Como nascem as manhãs para aquela menina que corria ao vento…

Flora Figueiredo - a poética da vivência | Templo Cultural Delfos

Flora Figueiredo, poeta paulista

Paulo Peres
Poemas & Canções

A tradutora, cronista e poeta paulista Flora Figueiredo mergulha no silêncio da noite para nos mostrar como nascem as manhãs daquela menina, na sua poética visão.

COMO NASCEM AS MANHÃS
Flora Figueiredo

O fundo dos olhos da noite
guarda silêncios.
Esconde na retina
a menina que corre descalça
em campo aberto.

Pálpebras cerradas,
a noite emudece.
A menina com medo
faz um furo no escuro
 com a ponta do dedo.

Cai um pingo de luz.
Amanhece.

A inesquecível palhoça de J. Cascata não tem igual no mundo…

ARQUIVO MARCELO BONAVIDES - Estrelas que nunca se Apagam - : ORLANDO SILVA  CANTA J. CASCATA E LEONEL AZEVEDO

J. Cascata, grande seresteiro carioca

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Álvaro Nunes (1912-1961), conhecido por J. Cascata, expressa na letra de “Minha Palhoça” um bonito, bucólico e romântico convite para a pessoa amada. Este samba de breque foi gravado pela primeira vez por Sylvio Caldas, em 1935, pela Odeon.

MINHA PALHOÇA
J.
Cascata

Se você quisesse
Morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira
Cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada 
Abençoar nossa união

Tem um cavalo
Que eu comprei em Pernambuco
E não estranha a pista
Tem jornal, lá tem revista
Uma kodak para tirar nossa fotografia
Vai ter retrato todo dia
Um papagaio que eu mandei vir do Pará
Um aparelho de rádio-batata
E um violão que desacata

Meu Deus do céu que bom seria..
Se você quisesse
Morar na minha palhoça
Lá tem troça, se faz bossa
Fica lá na roça à beira do riachão
E à noite tem um violão
Uma roseira
Cobre a banda da varanda
E ao romper da madrugada
Vem a passarada 
Abençoar nossa união

Tem um pomar
Que é pequenino,
É uma teteia
É mesmo uma gracinha
Criação, lá tem galinha
Um rouxinol
Que nos acorda ao amanhecer
Isso é verdade pode crer
A patativa
Quando canta faz chorar
Há uma fonte na encosta do monte
A cantar chuá-chuá…     

A chuva lava a cidade e molha os olhares que seguiam a poesia

Soneto | Ana Cristina Cesar | Sonoridade LiteráriaPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. O poema “Chove” descreve uma tarde chuvosa e, enquanto a cidade se lava, no coração da poeta passava a chuva dos olhares que a seguiam.

CHOVE
Ana Cristina Cesar

A chuva cai.
Os telhados estão molhados,
Os pingos escorrem pelas vidraças.
O céu está branco,
O tempo está novo.
A cidade lavada.
A tarde entardece,
Sem o ciciar das cigarras,
Sem o jubilar dos pássaros,
Sem o sol, sem o céu.
Chove.
A chuva chove molhada,
No teto dos guarda-chuvas.
Chove.
A chuva chove ligeira,
Nos nossos olhos e molha.
O vento venta ventado,
Nos vidros que se embalançam,
Nas plantas que se desdobram.
Chove nas praias desertas,
Chove no mar que está cinza,
Chove no asfalto negro,
Chove nos corações.
Chove em cada alma,
Em cada refúgio chove;
E quando me olhaste em mim,
Com os olhos que me seguiam,
Enquanto a chuva caía
No meu coração chovia
A chuva do teu olhar.

Preste atenção, o mundo é um moinho, vai triturar teus sonhos, tão mesquinho…

Cartola e Beth Carvalho, parceria fundamental para o samba (Foto: arquivo pessoal)

Beth Carvalho fez a primeira gravação

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Agenor de Oliveira (1908-1980), mais conhecido como Cartola, considerado por diversos músicos e críticos como o maior sambista da história da música brasileira, ao compor “O Mundo é um Moinho” originou algumas discussões sobre o significado da letra.

Segundo alguns críticos, Cartola teria feito essa música para sua enteada, filha de Dona Zica, que teria o propósito de sair de casa para se prostituir. Ao ouvir os versos escritos pelo mestre, percebe-se o quão plausível pode ser essa versão da lenda. Contudo, há quem defenda que a letra seja mesmo para a enteada, mas motivada por uma decepção amorosa dela.

O samba “O Mundo é um Moinho” foi gravado por Beth Carvalho e depois por Cartola.

