobreviver a uma batalha que ainda se encontra infeliz e trágica em seus primeiros capítulos. Desejamos todos que a solução seja encontrada e antecedida de uma carnificina total. O governo brasileiro está conseguindo repatriar cidadãos e cidadãs da região que se empenham desesperadamente para escapar dos estilhaços, do ódio, da fúria devastadora e da morte. Mas surgiram dificuldades na rota do Egito para os que se encontram perto da fronteira de Gaza com aquele país.

O mundo, neste momento, está unindo a sua energia positiva para que seja superado o pavor da destruição que está prevalecendo e que, no fundo, não levará à solução alguma, pois essa só pode ser alcançada numa rota voltada para o cessar fogo e para a paz. Acompanhando-se as reportagens da GloboNews, da CNN e da TV Globo, pode-se constatar a dimensão das ações para destruir e não a de assegurar a existência de milhões de seres humanos.

INFLAÇÃO – Com os dados do IBGE sobre os índices de setembro, 0,26%, o processo inflacionário brasileiro atingiu 5,2% ao longo dos últimos 12 meses. Mais uma vez, os assalariados perdem poder aquisitivo. Porém, o senador Eduardo Braga, relator do projeto de Orçamento para 2024, incluiu em seu parecer um dispositivo determinando que a escala tributária brasileira se mantenha na altura média de 14% do Produto Interno Bruto.

O projeto de reforma já passou pela Câmara e deve ser votado no Senado até 9 de novembro, como revela Geralda Doca, no O Globo. O senador Eduardo Braga formulou o cálculo com base na incidência de 14% sobre um PIB de R$ 6,5 trilhões, e inclui a incidência das alíquotas de acordo com o grau de essencialidade dos produtos. Essa solução é inspirada na Resolução 70 da antiga Sumoc, da qual teve origem o Banco Central em setembro de 1953 no momento em que Oswaldo Aranha era ministro da Fazenda.

Governo divulga nota tentando “explicar” por que não chama Hamas de terrorista

Lula acerta sobre universitários e erra sobre Mais Médicos - 22/07/2022 -  Poder - Folha

De óculos escuros devido à plástica, Lula enxerga mal…

Luísa Marzullo
O Globo

Desde o início dos conflitos em Israel, iniciados no último sábado, o governo brasileiro tem sido cobrado por parlamentares da oposição para enquadrar o Hamas como grupo terrorista. Em resposta a esta pressão, o Ministério das Relações Exteriores emitiu nesta quinta-feira um comunicado explicando o motivo pelo qual o país não estar utilizando esta classificação.

Na nota publicada pelo Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores esclarece que segue o critério estabelecido pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

LISTA INCOMPLETA – “O Conselho de Segurança mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público”, diz trecho do pronunciamento.

O texto também afirma que o país “repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações” e que a prática brasileira “habilita o país a contribuir, juntamente com outros países ou individualmente, para a resolução pacífica dos conflitos”.

O movimento do Itamaraty ocorre em meio às pressões. Na última quarta-feira, um grupo de 61 parlamentares enviou um requerimento ao ministro Mauro Vieira, pedindo para que o Brasil classifique o Hamas como terrorista.

ÍNTEGRA DA NOTA – Em aplicação dos princípios das relações internacionais previstos no Artigo 4º da Constituição, o Brasil repudia o terrorismo em todas as suas formas e manifestações. No tocante à qualificação de entidades como terroristas, o Brasil aplica as determinações feitas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, órgão encarregado de velar pela paz e pela segurança internacionais, nos termos do Artigo 24 da Carta da ONU.

O Conselho de Segurança mantém listas de indivíduos e entidades qualificados como terroristas, contra os quais se aplicam sanções. Estão incluídos o Estado Islâmico e a Al-Qaeda, além de grupos menos conhecidos do grande público.

A prática brasileira, consistente com a Carta da ONU, habilita o país a contribuir, juntamente com outros países ou individualmente, para a resolução pacífica dos conflitos e na proteção de cidadãos brasileiros em zonas de conflito – a exemplo do que ocorreu, em 2007, na Conferência de Anápolis, EUA, com relação ao Oriente Médio.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A resposta do Brasil é ardilosa, porque a relação da ONU foi feita muito antes desse ato terrorista do Hamas, um dos maiores da História.  Atualmente, a ONU confere esta classificação aos grupos Al Qaeda, Talibã e o Estado Islâmico. Porém, Estados Unidos, Reino Unido e Japão são alguns dos territórios que vão na contramão da ONU e já reconhecem o Hamas como grupo terrorista. (C.N.)