
Barroso “esqueceu” o que falou, mas está tudo gravado
André Marsiglia
Poder360
No último fim de semana, o Supremo Tribunal Federal, por meio de seu presidente, ministro Luís Roberto Barroso, decidiu se manifestar oficialmente contra uma reportagem da revista britânica “The Economist”, publicada na semana anterior. A nota oficial, que pretendia ser um desagravo institucional, revelou-se um tiro no pé.
Em vez de mostrar força e institucionalidade, a resposta de Barroso, tentando – sem conseguir – rebater ponto a ponto da matéria, revelou uma fragilidade desconcertante, quase adolescente, de quem não suporta ouvir críticas e corre às redes sociais para dizer “não é bem assim”.
INVERDADES – Pior, a nota ainda traz inverdades, como a negativa de que o próprio ministro teria dito, em outro momento, “nós derrotamos o bolsonarismo”. Ora, está gravado. Está documentado. Está dito. Na internet, pode-se ver ao vivo e a cores que está dito.
E “The Economist” fez nada mais do que apontar o óbvio: o STF se tornou um tribunal político, engajado, e não mais um árbitro constitucional. Na nota, o ministro diz ainda que a publicação “reproduz a narrativa daqueles que tentaram o golpe de Estado”.
Ora, se a tentativa de golpe está ainda sendo julgada pelo próprio Supremo, como pode a Corte, em nota, afirmar que o crime existiu e que determinados indivíduos são responsáveis? Que tribunal sério antecipa suas próprias decisões em comunicados à imprensa?
BARROSO MENTE – O revide de Barroso apenas reforça e justifica a matéria da revista britânica. Não pode desmentir o que disse e está gravado. E não é a primeira vez.
Em janeiro de 2025, o mesmo ministro Barroso havia publicado artigo no Estadão, rebatendo críticas do jornal ao STF. Agora, faz o mesmo com a imprensa internacional.
Por que tanto incômodo? Porque a pressão internacional, mais difícil de silenciar do que perfis no X, começa a ganhar força. Não é mais só o Brasil que percebe excessos, arroubos e erros do STF. E a Corte, que se acostumou ao silêncio dos que temem, começa a ouvir o barulho dos que não devem.
UM LADO POSITIVO – Essa exposição internacional, por mais constrangedora que possa ser ao Brasil – e é –, tem um lado positivo. Ela pode ser o empurrão que faltava para que o STF recue.
E para que o tribunal pare de legislar, pare de intimidar, pare de militar. Para que volte ao seu papel original, o único que lhe cabe: interpretar a Constituição, conforme o que está escrito lá.
Se não o fizer, o STF seguirá sendo exposto cada vez mais a um ridículo internacional. A lição que essa nota nos dá é que o STF não está forte; ao contrário – está frágil, isolado. E, agora, sendo observado pelos olhos do mundo.
O que esperar do “perdeu, mané”?
Um judiciário tão ineficiente quanto perdulário, pomposo e hipertrofiado.
Inútil cabide político de vitalícios sanguessugas poderosos.
Balcão de comércio que não se restringe ao Mato Grosso do Sul ou à Bahia.
É isso.
Bolsonaro, politicamente, já morreu.
Mas o bolsonarismo segue vivo, especialmente no seio de uma imprensa tão mórbida quanto decadente.
Ou o articulista não percebeu que estivemos à beira de um desastre político sem fim, ou nele se refastela.