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O MUNDO É UM MOINHO
Cartola

Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó

Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

Em determinadas fases da vida, os solavancos do amor nos fazem reagir

Vicente Limongi Netto – JpRevistas

Limongi mora em Brasilia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, expõe tudo o que acarreta “Os Solavancos do Coração”, diante de certos acontecimentos cotidianos que nos levam a reagir.

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SOLAVANCOS DO CORAÇÃO
Vicente Limongi Netto
O sol é forte
o mar sublinha
a vida acelera
o namoro constrói
o beijo alimenta
o pulmão fraqueja
o olhar perturba
o vento amarga
o menino sorri
o viajante sonha
a vida não descansa
o pássaro corteja
os cabelos ardem
o humor acentua
a fuga é sombria
adormece desafios
sou áspero
o ódio apodrece
e eu enterro sombras.

Suassuna e a juventude eterna de quem era contra a morte…

Eu digo sempre que das três virtudes... Ariano Suassuna - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, romancista e poeta paraibano Ariano Vilar Suassuna (1927-2014) explica, sob a forma de soneto, as razões que o levavam a nunca envelhecer.

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ABERTURA SOB PELE DE OVELHA
Ariano Suassuna

Falso Profeta,Insone, Extraviado,
Vivo, Cego, a sondar o Indecifrável:
e, jaguar da Sibila – inevitável,
meu Sangue traça a rota desse Fado.

Eu, forçado a ascender, eu, Mutilado,
busco a Estrela que chama, inapelável.
E a pulsação do Ser, fera indomável,
arde ao Sol do meu Pasto – incendiado.

Por sobre a Dor, Sarça do Espinheiro
que acende o estranho Sol, sangue do ser,
transforma o sangue em Candelabro e Veiro.

Por isso, não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero,
sou contra a Morte e nunca hei de morrer.

O dilema do poeta Antonio Cícero, em busca da profundidade de sua alma

Minha vida se tornou insuportável', escreveu Antonio Cicero antes de  suicídio assistido; leia carta completa | Cultura | cbn

Cicero era membro da Academia de Letras

O filósofo, escritor, compositor e poeta carioca Antonio Cícero Correa de Lima (1945-2024) reconhece, em poucos versos, ter um dilema existencial que o confundia bastante.

DILEMA
Antonio Cícero

O que muito me confunde
é que no fundo de mim estou eu
e no fundo de mim estou eu.
No fundo
sei que não sou sem fim
e sou feito de um mundo imenso
imenso num universo
que não é feito de mim.
Mas mesmo isso é controverso
se nos versos de um poema
perverso sai o reverso.
Disperso num tal dilema
o certo é reconhecer:
no fundo de mim
sou sem fundo.

Fiquem atentos aos primeiros sinais do que está para acontecer conosco 

Como Você Sabe Que Está no Caminho Certo? | Sinais de Que Você Está no Caminho Certo - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções

O administrador de empresa e poeta carioca Marcos Fernandes Monteiro, conhecido como Coquito, na letra de “Contagem Regressiva”, parceria com Johnny do Matto, personifica-se de profeta e alerta para os primeiros sinais. A música “Contagem Regressiva” foi gravada por Johnny do Matto no CD Parcerias, em 2009, produção independente.

CONTAGEM REGRESSIVA
Johnny do Matto e Cokito

Fique atento aos primeiros sinais
Movimentos celestes
A chegada das pestes
Mensagens astrais

Fique atento aos primeiros sinais
Caso a lua se vá
Sem querer mais voltar
E o sol também for
E levar seu calor

Fique atento aos primeiros sinais
Só restará uma prece
E é bom que se apresse
Pois a estrela cadente
Desce incandescente
Anunciando a matança

Mas ainda há esperança
Na força de um grito
Que leve ao infinito
Toda a redenção
De um novo ser humano
Em um novo plano
Através da lição
Em um novo mundo
Na recriação

Augusto dos Anjos desafiava quem pudesse domar um coração de poeta

Se algum dia o amor vier me procurar,... Augusto dos Anjos - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, professor e poeta paraibano Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (1884-1914) admitia que seu coração era ”Vencedor”, porque ninguém pode domar um coração de poeta.

VENCEDOR
Augusto dos Anjos

Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração – estranho carniceiro!

Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma,
Nenhum pode domar o prisioneiro.

Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois de um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,

Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem…
E não pude domá-lo, enfim, ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!

Nos olhos da amada, um grande momento do poeta Augusto Frederico Schmidt

Augusto Frederico Schmidt – poemas

Schmidt criava um galo de estimação em casa 

Paulo Petes
Poemas & Canções

O poeta, editor, diplomata e empresáriio carioca Augusto Frederico Schmidt (1906-1965) revela que um grande momento acontecia romanticamente para ele, quando seus olhos conseguiam entrar pela noite fresca dos olhos da amada.

O GRANDE MOMENTO
Augusto Frederico Schmidt

A varanda era batida pelos ventos do mar.
As árvores tinham flores que desciam para a
morte, com a lentidão das lágrimas.
Veleiros seguiam para crepúsculos com as
asas cansadas e brancas se despedindo,
O tempo fugia com uma doçura jamais de
novo experimentada
Mas o grande momento era quando os meus
olhos conseguiam
entrar pela noite fresca dos seus olhos…

E quando o poeta já não tem palavras para descrever seu amor inalcançável?…

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, folclorista, ensaísta e poeta gaúcho Augusto Meyer (1902-1970) confessa no poema “Gaita” que já não tem mais palavras, porque seu amor está levando a sua vida, diante da impassividade de seu orgulho.

GAITA
Augusto Meyer

Eu não tinha mais palavras,
Vida minha,
Palavras de bem-querer;
Eu tinha um campo de mágoas,
Vida minha,
Para colher.

Eu era uma sombra longa,
Vida minha,
Sem cantigas de embalar;
Tu passavas, tu sorrias,
Vida minha,
Sem me olhar.

Vida minha, tem pena,
Tem pena da minha vida!
Eu bem sei que vou passando
Como a tua sombra longa;
Eu bem sei que vou sonhar
Sem colher a tua vida,

Vida minha,
Sem ter mãos para acenar,
Eu bem sei que vais levando
Toda, toda a minha vida,
Vida minha, e o meu orgulho
Não tem voz para chamar.

Uma seresta de David Nasser e Benedito Lacerda que jamais será esquecida

DAVID NASSER | Aidacuri

David Nasser, grande jornalista e compositor

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, escritor e letrista paulista David Nasser (1917-1980), autor de diversos clássicos do nosso cancioneiro popular, entre os quais “Normalista”, cujo teor poético revela paixão por uma encantadora estudante. O samba-canção “Normalista” foi gravado por Nelson Gonçalves, em 1949, pela RCA Victor.

NORMALISTA
Benedito Lacerda e David Nasser

Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
Num rostinho encantador
Minha linda normalista
Rapidamente conquista
Meu coração sem amor
Eu que trazia fechado
Dentro do peito guardado
Meu coração sofredor
Estou bastante inclinado
A entregá-lo aos cuidados
Daquele brotinho em flor
Mas a normalista linda
Não pode casar ainda
Só depois que se formar
Eu estou apaixonado
O pai da moça é zangado
E o remédio é esperar.

Envelhecer jovem como Bastos Tigre, o bem-humoradol poeta pernambucano

Veredas da Língua: Bastos Tigre – PoemasPaulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, bibliotecário, humorista, jornalista, compositor e poeta pernambucano Manoel Bastos Tigre (1882-1957) explica no soneto “Envelhecer” que cada etapa da vida tem a sua juventude apropriada.

ENVELHECER
Bastos Tigre

Entra pela velhice com cuidado,
Pé ante pé, sem provocar rumores
Que despertem lembranças do passado,
Sonhos de glória, ilusões de amores.

Do que tiveres no pomar plantado,
Apanha os frutos e recolhe as flores
Mas lavra ainda e planta o teu eirado
Que outros virão colher quando te fores.

Não te seja a velhice enfermidade!
Alimenta no espírito a saúde!
Luta contra as tibiezas da vontade!

Que a neve caia! O teu ardor não mude!
Mantém-te jovem, pouco importa a idade!
Tem cada idade a sua juventude.

A bem-humorada propaganda eleitoral do poeta Belmiro Braga

CULT Belmiro Braga1 1

Belmiro Braga, grande poeta mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O poeta Belmiro Ferreira Braga (1872-1937), nascido em Vargem Grande (MG), fez através deste soneto a sua “Propaganda Eleitoral” e, por incrível que pareça, foi eleito, mas não assumiu, embora, em sua homenagem, seu local de nascimento tenha recebido seu nome após ser elevado à categoria de município, passando a ser chamado Belmiro Braga.

PROPAGANDA ELEITORAL
Belmiro Braga

Meu caro Coronel Martins Ferreira,
candidato extrachapa a deputado
ao congresso da Câmara Mineira,
desejo ser aí o mais votado.

A minha fé de ofício é de primeira.
Vale por um programa o meu passado,
e no congresso não direi asneira
todas as vezes…que ficar calado.

Fui caixeiro, depois fui negociante,
e do torrão natal, representante,
agora aspiro a ser como escrivão;

E, eleito, espero, mas que maravilha!
ser pai da Pátria e receber da filha
todo o subsídio, quer trabalhe ou não…

Em busca do amor, a gente briga e diz tanta coisa que não quer dizer…   

Dolores Duran - Coletânea

Dolores Duran, a rainha do samba-canção

Paulo Peres
Poemas & Canções

A cantora e compositora carioca Adiléa da Silva Rosa (1930-1959), conhecida como Dolores Duran, foi uma das maiores representantes do samba-canção, gênero musical onde prevaleciam a “fossa e a dor de cotovelo” nos anos 50, conforme a letra de “Castigo”, que expõe o arrependimento pela perda de um amor. O samba-canção “Castigo” foi gravado por Roberto Luna no LP “Luna Canta para Você”, lançado em 1958, pela RGE. Dolores morreu aos 29 anos e deixou uma obra vastíssima.

CASTIGO
Dolores Duran

A gente briga, diz tanta coisa que não quer dizer
Briga pensando que não vai sofrer
Que não faz mal se tudo terminar

Um belo dia a gente entende que ficou sozinho
Vem a vontade de chorar baixinho
Vem o desejo triste de voltar

Você se lembra, foi isso mesmo que se deu comigo
Eu tive orgulho e tenho por castigo
A vida inteira pra me arrepender

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria esse ser que chora
Eu não teria perdido você

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria essa mulher que chora
Eu não teria perdido você

Um poema muito especial, em homenagem a Altamiro Carrilho

Altamiro Carrilho morre aos 87 anos - OFuxico

Altamiro foi o melhor dos melhores

Paulo Peres
Poemas & Canções

A poeta carioca Marina Fairth (1951-2013), no poema “Brasileiro Altamiro Carrilho”, homenageou seu pai, o saudoso e genial músico e  compositor Altamiro Carrilho (1924-2012), que gravou mais de cem discos, compôs cerca de duzentas músicas, tendo se apresentado em mais de quarenta países difundindo o choro brasileiro. “É o flautista com maior número de gravações registradas na história do disco no Brasil”, segundo os críticos, “além de ser um dos maiores flautistas da história do instrumento”, como reconhecia o músico francês Jean Pierre Rampal, que considerava Altamiro como o melhor flautista do mundo.

BRASILEIRO ALTAMIRO CARRILHO
Marina Fairth

Que bom que tenha nascido brasileiro!
E que sua missão fosse a de sempre estar
à frente de todos os passos
que fariam de nossa música
obra de arte de valor incalculável!

Embora seja simples seu modo de se apresentar,
torna tudo aquilo que concebe em realidade.
Faz da sonata um choro leve;
do samba uma festa!
Dos hinos uma euforia,
do maxixe fantasia!
E dos clássicos … uma ode à eterna esperança
vestindo-se de criança
brincando com o Carinhoso em forma de sinfonia!

Que prodígio é este menino!
60 anos brincando de fazer música:
compondo, executando com magistral beleza,
deixando que sua natureza
se manifeste em seu som
tirado da flauta e do flautim,
fazendo um grande festim
das bodas da harmonia com o brilho do artista!

Altamiro – Brasileiro Carrilho!
Que fala a linguagem universal,
porém única em seu particular sonho criativo,
tornando-se mito em sua terra e nas terras de além-mar!

Altamiro, com orgulho ofereço
esta página que é minha,
que reflete o meu carinho,
minha honra em ter nascido uma filha
do brasileiro Altamiro!

Deus te abençoe, meu pai,
pelo muito que tem feito,
por ter tirado proveito
do dom sagrado que Deus lhe deu.
E por estar cumprindo honrosamente sua missão neste mundo:
Fazer brilhar a Luz de Deus através de sua música.

O mar retratado por Dorival Caymmi tinha muita beleza e realismo

Agenda cultural: Secult celebra o centenário de Dorival Caymmi | Portal do  Servidor Público da BahiaPaulo Peres
Poemas & Canções

O violonista, cantor, pintor e compositor baiano Dorival Caymmi (1914-2008) construiu sua obra inspirado pelos hábitos, costumes e tradições do povo baiano, tanto que desenvolveu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica.

A letra de “O Mar” relata a tragédia de Pedro, símbolo do pescador que (quando sai, nunca sabe se volta) e de Rosinha, a mulher sofrida que (vive na beira da praia) e enlouquece ao constatar que Pedro não volta mais.

“A canção “O Mar” foi gravada por Dorival Caymmi no LP Caymmi e o Mar, em 1957, pela Odeon.

O MAR
Dorival Caymmi

O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito
O mar… pescador quando sai
Nunca sabe se volta, nem sabe se fica
Quanta gente perdeu seus maridos seus filhos
Nas ondas do mar
O mar quando quebra na praia
É bonito, é bonito

Pedro vivia da pesca
Saia no barco
Seis horas da tarde
Só vinha na hora do sol raiá
Todos gostavam de Pedro
E mais do que todas
Rosinha de Chica
A mais bonitinha
E mais bem feitinha
De todas as mocinha lá do arraiá

Pedro saiu no seu barco
Seis horas da tarde
Passou toda a noite
Não veio na hora do sol raiá
Deram com o corpo de Pedro
Jogado na praia
Roído de peixe
Sem barco sem nada
Num canto bem longe lá do arraiá

Pobre Rosinha de Chica
Que era bonita
Agora parece
Que endoideceu
Vive na beira da praia
Olhando pras ondas
Andando rondando
Dizendo baixinho
Morreu, morreu, morreu, oh…
O mar quando quebra na praia.

No Dia do Poeta, um soneto autobiográfico de Efigênia Coutinho

Efigenia Coutinho (Mallemont)

Efigênia, em sua Antologia de 2014

Paulo Peres
Poemas & Canções

Hoje é o Dia do Poeta e, para marcar a data, publicamos a definição de “Ser Poeta”, na visão da artista plástica e poeta Efigênia Coutinho, nascida em Petrópolis (RJ). A seu ver, a poesia será sempre um meio de comunicação de sentimentos na escrita. “Tenho um ritmo pessoal, operando desvios de ângulos, mas sem perder de vista a tradição, procurando atingir o núcleo da ideia essencial, a imagem mais direta possível, abolindo as passagens intermediárias”, revela.

SER POETA
Efigênia Coutinho

A noite sempre cálida me espera,
Tenho em versos a recente emoção
Da inquietude que abraça a quimera,
Enquanto no meu peito pulsa a oração.

A noite ouve o acalanto, esta voz
Que brada a rima solta, e então viajo;
E busco o sopro terno do ninar em nós,
Onde se farta o frêmito voraz, que trajo.

Lá, ao vento espalhado, e envolto,
Meu verso solto, que diz: mortal, eu sou
Na arte que te fecunda e faz envolto…

Porque ser poeta é ser alguém que embelezou
A prosa e o lado vil do caso vário,
E deu-se a Deus que equilibra este rosário.

A estranhíssima força da alma, na visão de Abel Silva e Sueli Costa

Abel Silva Oficial - YouTube

Abel Silva, grande compositor brasileiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O professor, jornalista, escritor e compositor Abel Ferreira da Silva, nascido em Cabo Frio (RJ), em parceria com Sueli Costa, explica as diferentes características que a “Alma” possui. A música foi lançada pela Simone no LP Corpo e Alma, em 1982, pela Sony/CBS.

Recentemente, Abel Silva lançou um livro contando como surgiram suas parcerias, que redundaram em belíssimas composições.  

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ALMA
Sueli Costa e Abel Silva

Há almas que têm
as dores secretas
as portas abertas
sempre pra dor

Há almas que têm
juízo e vontades
alguma bondade
e algum amor

Há almas que têm
espaços vazios
amores vadios
restos de emoção

Há almas que têm
a mais louca alegria
que é quase agonia
quase profissão

A minha alma tem
um corpo moreno
nem sempre sereno
nem sempre explosão

Feliz esta alma
que vive comigo
que vai onde eu sigo
o meu coração

A vida de gado que Zé Ramalho denunciou continua cada vez mais atual

A música e a poesia de Zé Ramalho

Zé Ramalho, grande nome da MPB

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paraibano José Ramalho Neto, mais conhecido como Zé Ramalho, em 1979 lançou o LP A Peleja do Diabo Com o Dono do Céu, pela EPIC/CBS, em que a música “Admirável Gado Novo” destacou-se como sucesso, mormente, pela crítica que sua letra fazia à ditadura militar e ao conformismo da maior parte do povo, comparado ao gado, “povo marcado, povo feliz”. Povo (massa) que paga impostos (dá muito mais do que recebe).

O povo espera sempre o melhor, porém não tem consciência da sua força, do seu poder, especialmente, através do voto, visto que a mudança depende dele mesmo. A ditadura militar acabou, mas a letra da música continua bastante atual, diante do quadro econômico-político-social vigente no país.

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ADMIRÁVEL GADO NOVO
Zé Ramalho

Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou!
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!

O povo foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores tempos idos
Contemplam esta vida numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo se acabar
A arca de Noé, o dirigível,
Não voam, nem se pode flutuar
Êh, oô, vida de gado
Povo marcado
Êh, povo feliz!